Hoje, muitas destas distinções são uma ofensa aos portugueses, que trabalham, pagam os seus impostos, pagam as suas dívidas e fazem sacrifícios todos os dias para honrarem os seus compromissos. Na verdade, estes “bons gestores” ou “milionários”, quando são chamados a pagar as suas dívidas ou rombos, não têm bens, nem dinheiro. Os “Berardos” em Portugal são, afinal, tesos, mas mágicos, pois conseguem fazer aparecer fortunas que não existem, fazer desaparecer as suas dívidas reais e ainda fintar a justiça, que deveria estar cada vez mais preparada para este tipo de crimes.

Quero relembrar a história e as consequências da maior fraude do século XX, congeminada por Artur Alves Reis, e que levou à maior falsificação de notas em Portugal (cerca de 1% do PIB). Foi preso em 1925 e julgado três anos depois, com uma pena de prisão de 20 anos. Morreu pobre.

Tenho ideia do esquema em pirâmide nos anos 80, denominado “Dona Branca”, a banqueira do povo, em que a ganância de muitos alimentou um negócio ilegal e não regulado, que acabou mal para muitos portugueses. Muitos pagaram cara a ganância. “Dona Branca” foi presa preventivamente em 1984 e, após o julgamento, foi condenada a 10 anos de prisão. Morreu na miséria e foram ao seu funeral apenas cinco pessoas.

Questiono-me, frequentemente, o que poderei transmitir aos meus filhos sobre o tema da corrupção e do crime de “colarinho branco”?

Gostaria de lhes dizer que, em Portugal, todos os que praticam crimes financeiros e de “colarinho branco” são presos, sem dó nem piedade, tal como aconteceu a Maddof nos EUA.

É que, em Portugal, o sistema deixou de funcionar no essencial e no simbólico. Temos banqueiros que, depois de vários anos passados sobre a falência dos seus bancos, pelas razões que todos sabemos e que são públicas, nada lhes acontece. Continuam a viver nas suas mansões milionárias, fazem férias luxuosas, viajando nos seus jatos privados. Neste jardim à beira mar plantado, de brandos costumes, até já tivemos o Comendador Joe Berardo no Parlamento a gozar com todos nós, afirmando em direto na televisão, que não vai pagar os 1000 milhões de euros que deve à banca. E no final, mais uma vez, nada acontece, porque ao que parece a justiça não teve tempo para ouvir a sua deplorável audição. Numa sociedade digital e 4.0, parece que ainda vão ter de transcrever toda a audição para um documento word, para depois o juiz a ler e, daqui a uns meses, efetuar as devidas diligências. Está tudo dito…

Sinceramente, preferia as histórias do conto do vigário que o meu avô (paterno) me contava, onde nos transmitia que um larápio tanto era o aldrabão que tentava enganar, como o ganancioso que caia na vigarice para daí tirar proveitos indevidos.

O meu avô, nos últimos dias da sua vida, repetia-me, insistentemente, que a melhor herança que eu poderia deixar aos meus filhos era o meu bom nome. Ficou-me gravado na memória e tento cumprir esse objetivo todos os dias. A ganância e a falta de valores e princípios são hoje a origem de muitos dos problemas na nossa sociedade. Há ainda quem pense que o dinheiro compra tudo, mas o bom nome de uma pessoa tem, de facto, um valor intangível. O meu avô Joaquim foi, para mim, uma referência na ética e nos valores. Ele, e todos os que são assim uma vida inteira, são merecedores de uma verdadeira comenda.

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