É claro que Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e António Costa insistem na estratégia da maioria absoluta, mas no ponto em que estamos, essa retórica só os pode descredibilizar. Aos três. Simplesmente porque ninguém acredita que tal seja possível e, por isso, é tão realista como Luís Filipe Vieira e Rui Vitória anunciarem como prioridade a vitória do Benfica na Champions. Salvo uma hecatombe de um dos lados até ao dia 4, o que já se percebeu é que o dia mais importante é mesmo o de 5.
Habituamo-nos a pensar no dia do voto e a ‘desligar’, mas estas eleições prenunciam outra história. E isso deveria obrigar os três líderes – e Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, sim – a dizerem ao que admitem ir.
Até agora, aceitámos candidamente que os três líderes respondam com a fórmula politicamente correta. ‘Não falámos de coligações porque queremos a maioria absoluta’, respondem quase invariavelmente. Costa foi mais longe, mas arrependeu-se, o que fala, por si, da sua consistência. Anunciou que chumbará no Parlamento um Orçamento do Estado da coligação, um orçamento que não conhece, diga-se de passagem. Passos Coelho e Portas, por seu lado, insistem em entendimentos para a Segurança Social, sim, mas percebe-se a milhas que querem dar um ‘abraço do urso’ a Costa.
Na verdade, as diversas sondagens que saíram nas últimas semanas deveriam ser suficientes para os partidos acrescentarem mais alguma coisa ao seu discurso do que o pedido de maiorias absolutas.
Nas próximas duas semanas, os cinco líderes com possibilidade de participarem em governos deveriam ser massacrados até aceitarem responder à seguinte questão: se ganharem sem maioria, estão disponíveis para coligações ou para acordos parlamentares? Em que condições?
Para ser justo, Catarina Martins já pôs as suas condições nas mãos de Costa. Se não responderem, estaremos na prática a passar um cheque em branco ao vencedor e depois não poderemos exigir nada, e teremos de aceitar qualquer coisa.
Para os eleitores do PS, é igual uma coligação com o Bloco de Esquerda ou com o PP? Será? No dia seguinte a uma derrota, a coligação extingue-se, ‘regressam’ o PSD e o PP, por isso, é possível antecipar várias quadraturas do círculo. Não querem saber o que Passos Coelho e Portas consideram inadmissível? Há linhas vermelhas a traçar de um lado e do outro?
Não haverá maiorias absolutas, o que torna a necessidade de estabilidade política mais premente, e mais difícil de assegurar. Mas a estabilidade política não nasce das árvores, precisa de ser trabalhada, precisa no mínimo de não ser posta em causa antes das eleições.
Notas:
Aí está, os gregos voltaram a dar uma vitória a Tsipras. Sim, o Syriza ganhou no início do ano com a promessa de que acabaria com a austeridade, quase levou o país à bancarrota, negociou um novo programa de ajustamento e ganhou outra vez as eleições. É difícil perceber a lógica, mesmo tendo em conta o desastre eleitoral do mais radicais entre os radicais que saíram do Syriza. A semana de negociações vai ser longa, e pode acompanhar aqui, no Financial Times , o que são os obstáculos do novo Governo (site pago).
Em tempo de campanha eleitoral, a leitura do livro Os predadores, do jornalista Vítor Matos, é imperdível. Como os políticos se servem do Estado, para si e para os seus, como os partidos tomam conta dos lugares da administração pública, central e local. Os predadores, com a chancela do Clube do Autor, relata a tragédia da nossa Democracia, e como um Estado pesado é sobretudo uma tentação. Leiam antes de votarem no próximo dia 4 de Outubro.
E nos Emmys, o que é que aconteceu? Aconteceu HBO, com 43 prémios, 12 dos quais para a Guerra dos Tronos. Na noite da televisão, muitas das séries premiadas passam nos canais portugueses. E pode saber aqui, no Sapo24, a lista dos vencedores.
Tenha uma boa semana, eu regresso na próxima segunda-feira.
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