É bom ver as pessoas com livros nas mãos. É bom saber que, todos os anos, o Folio Festival Literário de Óbidos acontece e cada vez com maior adesão. É especialmente bom este ano, porque a pandemia trouxe-nos tantos dissabores que qualquer actividade cultural me surge como um brilho extra. Por isso, foi comovente estar ali, no último domingo, e perceber o entusiasmo das pessoas, as salas cheias apenas pelo prazer de ouvir um ou outro autor. Este ano, o tema é O Outro e talvez seja o mais apropriado de todos os temas se considerarmos os tempos que vivemos.
"Queremos falar do Outro na diversidade dos tons de pele, do género, da origem, da pertença, das línguas – na diversidade da própria língua portuguesa. Sem esquecer a liberdade de expressão, o racismo, a violência e a família. E porque o Folio é um festival literário que discute ideias e política, gerador de desconforto e estimulante do pensamento, convidámos romancistas, poetas, contistas, ensaístas e historiadores com diferentes perspectivas e opiniões", afirmam os curadores Ana Sousa Dias e Pedro Sousa...
Os livros promovem o pensamento e ajudam-nos a resolver os enigmas da existência. Por vezes incomodam, outras vezes surpreendem-nos. Podem ser um bilhete de viagem estupendo, em minutos estamos no espaço, no México, no fundo do mar, dentro da vida de alguém que admiramos. Durante o confinamento, as livrarias encerraram as portas, estalou a polémica, uns advogavam que era o mais correcto, outros argumentavam que os livros estavam à venda nos hipermercados e não era justo. Ouvi pessoas a perorar sobre o assunto que, suspeito, nunca leram um livro. Já temos as livrarias abertas e ainda bem. E voltámos a ter actividades culturais.
E, de repente, em Óbidos, olhando para o brilho especial nos olhos de uma amiga, percebi que o Folio é já uma tradição para algumas pessoas, como acontece com outros festivais literários.
Além da programação regular, temos ainda o programa Folio + em parceria com as editoras e comissariada por José Pinho, o responsável pelas livrarias de Óbidos. Até domingo temos uma programação rica e gratuita: espectáculos variados, exposições (aconselho a exposição de ilustração portuguesa, PIM! e do fotógrafo João Francisco Vilhena). Para os mais pequenos existem inúmeras actividades, incluindo hora do conto e algumas oficinas. Há a tabacaria/ papelaria Cajão atrás da qual existe uma adega grande e uma livraria especializada em livros eróticos. Este espaço foi baptizado pelo escritor Mário Zambujal, logo na primeira edição do Folio, como Sítio dos Bons Amigos. Este espaço acolhedor, que abriu em 1831, é onde terminam as noites deste festival literário, embora não esteja integrado na programação oficial.
Até ao próximo domingo, a festa do livro e dos autores faz-se a Oeste e se vos for possível não percam.
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