Nas Américas, quando um ente querido desaparece, são as mulheres que mais se mobilizam na liderança de movimentos populares pelas buscas dessa pessoa. Fazem-no quando os Estados não cumprem as suas obrigações na investigação dos casos de pessoas desaparecidas. São elas o último indício de esperança, embora a sua persistência seja uma porta aberta a ameaças e ataques. Chamam-lhes as mulheres buscadoras.
Há décadas que os desaparecimentos forçados são comuns nas Américas. O México, a Colômbia, o Peru e a Argentina são alguns exemplos onde esta prática tem tido lugar. A restrição da liberdade de alguém e a ocultação do seu paradeiro é instigada por muitas razões - residir numa zona de conflito armado ou de crime organizado, contestar políticas governamentais, reivindicar direitos por via da manifestação, entre outras. No entanto, apesar da recorrência dos desaparecimentos forçados na região, existem ainda poucas medidas para prevenir estes incidentes, assim como para garantir a concretização de investigações verdadeiramente capazes de localizar as vítimas e responsabilizar os envolvidos.
O dever dos Estados de procurar as pessoas que sofreram desaparecimentos forçados está contemplado no direito internacional dos direitos humanos. No caso específico das Américas, também a Comissão Interamericana de Direitos Humanos lembra que os Estados devem efetuar buscas rigorosas, que sigam um quadro coordenado de ação, valorizem a comunicação com os familiares e disponham de recursos humanos, técnicos e científicos adequados.
Ainda assim, a realidade tem sido diferente. Perante a falta de atuação do Estado nas investigações, os familiares e conhecidos das pessoas desaparecidas assumem a missão da sua busca. Mobilizam-se pela justiça, verdade e reparação, envolvendo-se em movimentos, por norma, dirigidos por mulheres. É uma tarefa tanto dolorosa quanto perigosa, já que estas pessoas têm sido desacreditadas, ameaçadas, perseguidas, violentadas e até mortas.
O México é um dos países com elevado número de desaparecimentos forçados e uma onda de violência contra as mulheres buscadoras e outras pessoas que procuram os seus entes queridos. No período de 31 de dezembro de 1952 a 6 de setembro de 2024, os dados do Registo Nacional de Pessoas Desaparecidas e Desconhecidas revelam que há 115.294 pessoas desaparecidas e não localizadas no México. Este número permite perceber como é que, só neste país, existem mais de 200 coletivos de familiares de pessoas desaparecidas. Um deles, o coletivo Hasta Encontrarte, ao liderar investigações e realizar tarefas que deveriam ser executadas pelas autoridades - como o desenterro e recuperação dos corpos – conseguiu já localizar 23 fossas clandestinas e o paradeiro de 203 pessoas desaparecidas. Por outro lado, para que isto fosse possível, as mulheres buscadoras e os familiares envolvidos colocam a sua vida em risco. Nos últimos seis anos, e citando os números da organização Artículo 19, 16 pessoas integradas nestas buscas foram assassinadas. Treze eram mulheres buscadoras. O perigo que enfrentam não pode ser desvalorizado.
É para evidenciar o papel destas mulheres, famílias e comunidades e apelar aos Estados para que protejam e respeitem o seu direito a procurar pelas pessoas desaparecidas, que a Amnistia Internacional lançou a campanha “Procurar sem medo”. Que o futuro possa ser de admiração pelo papel das mulheres buscadoras, sem lugar para o medo e discriminação que lhe estão ainda tão intrínsecos.
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