Fiquei comovida com a generosidade de quem partilhou histórias comigo e fiquei perplexa com a quantidade de pessoas que entende que ser gay é ser especial. Ninguém é especial, todos somos especiais. Ser especial por existir uma história de perseguição ou de discriminação, mesmo com extraordinário peso histórico? Bom, talvez as mulheres possam encabeçar a lista de gente especial à conta de tal argumento.
O que estava em discussão é a violência, a forma como as pessoas podem ser maltratadas por terem uma determinada sexualidade. As pessoas também podem ser vilipendiadas por serem de outra etnia, por possuírem outro credo, por terem outro sexo. Ninguém estava a louvar a comunidade gay, dando-lhe o rótulo de especial. Nada disso. Sou contra a violência, seja ela de que forma for, seja contra quem for. A crónica era sobre isso e revelava dados estatísticos que me pareceram pertinentes para reforçar o meu ponto de que estamos a viver, em pleno século XXI, tempos tristes.
Ninguém é mais especial do que o vizinho. O que se pretende aqui é normalidade. É o mesmo tratamento. Independentemente da sexualidade que se tem. Normalidade é difícil e, infelizmente, muitos dos comentários e mensagens que recebi são profundamente homofóbicos. Estaremos a viver um retrocesso civilizacional ou foi sempre assim? A História mostra-nos que tudo o que foge ao padrão, que é fora da regra, é visto com desconfiança, com manifestações de agressividade. Mais uma vez, retomo a ideia da banalidade do mal de Hannah Arendt.
A sociedade pode evoluir em muitos aspectos, mas o espectro emocional do ser humano é o mesmo, sempre o mesmo, e quem é racista será sempre racista, quem é homofóbico será sempre homofóbico. E, agora, escrevam lá mais uns tantos comentários indignados e reclamando a supremacia dos heterossexuais a ver se eu me ralo.
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