A cidade do Porto recebeu a final da Liga dos Campeões no passado fim-de-semana e as coisas não correram tão bem quanto o planeado. Pode argumentar-se que, tal como os festejos do Sporting, é natural que uma celebração em torno de um importante título de futebol seja difícil de controlar. Contudo, Rui Moreira tinha feito questão de garantir, uma semana antes da final entre Chelsea e Manchester City, que “o que se passou em Lisboa não se repetiria no Porto”. O presidente da Câmara Municipal do Porto apresentou uma expectativa irrealista, provavelmente baseada na ideia de que em Lisboa existe um ADN de incompetência que é impossível encontrar no Porto. Não sei se o que aconteceu no Porto foi igual ao que aconteceu em Lisboa - apesar de não restarem dúvidas de que a PSP prefere as competições da UEFA -, mas as críticas a ambos os eventos foram semelhantes, sendo que é quase consensual que os dois eventos diminuem a legitimidade das autoridades na contenção de aglomerações com motivos diferentes.

Rui Moreira tem uma explicação muito simples para as críticas que choveram. “Portofobia”. Foi esse o termo que utilizou para classificar as declarações de Rui Rio sobre o certame. É simples, não é? Para quê pagar a assessores de imprensa para desenrascarem rebuscados spins, quando podemos acusar qualquer pessoa de “Portofobia”? Não é a primeira vez que Rui Moreira se socorre desta palavra. Ao longo dos anos, tem-se dedicado a denunciar inúmeros portofóbicos. Agora, foi Rui Rio o portofóbico. Há duas semanas, a portofobia esteve presente na cobertura mediática do caso Selminho. Em 2020, a TVI padecia de portofobia. Em 2018, foi a vez do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios incorrer em portofobia. Em 2015, era a RTP a estação portofóbica. Já em 2008, numa entrevista ao Sol, Rui Moreira falava de portofobia, provavelmente considerando a própria expressão muito feliz e decidindo que a utilizaria para todo o sempre e em qualquer contexto.

Portofobia. Moreira deve achar que encontrou uma palavra tremendamente eficaz. Primeiro, porque fica no ouvido. Depois, porque procura arregimentar os portuenses, que assim são convocados a participar em toda e qualquer guerra em que o seu presidente de câmara esteja envolvido - quer estejam interesses da cidade em causa ou não. Por outro lado, radica numa rivalidade folclórica que não encontra paralelo na realidade. Não me parece que a relação que o resto do país tenha com a cidade do Porto se baseie no preconceito. É uma palavra de ordem de um homem em campanha eleitoral que decidiu que a sua mensagem política se alicerçaria no antagonismo entre Super Bock e Sagres. Desconfio que grande parte dos portuenses fica desconfortável com esta visão complexada da realidade. Não aconselho é que o digam publicamente, dando a oportunidade a Rui Moreira de identificar os portuenses que são portofóbicos.