Trabalhar, viver em função do trabalho, pensar no trabalho, levá-lo para casa, para férias. Nada mais entediante, do ponto de vista da diversão; não especialmente limitador, quando se encara a vida de forma saudável. Foi assim durante muito tempo. Ao contrário de muitas pessoas, gosto de trabalhar, da responsabilização, da adrenalina de um prazo por cumprir. Também gosto de acumular tarefas e de fazer coisas diferentes. Creio que combati o tédio com essa pluralidade de assuntos que sempre me ocuparam. Com a pandemia, este cenário alterou-se. As exigências profissionais diminuíram. Deixei de ter um local de trabalho. Uma equipa com quem partilhar dores de cabeça. Trabalhar como freelancer, completamente sozinha, não foi fácil, pelo menos no início. Hoje estou adaptada e, admito, gosto desta possibilidade de decidir o que quero fazer e como quero fazer. Gerir o meu tempo é uma das grandes liberdades que descobri na vida.
Alguns jovens, pese a admiração e respeito que demonstram no percurso e trabalho de terceiros, garantem-me que tencionam trabalhar para viver e não o inverso. Advogam que a vida é curta e que, ao contrário da minha geração, não precisam do trabalho como única forma de validação de vida. Respeito a ideia, não tenho como não a respeitar. E obriga-me a um exercício: teria a minha vida sido diferente se eu tivesse optado por valorizar a vida em vez do trabalho? Talvez. Ou talvez não. Acho que o percurso que fiz me trouxe, como recompensa, este luxo de decidir que faço este trabalho em detrimento de outro; que uso esta hora para mim e aquela para resolver um qualquer problema. A vida exige que tenhamos dinheiro, já se sabe. A idade exige que façamos escolhas e que possamos excluir coisas que perturbam a nossa existência. Talvez o segredo seja encontrar o equilíbrio.
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