Lembro do dia em que o homem chegou à Lua. Foi num verão quente de 1969, a minha mãe estava grávida, do meu irmão mais novo, e estavam a dar imagens do homem a aterrar na Lua e eu tinha cinco anos e estava estarrecido. Não conseguia compreender como é que sendo o homem capaz de pôr uma astronauta na Lua ainda precisava de cegonhas para fazer o trabalho de entregar bebés. Se os homens entregavam às cegonhas o voo mais importante das suas vidas o normal era as serem as cegonhas a irem à Lua — “it's a small step for a stork”. Foi graças à conquista espacial que comecei desconfiar que havia uma coisa chamada sexo.
Ver o homem chegar à Lua numa televisão a preto e branco com o ecrã na forma de uma terrina para saladas foi uma experiência marcante. Passei a ir para a escola a imitar o andar dos astronautas e chegava sempre atrasado e levava um puxão de orelhas. Naquela altura o puxão de orelhas era uma coisa muito na moda. Agora já se vê pouco mas quando eu era pequeno as orelhas das crianças eram feitas para os adultos puxarem quando estavam zangados.
Conseguir colocar um homem na Lua com uns computadores com menos memória que o Alcatel HC 400 que o meu pai ainda usa é absolutamente extraordinário. Durante muito tempo pensei que eles mantinha as famílias dos astronautas reféns para os obrigarem a fazer aquilo.
Desde 1972, e de Apollo 17, que o homem não voltou a pousar na Lua. Dá a sensação que deixámos uma conta por pagar e nunca mais lá voltámos. Como se a Lua fosse uma moda como as calças à boca de sino. Custa-me ver este abandono lunar. Levamos a ida à Lua como alguns levam o sexo oral: “já fiz, está feito, não volto a fazer.”
É uma pena que havendo tecnologia não haja tomates. Nos primeiros tempos, o homem, como não queria arriscar, começou por enviar animais para o espaço. A mais famosa é a cadela Laika. Dá para imaginar, com recurso a um trocadilho infeliz, como terá sido este ida da Laika ao espaço. O dono da Laika a sair com a cadela e a trela e pergunta a mulher – onde é que tu vais a esta hora? – Responde o dono da Laika – Vou só levar a cadela à Lua.
Sou contra o envio de animais para o espaço. Acho que os animais não foram feitos para isso. Recentemente soube que o Irão enviou um macaco para o espaço, com sucesso. Imagino o que irá na cabeça de um macaco que é retirado de um zoo em Teerão e enfiado num foguetão a 120 quilómetros de altura, num voo balístico suborbital de cerca de 20 minutos…No regresso os cientistas devem levar uma hora a conseguir entrar na nave, porque os macacos, quando se irritam, adoram esbardalhar fezes em todas as direções.
Aposto que os guinchos de pânico do macaco no espaço se ouviam da muralha da China. O macaco quando se viu a 120 quilómetros de altura deve ter pensado – porra, se eu me livro desta, passo o resto da vida a catar pulgas aos outros sem esperar nada em troca. Mas deve ser um sucesso quando voltar à jaula. Nunca mais trepa a uma árvore mas não lhe faltam macacas.
Resumindo, os meus filhos já estão como a avó e já acham que se calhar não fomos nada à Lua. Acho urgente mandarmos uma pessoa à Lua. Até proponho que seja o meu vizinho de cima. Era um acontecimento que podia unir o Mundo, como quando o Salvador venceu o Eurofestival.
Seria extraordinário se fossem os Portugueses a conseguir voltar a pôr um homem na Lua mas tirando a Padaria Portuguesa não acho que tenhamos meios para lá chegar.
Sugestões do autor:
Uma exposição – Inaugurou na passada segunda-feira, a Galeria Francisco Fino, em Lisboa, que virá representar dezassete artistas portugueses e estrangeiros. O local escolhido é Marvila/Xabregas e é mesmo a não perder.
Um filme – obviamente Alien: Covenant. É mais um filme talvez da minha saga preferida e a sequência do filme Prometheus. Eu vou esta semana.
Um livro – o novo de José Eduardo Agualusa: A Sociedade dos Sonhadores Involuntários, editado pela Quetzal. Ainda não li mas também vou ler esta semana.
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