Tem sido assunto diário por todo o lado, mas quase sempre da perspectiva errada, pelo menos na maioria dos meios de comunicação maiores. Vê-se muita gente a falar de direitos humanos, a dizer que os imigrantes também são pessoas (apesar de nem sempre parecerem porque não são brancos), que é horrível que tantos deles estejam sujeitos a condições de trabalham que roçam a escravatura, e que nada disto se devia passar num país democrático. Até posso perceber, mas eles só aceitaram estas condições porque quiseram, certo? Não é o mercado a funcionar? Esta gente (normalmente a “esquerda woke”) agora tem muito isto de fingir que os direitos humanos ou a dignidade no trabalho são coisas mais importantes que o mercado e a obtenção de lucro infinito.
Mas o que tem sido infelizmente assinalável é a inacreditável ausência de empatia, da parte de tanta gente, para com as pessoas ricas. Já sabemos que em Portugal quase toda a gente tem inveja dos ricos. Nem me tentem dizer que há uma única pessoa cujo objectivo principal da vida não seja ficar muito rico. Se a vida não serve para acumular riqueza, para que serve então?
A maneira como as pessoas ricas são ostracizadas já é comum, mas neste assunto tem sido deplorável. Pessoas que com muito sangue, suor e lágrimas (mas sangue, suor e lágrimas a sério, e não indianas ou nepalesas, que é verdade que eles também trabalham, mas não tanto ou tão bem) juntaram dinheiro para comprar uma barraca de madeira para passarem as férias no Alentejo. É verdade que o Zmar – vem-se a descobrir cada vez mais coisas novas – deve 60 milhões de euros ao Estado (quem nunca?) e, portanto, até é um bocadinho de cada um de nós. E também é verdade que as casas que iriam ser usadas (imigrantes foram lá postos e, entretanto, já retirados, sempre a ser empurrados como gado de um lado para o outro) não eram as que são efectivamente de particulares.
Mas o pior é que o Zmar é um sítio tão bonito – e atenção, é importante frisar que isto não é nada racista, porque todos os não racistas têm necessidade de o afirmar antes de dizer algo ligeiramente racista – e tão bem frequentado, e é chato agora ficar manchado com a presença de pessoas indianas e nepalesas, que já se sabe que são pouco civilizadas. Não por estas palavras, mas é mais ou menos isto que uma data de pessoas tem dito por aí. José Miguel Júdice, por exemplo, é apenas das poucas pessoas realmente preocupadas com os proprietários de casas de férias, e com os ricos no geral. E era aqui que queria chegar, o racismo contra ricos está cada vez mais grave em Portugal.
Desde quando é que se pode pôr em causa a estabilidade emocional dos ricos, invadindo o seu espaço com pessoas que só sabem cozinhar caril? Primeiro os nossos (slogan usado para não se receber refugiados em Portugal – também nada racista – e agora recuperado). Se vocês repararem bem, nas redes sociais felizmente há montes de gente a defender as barracas de madeira, e a responder a todos os “ai que os direitos humanos importam!” com um “porque é não os recebes em tua casa?”. Curiosamente são todas pessoas cuja foto de perfil foi tirada num casamento (daqueles em que noivo e os padrinhos estão todos de fraque), que usam cruz ao peito e fazem questão de colocar todos os 17 apelidos no nome de Facebook. Haja alguém que proteja os ricos, essa classe oprimida e que tanto sofre.
É reconfortante ver tanta gente que se preocupa com o que realmente importa, e que percebe que barracos de madeira para as pessoas de classe média e alta são muito mais importante que ajudar pessoas que estão mais ou menos a ser escravizadas. Só com este nível de empatia e solidariedade para quem dela realmente precisa, é que o mundo continuará a pular e avançar.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Rambóia com Moderação: podcast sobre poliamor de que tenho gostado muito.
- Muito mais do que sexo: também um podcast, e para o qual foi entrevistado há dias, caso tenham curiosidade em ouvir já está por aí nas plataformas.
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