A “grande enchente” em Fátima

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

Numa primeira fase, tudo parou. A pandemia veio trazer o silêncio a lugares onde as vozes eram constantemente ouvidas. No Santuário de Fátima também foi assim. O lugar que habitualmente recebe um mar de peregrinos viu-se deserto. Em nome da saúde pública, as celebrações foram canceladas.

Neste ano de 2020, fica registado na história do local um 13 de Maio sem peregrinos. Mas os dias vão avançando e a normalidade possível quer-se retomada. Nesse sentido, cumprindo normas específicas, as celebrações com a presença de fiéis foram retomadas a 30 de maio e a primeira peregrinação internacional realizou-se a 12 e 13 de junho.

Já em agosto, as fotografias divulgadas contavam a nova realidade. Já eram alguns os que ganhavam coragem para ir até ao local que se enche de luz nas noites de 12 para 13. Não havia um manto de gente por todo o recinto, mas pequenas manchas pintadas pelas velas acesas já se faziam notar.

Na noite de ontem, 12 de setembro, a diferença era inegável. O tempo vai passando, o medo diminui, as regras apertam-se e os peregrinos regressam. Mas foi neste domingo que aconteceu o que ainda não tinha sido necessário: o acesso ao Santuário de Fátima foi  bloqueado quando o recinto atingiu a lotação máxima permitida no contexto da pandemia — ou seja, os peregrinos ocuparam um terço do espaço habitual disponível, em cumprimento das orientações acertadas entre a Conferência Episcopal Portuguesa e a Direção-Geral da Saúde.

Ao Público, a porta-voz da instituição, Carmo Rodeia explicou o processo para ser tomada esta decisão. "Nós não temos um número exato de pessoas. O que nós temos é uma câmara que utilizamos para transmissão das celebrações. Há uma vigilância permanente dessa câmara para percebermos efetivamente como é que está o recinto, porque é uma câmara que está colocada na torre e nós temos exatamente a perceção se as pessoas estão muito concentradas ou não", frisou.

Hoje, "a partir do momento da comunhão", por volta das 11h00, foi necessário intervir, impedindo mais entradas. Para tal, agentes da GNR e funcionários do Santuário aplicaram a medida "com muita tranquilidade". Segundo a porta-voz, esta foi a peregrinação mais participada desde o desconfinamento e o regresso das celebrações com a presença de crentes.

A história de Fátima tem-se feito, ao longo dos anos, das enchentes em datas específicas. E se no início de tudo, ao longo das aparições, iam aparecendo cada vez mais pessoas, setembro de 1917 também foi a data em que se registou a "primeira grande enchente na Cova da Iria".

No início deste mês, o Santuário recordava isso mesmo no seu site. Segundo relatos da época, deveriam estar entre 20 a 30 mil pessoas no local onde os pastorinhos viam Nossa Senhora pela quinta vez.

Nas Memórias da Irmã Lúcia é descrito que nesse dia foram muitas as pessoas que conseguiram "romper por entre a multidão que (...) se apinhava" e que se prostraram de joelhos para que os pastorinhos apresentassem a Nossa Senhora "as suas necessidades". Todavia, no meio de tanta gente, nem todos conseguiam falar de perto com as crianças e "chamavam de longe".

Em 2020 a "grande enchente" repetiu-se, mas agora com outros contornos, regras e cuidados devido à pandemia. Não sabemos o número de pessoas no recinto, mas terão sido as suficientes para tomar medidas. E, do lado de fora do Santuário e também a partir de casa, alguns fiéis apresentaram de longe as suas preces.

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