Uma convenção bloquista com "porquinho mealheiro" e "artilharia"

Abílio dos Reis
Abílio dos Reis

Com lugares marcados, distanciamento e regras. Mas pelo menos a XII Convenção Nacional do BE, que decorreu hoje e se estende até domingo em Matosinhos, voltou à vida presencial. Os tempos em que tudo se passa e se vive numa pequena janelinha de uma plataforma ("Zoom") cujo nome ficou na boca e léxico da maioria do mundo desde o início da pandemia parece que já lá vão.

Houve marcações no chão para delinear o distanciamento seguro das cadeiras entre os 343 delegados — metade do previsto. Houve máscaras e corredores de circulações próprios para evitar contactos e sinalizações no chão. Numa reportagem da agência Lusa, é possível aferir ainda que para estar presente é necessário passar por uma medição de temperatura (requisito obrigatório).

No fundo, uma convenção "completamente diferente", já que teve menos pessoas, além de que os delegados não têm secretárias, mas sim cadeiras com suportes. E por falar em delegados, estes têm instruções muito específicas — só podem tirar a máscara quando usarem da palavra no púlpito, não podem comer dentro da sala e, em caso de sintomas, devem informar o secretariado da convenção e abandonar imediatamente o recinto.

Contudo, tirando estas nuances, houve algo que se manteve: as subidas ao púlpito e os discursos. O próximo Orçamento do Estado, a relação com o PS — muito PS — e as eleições autárquicas foram os pontos fortes da discussão. Da intervenção de Catarina Martins à de Mariana Mortágua, passando por Francisco Louçã, eis o que se disse na convenção dos bloquistas.

  • Catarina Martins

"Como explicou António Costa em entrevista ao Expresso e cito, 'um Bloco forte significa ingovernabilidade', ou, como disseram outros dirigentes do PS, era preciso salvar o Governo das pressões da esquerda. Nada foi mais importante para o PS do que atacar a esquerda nessas eleições".

Na sua intervenção inicial, a coordenadora do partido enfatizou ainda que "nada foi mais importante para o PS do que atacar a esquerda". Mais, explicou que não fecha a porta a nada no futuro, mas deixou avisos: o BE não abdica "de conseguir já as medidas que são urgentes" para o povo português.

"Não atuamos por ressabiamento, não temos estados de alma, não ficamos zangados pelo facto de o PS ter fechado a porta a uma solução de estabilidade para quatro anos. É a sua escolha, nós abriremos outra porta. Do que não abdicamos é de conseguir já as medidas que são urgentes para o nosso povo". 

  • Francisco Louçã 

Na perspetiva de um dos fundadores do partido, faz falta e é necessário um Ministério das Finanças que defenda "o povo".

"Quero dizer-vos uma certeza que tenho: quando a Mariana [Mortágua] for ministra das Finanças, o Estado não será um porquinho mealheiro para pagar aventuras como do Novo Banco. Dívidas de 500 milhões de euros não serão tratadas como traquinices garantidas por um palheiro ou uma mota de água".

  • Marisa Matias

A candidata bloquista às presidenciais aproveitou para dar ênfase aos "seis meses tristes" da presidência portuguesa na UE e à situação na Faixa de Gaza. "E qual foi a posição do Governo português? A pior de sempre, uma vergonha, senti-me verdadeiramente envergonhada com as declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros no Parlamento Europeu", afirmou.

"Não senhor ministro, não há equidistância de posição, não senhor ministro não há proporcionalidade, não senhor ministro a única posição decente que um país democrático pode ter em relação ao massacre da Palestina e de Gaza é de condenar os crimes de guerra contra o povo palestiniano, é defender sanções que permitam excluir das relações comerciais comuns os produtos produzidos nos colonatos, é garantir que, sim, a Palestina será livre".

  • Mariana Mortágua

A deputada na sua intervenção aproveitou o espaço para criticar o PS, acusando os socialistas de recorrerem à sua "melhor artilharia" para evitar que o BE consiga influenciar em várias sociais.

"Não sei se deram conta mas o PS tomou uma decisão nesta legislatura, guardou a sua melhor artilharia para evitar que o BE influencie três áreas, a banca, os serviços públicos e o trabalho, e por isso ficam tão irritados quando conseguimos fazê-lo". 

Sob o lema "Justiça na Resposta à Crise", os bloquistas estão a debater e trocar ideias durante estes dois dias sobre o futuro do partido. Em cima da mesa estão cinco moções de orientação e eleição de novos órgãos. Como tudo termina já serão tópicos de algumas páginas que só serão reveladas amanhã. Para já, hoje, a convenção foi assim.

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