O que é que 8.937 novos casos nos dizem sobre a situação epidemiológica de Portugal?

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

O boletim epidemiológico divulgado esta quarta-feira pela Direção-Geral da Saúde revela que nas últimas 24 horas foram identificados 8.937 novos casos. O número não só é grande como nos transporta para o dia 4 de fevereiro deste ano, a última vez que o número de casos tinha sido tão alto.

Trezentos e vinte um dias decorridos entre as duas datas, Portugal volta a ter um número de novos casos ao nível de um período do ano em que o país começava a sair da vaga mais mortífera, que levou a um segundo grande confinamento.

Se os números de novos casos são próximos, nesse dia 4 de fevereiro foram identificados +7.914, os números de internamentos (6.496) e de internamentos em unidades de cuidados intensivos (863) continuam distantes - atualmente há 909 pessoas internadas em enfermaria e 155 em cuidados intensivos.

Também na mortalidade as duas datas distam. Há 321 dias o número de mortes foi de 225, hoje o número de óbitos foi 11.

A razão para a disparidade nos parâmetros mais graves de análise da situação epidemiológica nacional é a elevada taxa de vacinação primária e o avanço a bom ritmo da administração da dose de reforço da vacina junto da população mais vulnerável.

Se é verdade que as vacinas existentes não são tão eficazes quanto se poderia esperar em impedir a transmissão e infeção do vírus, continuam a mostrar-se altamente eficazes em evitar a doença grave e a morte por covid-19.

O relato que tem sido divulgado por Catarina Costa, de 38 anos, é um exemplo perfeito disso. A professora que trabalha na comunidade terapêutica de Santa Isabel, em Seia, esteve internada 26 dias no Hospital da Guarda, 12 dias entubada e em coma induzido nos cuidados intensivos.

Naquilo que Catarina, que decidiu não se vacinar e assumiu uma postura negacionista em relação à vacina, tem contado nas redes sociais, onde tem vindo a relatar a sua recuperação lenta, impressiona o retrato que faz dos cuidados intensivos. As cinco pessoas que estavam entubadas nesta unidade, tal como ela, não estavam vacinadas. A própria descreve que quando deixou aquele espaço do hospital, entraram outras duas pessoas também elas não inoculadas com a vacina que podia prevenir aquele cenário.

Hoje, Catarina apela a que todos se vacinem para não terem de passar pela experiência por que passou e que podia ter sido evitada.

No entanto, a história de Catarina Costa não é um exemplo geral. A grande maioria das pessoas elegíveis está vacinada e Portugal. De acordo dados da terceira fase do Inquérito Serológico Nacional COVID-19, promovido pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), "a prevalência de anticorpos específicos contra SARS-CoV-2 na população residente em Portugal, com idade superior a 1 ano, foi de 86,4%", sendo que apenas 7,5% é "atribuível a infeção anterior". São "valores consistentes com a cobertura vacinal", segundo os dados deste inquérito.

Partimos para o período natalício bem 'armados', mas sabendo que é importante continuar a testar, evitar ajuntamentos - é aconselhado que as festas sejam "realizadas com grupos mais pequenos, idealmente pertencentes à mesma bolha familiar/social", segundo a DGS- , manter o distanciamento e a etiqueta respiratória, tudo sem esquecer que devem ser escolhidos "espaços amplos" e "ventilados".

Nas festas, "a partilha de momentos em que se consomem alimentos e bebidas pode ser feita com o devido distanciamento entre os convidados, aplicando medidas simples, como a utilização de mais do que uma mesa, sempre que possível".

Nessas situações, a DGS relembra que "a máscara deve ser mantida quando não se estiver a consumir alimentos ou bebidas, particularmente na presença de pessoas mais vulneráveis, que devem ser ainda mais protegidas".

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