Em contagem decrescente — para o novo ano e para o isolamento

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

A pouco mais de 24 horas de nos despedirmos de 2021 — ano melhor que 2020, mas nem por isso particularmente fácil —, caiu uma última novidade que vai, de uma forma ou de outra, afetar as nossas vidas — passam de 10 para sete os dias em isolamento profilático para casos de covid-19 assintomáticos e contactos de risco.

Não é que tenha sido particularmente inesperado. Como escrevi ontem, as peças estavam todas em posição para que a Direção-Geral da Saúde optasse por esta medida, tanto por pressão do setor da saúde, como pelo exemplo dado por outros países.

“Esta decisão está alinhada com orientações de outros países e resulta de uma reflexão técnica e ponderada, face ao período de incubação da variante agora predominante, a Ómicron", justificou a DGS em comunicado.

Segundo as autoridades de saúde, é já em 2022 que esta medida é implementada, dado que "a operacionalização desta decisão técnica, pela necessidade de atualização de normas e de reparametrização do sistema de informação, estará concluída o mais brevemente possível, no decurso da próxima semana".

Já durante a tarde, Graça Freitas deu a cara pela decisão e explicou que foi ponderada para permitir um “equilíbrio entre o isolamento seguro e a libertação mais precoce das pessoas para fazerem a sua vida laboral e social e de relação normal”

Além disso, a diretora-geral da Saúde adiantou também que, agora, as pessoas que tenham já recebido a terceira dose da vacina deixam de ser contacto de alto risco e podem fazer a vida normal, apesar de terem uma pessoa doente em casa, desde que mantenham cuidados junto de outros e controlem o possível surgimento de sintomas.

Antes eram consideradas contacto de alto risco as pessoas com as duas doses de vacina que coabitassem com um doente covid-19.

Tenha, contudo, isto em conta:

  • Para os infetados, o período de isolamento começa a contar na data em que foi feita a colheita da amostra biológica através de um teste. Ou seja, autotestes não contam
  • Em relação aos contactos, conta a data em que ocorreu o último contacto da pessoa infetada com o seu coabitante.

Estas alterações prometem, assim, suavizar a pressão sobre os cuidados de saúde, numa fase em que as urgências estão sobrecarregadas, e não sem alguma responsabilidade do Sistema Nacional de Saúde.

A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos denunciou hoje o encaminhamento de utentes da Linha SNS24 para as urgências, a fim de realizar teste à covid-19, “sem qualquer critério clínico e/ou sem sintomas ou sintomas ligeiros apenas e só porque essa é a única resposta para a realização de testes ao novo coronavírus”.

Também por isso, Graça Freitas apelou hoje a que a população utilize “criteriosamente” os serviços de saúde e aconselhou aos contactos de baixo risco para terem calma, reforçarem os cuidados e só telefonarem para a Linha SNS24 se tiverem sintomas.

Todavia, houve quem, apesar de reconhecer os benefícios da decisão, apontasse críticas. Foi o caso da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), que lamentou tanto o timing do anúncio como a ausência de medidas suplementares.

Quanto ao primeiro apontamento, o vice-presidente da ANMSP lamentou que o anúncio tenha ocorrido antes da preparação técnica da DGS, pois criou “ruído comunicacional”. "As pessoas ouviram sete dias, mas quando avisamos que tem de ser 10, porque a norma ainda não existe, provoca alguns problemas. Há quem queira sair ao sétimo dia, sem a norma estar publicada", diz Gustavo Tato Borges, frisando que teria sido melhor ser comunicada apenas para a semana.

Em segundo lugar, Tato Borges diz que, “apesar de haver alguns profissionais que vão ficar libertos do constante contacto com os isolados, porque ficam menos tempo em isolamento, a realidade é que há tantas pessoas para contactar que não é essa redução de três dias que vai trazer uma mudança para a saúde pública”. Segundo o vice-presidente da ANMSP, face ao atual agravamento da situação epidemiológica, com um crescimento substancial do número de casos nas últimas semanas, “o que era preciso era um reforço de profissionais que estivessem disponíveis para fazer os contactos”.

Além de tudo isto, foi colocado em questão, no entanto, outro tema. Ontem à noite, o mediático virologista Pedro Simas abriu a “caixa de Pandora” da disseminação propositada da pandemia, dada a aparente baixa da letalidade da Ómicron e à possível transformação da Covid-19 de uma doença pandémica para endémica — ou seja, como uma gripe. “Neste momento o risco é nulo em Portugal”, disse, apelando à suavização das restrições, algo que, de resto, já está a ser equacionado noutros países e defendido por outros especialistas, como o epidemiologista Manuel Carmo Gomes.

A oposição não se faria esperar. Se a Ordem dos Médicos saudou a redução do período de isolamento, recomendou fortemente que não se experimente esta estratégia para já. Miguel Guimarães, o bastonário, lembrou que o coronavírus “tem uma grande atividade” durante o inverno e que, por isso, “esta seria sempre a pior altura para tentar que a imunidade natural funcionasse”, sendo que poderia ter “consequências catastróficas”.

As palavras de Miguel Guimarães encontrariam, de resto, respaldo nas de Graça Freitas, que também defendeu que a estratégia de imunização natural contra a covid-19 comporta um risco de pressão sobre os serviços de saúde e um “risco individual” porque há casos que têm “um desfecho menos favorável”.

A diretora-geral da Saúde afirmou que, neste momento, as autoridades mantêm a estratégia de “reforçar as medidas todas que impeçam a transmissão do vírus”, nomeadamente o distanciamento físico, o uso da máscara, a higienização das mãos, bem como a vacinação, a testagem e o arejamento dos espaços.

Para Graça Freitas, a estratégia de imunização natural tem “dois riscos”, sendo o primeiro o número de pessoas doentes ao mesmo tempo. “Apesar da doença ser pouco grave, se tivermos muitas pessoas ao mesmo tempo infetadas isso vai impactar nos serviços de saúde, quer a gente queira, quer não”, alertou. Por outro lado, observou, o risco de a pessoa ter “um internamento ou um desfecho grave não é zero”.

Partimos então para 2022 com mudanças no horizonte. O novo ano certamente trará muitas mais.

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