Vamos falar de sofrimento psicológico nas escolas?

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

Pela primeira vez, o Ministério da Educação pediu um estudo nacional sobre a saúde psicológica e bem-estar da comunidade escolar que, segundo o ministro João Costa, passará a ser realizado periodicamente.

O estudo “Observatório Escolar: Monitorização e Ação | Saúde Psicológica e Bem-estar” foi realizado junto de 8.067 crianças e adolescentes que frequentam escolas portuguesas, desde o pré-escolar até ao 12.º ano.

Depois de recolhidos e analisados, os dados mostram alguns aspetos preocupantes — mas há solução.

Como estão os alunos?

  • Cerca de um terço dos alunos das escolas portuguesas tem sinais de sofrimento psicológico e défice de competências socioemocionais, um problema que afeta mais as raparigas;
  • Contudo, "os alunos, tirando uma minoria, dentro de uns tempos estarão recuperados", defendeu a coordenadora do estudo, Margarida Gaspar de Matos, da Equipa Aventura Social da Universidade de Lisboa;
  • Segundo os investigadores, os problemas de saúde mental agravam-se à medida que os alunos crescem, até chegarem ao 12.º ano, altura em que são relatados mais problemas;
  • Ao longo do percurso escolar surgem duas exceções, as crianças do 2.º ano e os jovens do 8.º, que aparecem também especialmente vulnerabilizadas;
  • Os estudantes do 5.º ano aparecem como os mais satisfeitos com a vida e com menos sintomas de mal-estar psicológico: são os mais otimistas, confiantes, com maiores índices de sociabilidade, criatividade, energia e menor ansiedade face aos testes;
  • Após os inquéritos realizados com a ajuda de professores e educadores, concluíram que cerca de um quarto das crianças são irrequietas (23,2%) e distraem-se com facilidade (24,9%), mas 88,6% dizem ter pelo menos um bom amigo;
  • Entre os alunos mais velhos, mais de um quarto disse sentir tristeza (25,8%), irritação ou mau humor (31,8%) e nervosismo (37,4%) várias vezes por semana ou quase todos os dias;
  • Embora a maioria refira que raramente ou nunca sente uma tristeza tão grande que pareça não aguentar (67,1%), quase um terço admitiu sentir essa tristeza pelo menos mensalmente (32,9%).

E os professores?

  • "Pelo menos metade dos docentes acusa sinal de sofrimento psicológico em pelo menos uma das medidas consideradas", conclui o estudo, em que participaram 1.457 professores, na sua maioria mulheres (81,8%);
  • Apesar de o trabalho na escola ser motivo de satisfação para a maioria dos professores, o estudo indica, no entanto, que são muitos os que se sentem nervosos, irritados ou de mau humor, havendo mesmo quem admita ter dificuldade em adormecer (48,5%);
  • Um em cada cinco professores (20%) disse sentir-se “tão triste que parece não aguentar”;
  • Os investigadores concluíram que o ambiente da escola e a qualidade da gestão dos agrupamentos escolares parecem estar associados ao sofrimento psicológico dos docentes, uma situação também agravada pela idade e tempo de serviço;
  • Os docentes com mais idade e mais tempo de serviço relatam menor qualidade de vida, mais sintomas de depressão e ansiedade, menor perceção de apoio por parte da direção do agrupamento e um ambiente escolar menos favorável;
  • Mais de metade dos docentes disse ter-se sentido nervoso (55,3%), triste (53,4%), irritado ou de mau humor (51,3%), com frequência semanal ou superior, nos últimos tempos.

O que nos diz tudo isto?

Para Margarida Gaspar de Matos, os resultados quanto aos alunos não são dramáticos. “Isto não é uma catástrofe nacional, é apenas um período de vulnerabilidade nacional”, também relacionado com a pandemia, defendeu a coordenadora do estudo.

Por sua vez, o mesmo não se pode dizer quanto a quem dá aulas. “Os professores estão muitos doentes. A minha preocupação é muito com os professores, porque um professor perturbado com 30 alunos à frente não vai conseguir fazer um bom serviço nem para ele nem para os alunos”, acrescentou.

Conhecidos os dados do estudo, o que pode ser feito? Segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), é necessário o reforço de psicólogos nos cuidados de saúde primários, para que possam atender crianças e jovens em sofrimento psicológico, que têm ficado sem resposta por falta de meios.

Para a Ordem dos Psicólogos não basta implementar medidas dentro dos muros das escolas para apoiar os alunos, são precisas também medidas “fora da escola”.

“É preciso um trabalho integrado com os diferentes setores da comunidade. As escolas, neste momento, não estão a conseguir encaminhar as crianças e jovens que precisam de intervenção na área clínica e da saúde para os Centros de Saúde porque estes não têm capacidade de resposta. Não têm psicólogos para responder a estas necessidades”, alerta Sofia Ramalho, vice-presidente da Ordem.

Por isso, a OPP defende que é preciso reduzir as barreiras de acesso aos cuidados de saúde psicológica, através do reforço de psicólogos nos cuidados de saúde primários.

Sofia Ramalho salienta ainda que o trabalho dos psicólogos nas escolas “tem sido incansável”, mas lembra que “as necessidades de intervenção individual, cada vez mais necessárias e urgentes, não permitem um trabalho de prevenção e promoção para toda a escola, também ele essencial”.

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