O Presidente da República afinal estava só preocupado com a saúde da menina, diz o próprio. E se o comentário tivesse sido de Ventura?

Ana Maria Pimentel
Ana Maria Pimentel

O Presidente dos afetos tem estado nas últimas duas a ser alvo de críticas pelos comentários que teceu ao corpo de duas mulheres em duas situações diferentes. De um lado acusações de 'body shaming', do outro sexismo, pelo meio machismo ou só falta de gosto. Foram várias as críticas.

Nas duas histórias em comum há Marcelo Rebelo de Sousa e duas protagonistas do sexo feminino. No primeiro caso, o Presidente da República, em visita a um restaurante, questiona, tentando a piada, se a cadeira a aguentará com o peso de uma senhora.

Se o momento, em Alcáçovas, Viana do Alentejo, despertou alguns risos e um ar indignado da visada, os ecos da sociedade foram quase todos de indignação lembrando não só o peso institucional do Presidente da República, como também lembrando que o corpo de outra pessoa não pode ser alvo de piadas. Isabel Moreira foi uma das políticas que usou o X (ex-Twitter) para criticar as palavras do Presidente.

O decote a que a publicação da deputada socialista se refere tem a ver com o segundo momento do Presidente da República com uma mulher. Durante a sua visita ao Canadá, e cruzando-se com a comunidade portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa questiona se uma jovem não apanharia uma gripe atendendo ao tamanho do decote.

Depois de confrontado com o comentário, o Presidente da República não pede desculpa, afasta a ideia de sexismo e justifica dizendo que estava apenas preocupado com o frio que se fazia sentir em Montreal.

"Não era nenhum comentário sexista, não me ocorreu, quer para aquela jovem, quer para as velhinhas. Não era sexista de todo", declarou o chefe de Estado, em resposta aos jornalistas, em Montreal, durante a sua visita oficial ao Canadá.

Questionado hoje pelos jornalistas sobre as críticas que o seu comentário suscitou em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se espantado: "Não me diga. Nem sei o que hei de comentar".

O Presidente da República referiu que "no fim do passeio pela parte portuguesa de Montreal começou a chover, estava frio", e que alertou para isso "várias senhoras de idade, uma das quais levava pelo braço, e outras mais jovens". "Disse a várias, mas pelos vistos foi filmada apenas a jovem: cuidado, porque ainda se constipam – eu constipei", acrescentou.

Perante o comentário à indumentária da luso-descendente Susana Peralta, professora e Investigadora na Universidade Nova, lembrou que o Presidente "passa a vida em tronco nu mas não pode ver um decote".

Já na mesma rede social, a jornalista, Fernanda Câncio confirma, ironizando, a ideia de sexismo.

Ao jornal Público à voz de Isabel Moreira, juntam-se as críticas de Rui Tavares  que mesmo acreditando que o Presidente não agiu de má fé, "acaba por colocar uma concidadã numa posição que não escolheu e que muito provavelmente é desconfortável”. Ao mesmo jornal Inês Sousa Real lembra a "importância de não se normalizarem estes comentários" e lembra ainda que “não podemos num momento evocar a memória de Natália Correia — uma mulher que queria viver fora dos estereótipos, que teve essa disrupção de ser aquilo que queria ser e não aquilo que outros queriam que ela fosse — e depois, em pleno século XXI, assistir à normalização deste tipo de comentários.”
Já André Ventura questionou como seria o desenlace desta polémica se os comentários tivessem partido de si.

*Com Lusa

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