O alarmismo de quem tem as urgências em risco de rutura

Ana Maria Pimentel
Ana Maria Pimentel

Depois de uma notícia que dizia que “os cuidados obstétricos e ginecológicos na área de Lisboa estão em risco iminente de rutura, porque os serviços partilhados no Hospital de São Francisco Xavier com o Hospital de Santa Maria não têm os médicos necessários”, o Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, pedia aos jornalistas que não criassem alarmismos. E assegurou que a maternidade do hospital São Francisco Xavier, partilhada com o Hospital de Santa Maria, está "a funcionar na sua plenitude”.

Ainda no distrito de Lisboa, e embora o Ministro peça que não haja alarmismos, o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, regista este mês constrangimentos na constituição da escala de urgência externa de cirurgia geral, informou hoje o estabelecimento hospitalar, confirmando uma situação que preocupa os municípios por ele servidos.

“Informamos que, atualmente, no Hospital Beatriz Ângelo se registam constrangimentos na constituição da escala de urgência externa de cirurgia geral para o mês de novembro, impacto resultante das escusas ao trabalho suplementar para além das 150 horas, nesta especialidade”, disse fonte oficial deste estabelecimento hospitalar.

Em resposta à agência Lusa, fonte do Hospital Beatriz Ângelo deixou o apelo aos utentes para que “contactem o SNS24 através do 808 24 24 24 antes de se dirigirem ao hospital”.

Manifestando “grande preocupação” com a situação, o presidente da Câmara Municipal de Loures, Ricardo Leão (PS), disse à Lusa que “não tem nenhum dado que permita dizer que os tempos que aí vêm possam ser melhores”.

Também, mais tarde e mais a Norte, a vereadora Ana Reis, da Câmara de Amarante, considerava que o encerramento do bloco de partos no Centro Hospitalar Tâmega e Sousa (CHTS) é “mais um golpe” para a população da região. “Agora, com o encerramento do bloco de partos, é mais um golpe para esta população que é servida pelo centro hospitalar”, comentou a autarca, em declarações à agência Lusa.

Ana Reis recordou que, além de ser vereadora, também é médica no serviço de urgência do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, explicando que “aquilo que se passa é que os médicos entregaram a escusa às horas extra e, portanto, eles (CHTS) não têm médicos para preencher as escalas do serviço de urgência”.

O primeiro a levantar o alarme, que Manuel Pizarro pede que se acalme, chegou pela voz de Fernando Araújo. Será que ao terceiro dia de novembro se confirma o agoiro do diretor executivo do SNS e novembro vai mesmo ser o pior mês dos últimos 44 anos no SNS?

Sabe-se, para já, que o cenário não é animador. O número de utentes sem médico de família em Portugal continental registou 1.677.858 em outubro, traduzindo-se num aumento de 77.518 face a agosto, segundo dados do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Trata-se do valor mais alto desde janeiro de 2016, apenas abaixo de maio de 2023, quando 1.757.747 portugueses não tinham acesso a médico de família. Os novos resultados demonstram que 16% da população residente em Portugal encontra-se sem médico de família. Os utentes sem médico de família aumentaram assim mais de 77 mil em três meses

Não deixa de ser irónico que hoje, o ministro da Administração Interna, tenha anunciado que todos os jovens que frequentam o 10.º ano de escolaridade vão ter formação em suporte básico de vida e primeiros socorros.

*Com Lusa

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