O populismo de direita está a ganhar terreno na Europa. França foi só o início?
As estimativas indicam que o eixo político central europeu — composto por PPE, S&D, Renew e Verdes — vai assegurar a maioria dos deputados, impedindo um aumento da direita europeia, encabeçada pelo grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), da italiana Meloni e do Identidade e Democracia (ID). Juntos não conseguem ser alternativa de aliança para os democratas-cristãos do PPE, vencedores destas eleições.
Numa eleições em que se esperava uma crescimento substancial da direita na Europa, estes números apontam para um movimento de contenção ou, pelo menos, de manutenção do status quo europeu.
Aliás, e já com contas feitas, o Partido Popular Europeu fez questão de ainda esta noite convidar os socialistas e os liberais para uma aliança no novo Parlamento Europeu — desde esteja garantido o apoio à candidata do PPE, Ursula von der Leyen, para a liderança do executivo comunitário. E apesar de querer manter em aberto a conversa com o ECR, este convite deixa claro quais as prioridades do PPE.
Mas, à margem do PE, há uma outra narrativa sobre o que se está a passar em cinco países estruturais na história da UE: França. Alemanha, Espanha e Polónia e Itália. Cinco países cujos resultados apontam para uma outra leitura, nomeadamente para um crescimento dos movimentos populistas de direita nos países que, no dia a dia, comandam os destinos da Europa, sendo eles Alemanha (que elege 96 eurodeputados) França (81), Alemanha (96), Itália (76), Espanha (61) e Polónia (53).
Em França, a União Nacional (Rassemblement National, RN na sigla francesa), de Marine Le Pen, venceu as europeias em França com 31,5% dos votos, segundo os primeiros resultados anunciados hoje pelo Parlamento Europeu.
Em segundo lugar, depois da RN (extrema-direita), ficou a coligação encabeçada pelo partido do Presidente Emmanuel Macron, Renascença, com 15,2% e pela dos socialistas (14%), segundo as primeiras estimativa do PE.
Na sequência destes resultados, Emmanuel Macron anunciou que vai convocar eleições legislativas antecipadas.
Na Alemanha, a União Democrata-Cristã (CDU), de Friedrich Merz, venceu as eleições com 30,3% dos votos, mas o partido de extrema-direita alemão Alternativa para a Alemanha (AfD), que depois de sucessivos escândalos e de ter sido expulso do grupo europeu Identidade e Democracia (ID), vinha a cair nas sondagens, parece confirmar o segundo lugar neste pleito. Já o SPD, partido do chanceler Olaf Scholz, obtém 13,9%, segundo as projeções oficiais do Parlamento Europeu. Os Verdes surgem em quarto lugar com 11,9%.
Na vizinha Espanha, o Vox passou de quinta força nas europeias de 2019 em Espanha a terceira mais votada este ano, com 10,4% dos votos e a possibilidade de eleger sete eurodeputados (mais quatro), que integrarão o grupo do Reformistas e Conservadores (ECR). O Partido Popular (PP) teve 32,40% dos votos e contribuirá com 21 a 23 eurodeputados para o grupo do Partido Popular Europeu (PPE). Em 2019, ano das eleições anteriores, elegeu 12. Quanto ao Partido Socialista Espanhol (PSOE), do primeiro-ministro Pedro Sánchez, teve 30,20% dos votos e elegerá 20 a 22 eurodeputados para o grupo dos Socialistas e Democratas (21 em 2019).
Na Polónia, a coligação liberal pró-europeia Plataforma Cívica (PO), do primeiro-ministro Donald Tusk, venceu as eleições, com 38,2% dos votos. Mas no seu encalço, em segundo lugar, estão os ultraconservadores nacionalistas do partido Lei e Justiça (PiS), com 33,9% dos votos.
Em Itália, a primeira-ministra Giorgia Meloni venceu — sem grandes surpresas — estas eleições europeias, solidificando a sua posição. Os Irmãos de Itália obtiveram entre 26% e 30% dos votos, à frente do Partido Democrático (PD, centro-esquerda), que teve entre 21% e 25%. A terceira força política mais votada foi o Movimento 5 Estrelas (populista de esquerda), com 10% a 14% dos votos, seguido do Força Itália (centro-direita), com 8,5% a 10,5%, e do partido de extrema-direita Liga, do eurocético Matteo Salvini, que se situa entre os 8% e os 10%.
Face às anteriores eleições europeias, de 2019, regista-se uma troca de papéis entre os partidos da direita radical em Itália, já que há cinco anos a Liga de Salvini obtivera uma vitória inquestionável, com 34,3% dos votos, que lhe valeram 29 dos 76 assentos a que Itália tem direito no Parlamento Europeu, enquanto os Irmãos de Itália obtiveram 6,4%, que lhe atribuiu cinco assentos no hemiciclo europeu.
A Bélgica elege apenas 31 eurodeputados, mas os resultados da direita, ainda que a extrema-direita tenha ficado aquém do esperado, levaram à demissão do primeiro-ministro Alexander de Croo.
E por cá, o Chega confirma-se como terceiro partido mais votado, à frente da Iniciativa Liberal, com 9,3% dos votos. O PS foi a força política mais votada, com 32,4% dos votos, seguido da AD com 31,95%.
Há portanto duas leituras desta noite europeia: a da contenção da direita conservadora e extrema no PE e a do avanço do populismo de direita nos maiores países da europa, e por consequência, aqueles que mais eurodeputados elegem — eudeputados esses a quem caberá decidir grande parte do destino da Europa nos próximos anos.
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