Recentemente, vários protestos vieram a público de vítimas do falecido John Smyth, um advogado proeminente que abusou de rapazes adolescentes e jovens em campos de férias cristãos no Reino Unido, Zimbabué e África do Sul durante cinco décadas.
Andrew Morse, que foi repetidamente espancado por Smyth durante um período de cinco anos, disse que a demissão era uma oportunidade para Justin Welby começar a reparar os danos causados pela forma como a Igreja lidou com os casos históricos de abuso.
Na quinta-feira passada, a Igreja divulgou os resultados de uma investigação independente sobre Smyth, que abusou sexualmente, psicologicamente e fisicamente de cerca de 30 rapazes e jovens no Reino Unido e 85 em África, a partir da década de 1970.
O relatório independente de 251 páginas conduzido por Keith Makin concluiu que Justin Welby não denunciou Smyth às autoridades quando foi informado dos abusos em agosto de 2013, pouco depois de se ter tornado arcebispo da Cantuária.
Na semana passada, Welby assumiu a responsabilidade por não ter assegurado que as alegações fossem investigadas de forma tão “enérgica” como deveriam ter sido depois de ter tido conhecimento dos abusos, mas respondeu que tinha decidido não se demitir.
Na segunda-feira, o gabinete de Welby emitiu um comunicado reiterando essa posição e expressando o seu “horror perante a dimensão do abuso flagrante de John Smyth”.
Os responsáveis da Igreja tiveram conhecimento dos abusos em 1982, quando receberam os resultados de uma investigação interna sobre Smyth, e “participaram num encobrimento ativo” para evitar que as conclusões viessem à luz do dia, concluiu ainda o relatório publicado na semana passada.
Smyth mudou-se para o Zimbabué em 1984 e mais tarde para a África do Sul e continuou a abusar de rapazes e jovens nos dois países até à sua morte em agosto de 2018.
Os abusos só foram tornados públicos por uma reportagem da estação de televisão britânica Channel 4 em 2017, o que levou a polícia de Hampshire a abrir uma investigação.
A polícia estava a preparar-se para extraditar Smyth para o interrogar quando este morreu.
Esta terça-feira, Justin Welby anunciou a renúncia como líder da igreja. “É muito claro que devo assumir a responsabilidade pessoal e institucional pelo longo e traumatizante período entre 2013 e 2024”, justificou numa declaração na qual anunciou a sua renúncia.
“Tendo solicitado a graciosa permissão de Sua Majestade o Rei, decidi renunciar ao cargo de arcebispo de Cantuária”, disse Welby num comunicado publicado no site da Igreja de Inglaterra, onde assume que foi informado em 2013 sobre os abusos sexuais, embora ressalve ter sido igualmente informado de que a polícia também tinha sido notificada. “Acreditei erradamente que seria seguida uma resolução apropriada”, assegura.