A autorização de Biden significa que a NATO entrou em guerra com a Rússia?

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

O presidente norte-americano, Joe Biden, autorizou hoje pela primeira vez a Ucrânia a usar de mísseis de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos para atacar território da Rússia.

Tal decisão constitui uma importante alteração à política dos Estados Unidos e ocorre no momento em que Biden está prestes a deixar a Casa Branca e o presidente eleito, Donald Trump, prometeu reduzir o apoio norte-americano à Ucrânia e acabar com a guerra o mais rapidamente possível.

Para que vão servir estes mísseis?

Os mísseis de longo alcance serão provavelmente usados em resposta à decisão da Coreia do Norte de enviar milhares de militares para a Rússia, para apoiar a continuação da guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022 pelo presidente russo, Vladimir Putin, segundo as fontes da AP, que falaram a coberto do anonimato.

A informação foi avançada também pelo The New York Times e AFP, citando responsáveis norte-americanos que pediram anonimato.

Usar estas armas dos EUA significa, para a Rússia, que a agressão também é desse país?

A 12 de setembro, Putin tinha advertido de que uma autorização dos países ocidentais à Ucrânia para ataques com mísseis de longo alcance contra território russo significaria que “os países da NATO estão em guerra com a Rússia”.

“Se esta decisão for tomada, significará nada menos do que o envolvimento direto dos países da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte, bloco de defesa ocidental) na guerra na Ucrânia”, avisou Putin.

“Isso mudaria a própria natureza do conflito. Significaria que os países da NATO estão em guerra com a Rússia”, acrescentou Putin num vídeo publicado na altura na plataforma digital Telegram.

No dia de hoje, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo declarou que Vladimir Putin já avisou o Ocidente das consequências de permitir que Kiev utilize armas de longo alcance para ataques em território russo.

"O presidente já fez uma declaração sobre o assunto", disse a porta-voz Maria Zakharova ao portal digital RBC, numa aparente referência a declarações emitidas pelo líder do Kremlin em setembro passado e reproduzidas nas últimas horas por vários meios de comunicação russos.

Já no dia 13 deste mês o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia alertou que a eventual autorização do Ocidente à Ucrânia para atacar alvos em território russo com mísseis de longo alcance terá uma resposta "imediata e destrutiva".
Como é que a Rússia pode responder?

Putin afirmou a 25 de setembro, numa reunião do Conselho de Segurança da Rússia, que as propostas para “clarificar” a doutrina sobre o uso de armas nucleares incluem considerar como agressor da Rússia qualquer potência nuclear que apoie um ataque de um país terceiro.

“Foi proposto considerar a agressão à Rússia por um país não-nuclear, mas com a participação ou apoio de um país nuclear, como um ataque conjunto contra a Federação Russa”, declarou o chefe de Estado russo, numa clara referência à Ucrânia, que tinha pedido autorização aos Estados Unidos e a outros países ocidentais para usar mísseis fornecidos por estes em ataques ao território russo.

Durante a reunião, Putin não especificou se a Rússia poderia responder a um ataque nos termos descritos.

Contudo, a atual doutrina prevê que Moscovo use o seu arsenal nuclear “em resposta ao uso de armas nucleares e outros tipos de armas de destruição em massa contra si e/ou seus aliados, bem como em caso de agressão contra a Federação Russa com o uso de armas convencionais, quando a própria existência do Estado está em perigo”.

Citada pela AP, a versão revista do documento prevê mais pormenorizadamente as condições do uso de armas nucleares, como em caso de um forte ataque aéreo envolvendo aviões, mísseis de cruzeiro ou 'drones' (aeronaves não-tripuladas).

*Com Lusa

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