Covid19. Negacionistas podem ir a tribunal. Maiores restrições diminuíram a mortalidade e um negacionista pode mandar na saúde nos EUA

Ana Maria Pimentel
Ana Maria Pimentel

O Ministério Público pediu hoje a ida a julgamento de todos os arguidos no processo dos negacionistas da covid-19 acusados de injúrias e tentativas de agressão ao almirante Henrique Gouveia e Melo e a Eduardo Ferro Rodrigues.

As situações em causa ocorreram durante a pandemia, uma delas em agosto de 2021, quando os manifestantes negacionistas gritaram “assassino” e “genocida” contra o então coordenador da task force do plano de vacinação contra a Covid-19, junto ao centro de vacinação em Odivelas, e a outra aconteceu um mês depois, junto ao parlamento, quando chamaram “pedófilo” e “nojento” a Ferro Rodrigues, que se deslocava a pé com a mulher para almoçar num restaurante nas imediações.

O pedido do Ministério Público surge um dia depois de um estudo concluir que os países da Europa Ocidental que sofreram a menor mortalidade relacionada à covid19, terem sido aqueles que implementaram restrições sanitárias mais rapidamente, com exceção do caso especial da Suécia, que se saiu bem sem medidas restritivas.

Conduzido por investigadores do Instituto Pasteur, na França, e publicado na revista BMC Global and Public Health, o estudo comparou a situação em 13 países da Europa Ocidental entre 2020 e 2022, durante o pico da epidemia de covid19.

Os investigadores mediram o excesso de mortalidade, ou seja, o excesso de mortes em comparação com as esperadas em condições normais.

Embora estudos semelhantes já tenham sido realizados num número maior de países, o interessante dessa análise é que identifica os fatores que influenciaram a mortalidade em países desenvolvidos com sistemas de saúde de desempenho globalmente comparável.

Os autores destacam dois fatores principais: “Rápida implementação de vacinas entre os mais vulneráveis”, especialmente os idosos a partir de 2021, e, antes disso, durante o início da epidemia na primavera de 2020, “implementação precoce de intervenções não farmacêuticas”.

Este último termo refere-se principalmente às restrições sanitárias aplicadas na maioria dos países face à covid19, em particular os confinamentos rigorosos no início de 2020.

Os países que lidaram melhor com o primeiro estágio da epidemia foram aqueles que impuseram restrições antes que os hospitais ficassem sobrecarregados, como a Noruega.

Em contrapartida, o Reino Unido, que levou mais tempo a implementar restrições, teve de longe a maior mortalidade nos primeiros meses da epidemia. Outros países, como a França, foram medianos.

Um caso particular é a Suécia, cuja abordagem foi controversa. A Suécia implementou restrições leves desde o início, mas evitou o confinamento total.

Nos primeiros meses da pandemia, a mortalidade na Suécia aumentou gradualmente, superando claramente a dos seus vizinhos escandinavos, Dinamarca e Noruega. No entanto, esta última teve um aumento significativo na mortalidade no final de 2021 e início de 2022, enquanto a Suécia foi menos afetada.

Em conclusão, esses três países, juntamente com a Irlanda, são os que melhor lidaram com a pandemia no período de 2020-2022.

No outro extremo, Itália, seguida pela Bélgica e pelo Reino Unido, foram os mais severamente afetados.

Anos depois, a pandemia continua a ser um trauma que volta e meia regressa à atualidade. Ainda hoje, mais de 75 vencedores do Prémio Nobel enviaram, uma carta aberta aos senadores americanos, na qual expressam a sua oposição à nomeação de Robert Kennedy Jr. como secretário de Saúde dos Estados Unidos, em particular pela sua "falta de experiência" e a sua posição antivacinas.

"Tendo em conta o seu histórico, pôr o senhor Kennedy à frente do Departamento de Saúde representaria um risco para a saúde pública", escreveram na carta os 77 prémios Nobel de Medicina, Física, Química e Economia.

Entre os signatários está Drew Weissman, Nobel de Medicina em 2023 pelo trabalho no desenvolvimento das vacinas de RNA mensageiro, decisivas na luta contra a covid19.

Robert Kennedy Jr., sobrinho do presidente assassinado John F. Kennedy, fez campanha durante um tempo como candidato à Presidência antes de desistir da corrida presidencial e declarar apoio a Donald Trump.

O republicano o recompensou, concedendo-lhe um ministério, mas esta nomeação deve ser submetida à votação no Senado, como determina a Constituição.

Ex-advogado de direito ambiental, sem formação científica, espalhou teorias conspirativas sobre as vacinas contra a covid19 e supostos vínculos entre a vacinação e o autismo, e pede que seja suspensa a adição de flúor à água canalizada, apesar de ser considerado um grande êxito sanitário no combate às cáries.

"Além da sua falta de qualificação ou experiência relevante nos campos da medicina, da ciência, da saúde pública ou do governo, Kennedy opôs-se a muitas vacinas que permitiram proteger a saúde e salvar vidas, como as do sarampo e da poliomielite", denunciam os signatários da carta.

"Instamos que votem contra a confirmação à sua nomeação como secretário da Saúde", pedem aos senadores.

Vários escolhidos de Donald Trump para a administração geraram polémica.

Foi o caso, por exemplo, de Pete Hegseth, ex-militar e apresentador da Fox News, escolhido para chefiar o Pentágono apesar das acusações de agressão sexual e consumo excessivo de álcool.

Matt Gaetz, a sua primeira opção para o cargo de procurador-geral, foi obrigado a desistir após ser acusado de abusar sexualmente de uma menor de idade.

*Com agências

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