
A investigação, publicada na Nature Physics e citada na segunda-feira pela agência Europa Press, detalha uma mistura de azeite, água e partículas magnetizadas que, quando agitadas, se separam rapidamente no que se assemelha às linhas classicamente curvilíneas de um vaso grego.
"Imagine o seu molho de salada italiano favorito", frisou Thomas Russell, professor de ciência e engenharia de polímeros na Universidade de Massachusetts Amherst e um dos principais autores do artigo."É feito de azeite, água e especiarias e, antes de o colocar na salada, agita-se para misturar todos os ingredientes”, acrescentou.
São estes temperos, estes pequenos pedaços de alguma coisa, que permitem que a água e o azeite, que são normalmente mutuamente excludentes, se misturem, um processo chamado emulsificação, descrito pelas leis da termodinâmica.
A emulsificação é a base para uma vasta gama de tecnologias e aplicações que vão muito além dos condimentos e, um dia, o estudante de pós-graduação Anthony Raykh estava no laboratório a misturar um lote deste “molho para salada” científico para ver o que poderia criar.
Só que em vez de especiarias, utilizou partículas de níquel magnetizadas, "porque se pode conceber todo o tipo de materiais interessantes com propriedades úteis quando um fluido contém partículas magnéticas", contou Raykh, citado num comunicado.
Preparou a mistura, sacudiu-a e, para sua surpresa, a mistura assumiu a forma perfeita de um vaso grego. Não importava quantas vezes ou com que força a sacudisse, a urna voltava sempre ao seu formato original.

Raykh ficou surpreendido com a descoberta e andou pelos corredores do Departamento de Ciência e Engenharia de Polímeros a bater à porta dos professores a perguntar se sabiam o que se estava a passar.
Ninguém sabia. Mas chamou a atenção de Russell e David Hoagland, professor de ciência e engenharia de polímeros, outro autor sénior do artigo e especialista em materiais macios.
A equipa conduziu experiências e contactou colegas das universidades de Tufts e Syracuse para criar simulações. Juntos, o esforço colaborativo determinou que o magnetismo, o magnetismo "forte", explica o fenómeno inexplicável que Raykh tinha descoberto.
"Ao observar atentamente as nanopartículas de níquel magnetizadas individuais que formam a fronteira entre a água e o azeite, podemos obter informações extremamente detalhadas sobre a forma como as diferentes formas se montam. Neste caso, as partículas são tão fortemente magnetizadas que a sua montagem interfere no processo de emulsificação, descrito pelas leis da termodinâmica”, sublinhou Hoagland.
Normalmente, as partículas adicionadas a uma mistura de óleo e água diminuem a tensão na interface entre os dois líquidos, permitindo que estes se misturem.
Mas, curiosamente, as partículas com magnetismo suficiente aumentam a tensão interfacial, curvando a fronteira entre o azeite e a água numa curva elegante.
"Quando se vê algo que não deveria ser possível, é preciso investigar", realçou Russell.
Embora ainda não haja qualquer aplicação para a sua nova descoberta, Raykh está entusiasmado para ver como este estado sem precedentes pode influenciar o campo da física da matéria mole.
Comentários