E de repente, chega. Uma mensagem de texto no telemóvel alerta-o para o momento. Um olhar pela janela confirma-o. Chegou. Abre a porta, abeira-se da estrada, insere o código e o compartimento abre-se. No interior, gloriosa e fumegante, ei-la, por fim chegada, a pizza, encomendada minutos antes.
Dito assim parece que estamos a elevar a cunhos de grandeza um ato mundano e simples - a distribuição de pizzas. Mas a verdade é que esta entrega em particular é a prova da inteligência humana. O motivo? O carro, um enorme Ford Fusion, veio sozinho, do restaurante em Ann Arbor, cidade a nordeste de Detroit, no Michigan, Estados Unidos da América.
O desenvolvimento de carros autónomos, automóveis que não precisam de condutor, tem sido uma aposta de várias marcas empresas. Para a Ford, que até agora parecia ter-se atrasado neste caminho dos carros que andam sozinhos, a viagem começa numa pizzaria.
Mais precisamente na Domino’s de Ann Arbor. Para isso, o carro, explica o jornal ‘New York Times’, está cheio de sensores, eletrónica e software para não se perder com uma pizza quente a caminho dos clientes.
Para o responsável pelo digital desta cadeia de pizzarias, esta experiência serve sobretudo para aprender. “Ninguém sabe realmente o que vai acontecer quando os clientes se aproximarem do carro. São confrontados com o automóvel. Não há interação humana”, diz Dennis Maloney.
“O que acontece se chegarem ao carro pelo lado errado? Sairão as pessoas de casa? Queremos perceber tudo isso”, diz.
À parte os autocolantes, o carro é pouco diferente dos outros. Tem no tejadilho uma espécie de latas que rodam - são os sensores que permitem ao carro conduzir-se. Fora isso (e o ecrã tátil ao lado da janela), tudo é aparentemente normal.
Só que quando se abre a janela de trás, onde deveriam estar bancos está um compartimento com capacidade para até cinco pizzas e outros quatro pedidos complementares.
É tudo feito com o telemóvel. Quando o carro se aproxima de casa somos alertados com uma mensagem de texto e, quando finalmente chega, recebemos outra. Algures por aí surge também o código que permite que o vizinho não nos furte o jantar.
Por agora, apesar de o carro conduzir sozinho, o distribuidor de pizza autónomo de Detroit vai andar com três passageiros. No lugar do condutor, estará um piloto de segurança, pronto a intervir caso a máquina tenha problemas. Ao lado dele vai um engenheiro da Ford para analisar os dados recolhidos. E atrás vai um funcionário da Domino’s, para responder a todas as questões de Dennis Maloney.
Há vantagens? Para o cliente sim. Pelo menos nos Estados Unidos, onde as gorjetas são uma importante fonte de rendimento dos empregados do ramo. Não havendo empregado, não há gorjeta (que normalmente ronda os 15%, mas é uma longa discussão).
Mas e os atuais distribuidores de pizzas, o que lhes acontece quando não forem precisas três pessoas para conduzir um carro autónomo? Kelly Garcia, um dos responsáveis pelo e-commerce (comércio eletrónico) da cadeia de pizzarias, diz que o objetivo destas experiências é perceber como os clientes interagem com carros autónomos e não eliminar condutores.
Neste momento a empresa tem cerca de 100 mil motoristas e vagas abertas para mais dez mil. “Podemos usar os carros autónomos para as alturas em que haja falta de condutores ou quando houver um aumento de pedidos”, explica. “Teremos condutores durante muito tempo. Esta não é uma questão de reduzir custos laborais”.
A experiência começa em setembro. A Ford espera ter os primeiros carros autónomos para uso comercial em 2021. Por agora, com a Domino's, o carro autónomo da marca da oval azul vai distribuir os pedidos de clientes selecionados aleatoriamente, num Fusion híbrido.
Como questiona a agência Reuters, resta saber como é que se leva a pizza até ao quinto andar de uma residência universitária, ou se arranca alguém do sofá para ir à rua tirar uma pizza da janela de um carro sem ninguém.
Comentários