A Blockchain entrou na esfera pública nacional, finalmente. Finalmente porque, ao contrário do que se pode entender pela sua viral aparição no programa de Cristina Ferreira por via de Miguel Sousa Tavares, esta tecnologia não é nova. Não o é, pelo menos, em “idade de internet”. E também não é desenvolvida por americanos para combater “fake news” — ainda que essa possa, sem dúvida, ser uma das utilizações que esta forma de encriptar informação pode ter. Sublinhemos, contudo, o “pode”.

Falar em Blockchain é, de certa maneira, falar em Bitcoin, a moeda digital. Sim, a mesma “criptomoeda” que está atualmente cotada em mais de 20 mil euros. Tanto a Blockchain como a Bitcoin são criações irmãs, cunhadas pela mesma pessoa: o misterioso Satoshi Nakamoto, figura da qual ainda pouco se sabe e cuja identidade real não está revelada.

Os princípios tecnológicos que justificam o valor da Bitcoin, além dos especulativos, são a encriptação e a descentralização da informação, que a torna mais fidedigna do que seria normal. Ora, estes são os princípios que descrevem o que a Blockchain faz. A Bitcoin assenta, assim, na tecnologia Blockchain, uma espécie de base de dados descentralizada.

A Blockchain é uma base de dados que funciona com cadeias de informação criptografadas e descentralizadas. Resumidamente, o que esta faz é registar uma série de informações que ficam fechadas num “bloco”, que é guardado em vários servidores diferentes (ao contrário de recorrer apenas a um para guardar essa informação, daí a “descentralização”). Isto torna a informação mais difícil de adulterar, porque a possibilidade de alterar um dos blocos de informação é possível, apenas, no caso de se conseguir aceder a todos os pontos por que este se encontra distribuído.

No caso da Bitcoin, por exemplo, acontece que cada transação é escrita num bloco de informação até que haja transações suficientes, altura em que um bloco é fechado e acrescentado à cadeia. De sublinhar, também, que nem todas as criptomoedas usam esta mesma tecnologia, e há outras que a usam de formas diferentes, como é o caso da Ethereum (neste caso, é possível pagar comissões para acelerar o processo de fechar um bloco e acelerar as transações de uma “carteira” para outra; esta possibilidade levou, em Junho, a um engano que custou 2,6 milhões de dólares a um utilizador).

A Blockchain é muito utilizada por startups, que baseiam as suas soluções tecnológica nesta forma de encriptar informação. E as startups portuguesas não são exceção na sua utilização. A Vawlt Technologies, uma empresa  que trabalha soluções de segurança de dados surgida na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, usa a Blockchain como uma das possibilidades de encriptar informação sensível; já a Taikai, startup portuense, criou uma plataforma para desenvolver hackathons que assenta totalmente na tecnologia Blockchain.

As suas aplicações são, claro, impossíveis de calcular e já se estendem do típico SaaS (software enquanto serviço) até à arte, havendo, desde 2017, quem organize raves na cidade de Berlim fazendo a sua divulgação através de redes públicas de Blockchain (assegurando que apenas pessoas de confiança têm acesso ao evento, sem por isso precisarem de controlar todo o processo). Assim sendo, não é de estranhar que haja quem, de facto, esteja a desenvolver uma aplicação para esta tecnologia que vise combater as fake news difundidas na internet. Contudo, é importante dizer que o propósito da Blockchain, assim como o seu surgimento e altura em que foi criada, são realidades distintas do problema que Miguel Sousa Tavares determinou como razão da sua existência. Aliás, tendo o Facebook e as novas redes sociais atingido o seu pico em meados de 2009/2010, podemos mesmo arriscar dizer que a criação da Blockchain precede o problema das fake news.

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