O mercado de capital de risco na União Europeia estabilizou este ano, após os picos atípicos de investimento durante a pandemia. Embora o total de capital investido tenha sido ligeiramente inferior ao de 2023, o ecossistema europeu continuou a demonstrar resiliência e potencial de crescimento, mantendo níveis superiores aos registados antes de 2020.

De acordo com o relatório State of European Tech, da Atomico, o investimento em startups europeias deverá atingir cerca de 45 mil milhões de dólares este ano, um valor alinhado com o crescimento sustentado da última década. Apesar de representar uma ligeira queda em relação aos 47 mil milhões registados em 2023, este número é 20% superior ao de 2020 e três vezes maior do que o valor registado em 2015. Será que o mercado europeu atingiu um novo patamar de maturidade, mesmo num contexto de ajustamento económico global?

Principais setores e tendências

O financiamento em 2024 refletiu a crescente diversificação do ecossistema europeu. Setores como a sustentabilidade, que captaram 21% do total de investimento, continuam a destacar-se, quase duplicando o valor registado nos Estados Unidos (11%). Áreas como fintech e Inteligência Artificial mantêm-se relevantes, impulsionadas pela força de trabalho altamente qualificada e pelas infraestruturas de apoio às startups na região.

E por falar em força de trabalho, contra todas as expectativas, o setor tecnológico europeu mostra que está a conseguir reter novos talentos no continente, e os dados provam-no: os trabalhadores desta área já são 3,5 milhões.

Para se ter uma ideia, a grande maioria destes colaboradores juntou-se nos últimos dez anos, com quase 3 milhões de postos de trabalho criados nesse período. O setor está a crescer a 24% ao ano, o que coloca a Europa em linha com o já estabelecido mercado norte-americano.

Veja aqui o episódio 1 da minissérie “Beyond The Summit” do The Next Big Idea: "Como manter a Europa na frente da inovação"

A persistência do growth funding gap

Apesar do interesse dos trabalhadores pelo espaço europeu, este não vem sem as suas limitações. Um dos maiores desafios à vista continua a ser a quantidade de fundos disponíveis para as várias fases de crescimento das startups europeias. Ou seja, empresas europeias em fases avançadas captaram menos financiamento em comparação com as suas concorrentes dos Estados Unidos.

Este problema estrutural dificulta a transição das startups para empresas de grande escala e leva muitas a procurar capital fora da Europa, frequentemente nos Estados Unidos.

Ainda assim, esta não é uma questão que passa despercebida pelas instituições europeias. Durante a Web Summit, conversámos com Bjorn Tremmerie, Head of Venture Capital do Fundo Europeu de Investimento (FEI), que afirmou: “Na fase inicial de investimento, um euro em cada quatro investidos a nível mundial está a ser canalizado para a Europa. Podemos afirmar que, nesta fase inicial, estamos relativamente bem posicionados. Contudo, o verdadeiro desafio surge quando as empresas iniciam a fase de crescimento: não dispomos de fundos suficientes com capacidade financeira para liderar uma ronda de crescimento substancial. Referimo-nos, por exemplo, a rondas de 100 ou 200 milhões de euros.”

Falta de cultura de exits na Europa?

Outra questão que surge quando falamos da competitividade das startups europeias está relacionada com os exits, ou seja, a venda de startups ou a sua entrada em bolsa. Em 2015, havia apenas 8.000 startups em fase inicial na Europa, um número que quadruplicou para mais de 35.000 em 2024. Já o volume de exits na Europa cresceu apenas 150% entre 2015 e 2024, o que significa que ainda há muito valor por explorar, atualmente retido nas startups.

Noutra das nossas conversas durante a conferência tecnológica, falámos com Miguel Alves, Country Manager do FEI, que deixou claro: “Na Europa, os nossos fundadores não estão tão focados em exits. A cultura de exits é mais comum nos EUA. Muitas vezes, os exits representam uma grande mudança para as empresas, seja porque os gestores de fundos assumem um papel menor nas empresas, seja porque os fundadores deixam de as controlar.”