Para falar desta indústria há três perguntas importantes que têm de ser respondidas:

  • O que são semicondutores?

  • Porque é que há uma escassez generalizada no seu fornecimento?

  • Porque é que nos devíamos preocupar com isso?

Começando pelo princípio, os semicondutores são microchips avançados que estão presentes em todos os produtos eletrónicos que utilizamos no nosso dia-a-dia. São eles que dão "poderes" a smartphones, computadores, televisões, smartwatches, rádios, equipamentos médicos, equipamentos industriais e ao frigorífico lá de casa. Ao longo dos anos, à medida que as empresas por detrás destes produtos foram investindo em novas funcionalidades, foi crescendo também a procura por estes chips, que permitiam que essas se tornassem realidade.

A pandemia veio acentuar ainda mais essa dependência. Os sucessivos confinamentos, a implementação de trabalho remoto e a maior utilização de uma série de serviços e de produtos como computadores, consolas e outros dispositivos inteligentes levaram a que houvesse uma crescente procura por semicondutores por parte das empresas que queriam servir o mercado e estas novas necessidades.

O mercado de semicondutores é composto por dois tipos de empresas:

  • As Fabless - empresas como a Apple, a Microsoft, a Nvidia, a Ryzen, a Intel, entre outras - são responsáveis pelo design dos chips e pela forma como são colocados em vários tipos de produtos.

  • As Foundries, empresas mais desconhecidas como a TSMC, sediada no Taiwan, ou a própria Samsung, que são responsáveis pela produção destes chips e em muitos casos pela própria integração dos mesmos nos produtos.

Em 2020, as empresas americanas representaram 47% das receitas globais da venda de semicondutores, mas foram responsáveis pela produção de apenas 12% destes chips. Isto porque, tal como todas as indústrias globalizadas, são empresas sediadas na China e em outras regiões do Sudeste Asiático, que se encarregam da sua manufaturação. E é precisamente nesta dinâmica que reside uma das principais causas para a crise atual.

Os semicondutores são atualmente uma indústria de cerca de 450 mil milhões de dólares e, devido à sua importância, tornaram-se num dos pilares da guerra económica que os EUA e a Europa estão a travar com a China. Se, do lado do Ocidente, tem havido uma série de bloqueios e aplicações de tarifas a produtos vindos do continente asiático, do lado chinês tem havido uma limitação destas unidades de produção, o que faz com que os chips demorem mais tempo a ser produzidos, a ser integrados nos produtos aos quais estão destinados e, claro, a chegar às prateleiras das lojas onde vão ser adquiridos.

Se juntarmos isto à situação criada pela pandemia, onde subitamente a procura por chips passou a ser muito superior à rapidez com que estes conseguiam estar no mercado, temos a receita perfeita para uma crise. Comprar semicondutores não é o mesmo que comprar os smartphones onde estão inseridos. As Fabless têm de fazer ordens de encomenda às Foundries, as Foundries têm de produzir os chips (processo que pode demorar até seis meses) e os chips têm ainda de chegar aos produtos que depois vamos ter em casa.

O que é que está a ser feito

Não é uma crise fácil de resolver, mesmo após quase dois anos de Covid, e a sua resolução está dependente do posicionamento das diferentes partes envolvidas:
  • Do ponto de vista geopolítico, os EUA, a Europa e a China estão a investir numa maior independência. Isto é, quer de um lado, quer do outro, a ideia passa por fugir à influência que o outro pode ter no processo de produção. Do lado americano, por exemplo, a Intel anunciou, na semana passada, um plano de investimento de 100 mil milhões de dólares em unidades produtivas de chips nos estados do Ohio e Arizona.

  • Do ponto de vista das empresas, é necessário uns ajustes nas supply chains para garantir que os produtos não demoram tanto tempo a chegar ao mercado. A General Motors, por exemplo, previu que ia perder cerca de 2 mil milhões de dólares em 2021, devido à escassez de semicondutores. A Sony já teve de enfrentar uma série de queixas relativas “à pouca disponibilidade" da Playstation 5, consola que já foi lançada há mais de um ano.

Contudo… nem todos estão em crise

Na semana passada, algumas tecnológicas anunciaram os resultados do seu mais recente trimestre e era expectável que alguns dos efeitos da crise de semicondutores se fizessem sentir. Mas não foi isso que aconteceu.

  • A Microsoft apresentou resultados recorde com 51,73 mil milhões de dólares em receitas, um crescimento de 22% face ao mesmo período de 2021.

  • A Apple teve 124 mil milhões de dólares em receitas para o trimestre, um crescimento de 11% face ao ano anterior.

  • A Samsung reportou receitas recorde para o último trimestre de 2021, com 63 mil milhões de dólares.

  • A Tesla também fechou o ano fiscal de 2021, com o valor recorde de 17,7 mil milhões de dólares em vendas trimestrais.

Saiba mais sobre a crise dos semicondutores:

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