“Estamos nesse processo de perceber qual é a imagem que queremos ter e como nos apresentarmos, explicar como trabalhamos e tentar encontrar um caminho no meio”.(…) 2021 pode ser designado o ano em que nós começámos a abraçar o conteúdo local”, afirmou a responsável pelo Spotify no Sul da Europa, Melanie Parejo, em entrevista à agência Lusa.
O Spotify, fundado em 2008 na Suécia, está presente em mais de 180 países e territórios, conta mensalmente com 381 milhões de utilizadores ativos, dos quais 172 milhões pagam por uma subscrição.
A plataforma começou por permitir a escuta de música, mas atualmente congrega ainda ‘podcasts’, somando cerca de 70 milhões de faixas que podem ser escutadas em computadores, telemóveis e outros dispositivos com acesso à Internet.
Sobre a presença do Spotify no mercado nacional, quantos portugueses têm conta na plataforma, quantos pagam pelo serviço, Melanie Parejo diz que a empresa habitualmente não disponibiliza dados desagregados por cada território.
A mesma política de proteção de informação é aplicada a detalhes sobre tipos de consumos da plataforma em Portugal, que permitam traçar um perfil mais exacto de quem o utiliza, embora o Spotify divulgue anualmente, em dezembro, as listas dos artistas mais escutados global e em cada país onde está presente.
Este ano, por exemplo, os artistas mais escutados em Portugal no Spotify foram os canadianos Drake, The Weeknd e Justin Bieber, a cantora norte-americana Billie Eilish e o rapper norte-americano Travis Scott.
As três músicas mais ouvidas pelos utilizadores portugueses foram “Montero (Call me by your name)”, de Lil Nas X, “Drivers License”, de Olivia Rodrigo, e “Disco Arranhado – Funk Remix”, da cantora brasileira Malu.
Entre as cinco mais ouvidas está apenas uma música portuguesa, “Borboletas”, do rapper Gama WNTD.
Se se olhar para os álbuns mais escutados naquela plataforma ao longo de 2021, em Portugal, a lista é liderada por “Sour”, de Olivia Rodrigo, seguindo-se “Future nostalgia”, de Dua Lipa, e “Shoot for the stars, aim for the moon”, de Pop Smoke. O quarto álbum mais escutado pelos portugueses foi “Ngana Zambi”, dos portugueses Wet Bed Gang.
A rubrica diária “Extremamente desagradável”, de Joana Marques, na Rádio Renascença, lidera o top dos ‘podcasts’ mais ouvidos no Spotify.
O consumo em Portugal não difere muito do que aconteceu globalmente este ano na plataforma: os utilizadores ouviram sobretudo Bad Bunny, Taylor Swift, BTS, Drake e Justin Bieber.
A presença de Gama WNTD e Wet Bed Gang entre os artistas mais escutados pelos portugueses representa uma das tendências na música portuguesa identificada pelo Spotify, quando em setembro divulgou a existência de ‘playlists’ dedicadas ao “rap tuga”.
Melanie Parejo está à frente do Spotify Sul da Europa – incluindo Portugal – desde outubro de 2019, o que significa que teve pela frente uma pandemia, com grande impacto na indústria da música e nos consumos domésticos.
“O Spotify cresceu de forma consistente em todos os territórios. Teve um crescimento rápido. A pandemia obrigou-nos a ficar em casa e pudemos ver que os hábitos se alteraram”, disse à Lusa.
Em Portugal, mesmo à distância das equipas locais, a responsável espanhola elencou algumas iniciativas que conseguiu desenvolver para os utilizadores no país, nomeadamente campanhas de promoção de artistas, como aconteceu com Julinho KSD, ou a inclusão de artistas mulheres, como Nenny e Dulce Pontes, no programa “Equal”, de promoção da igualdade de género.
“Entrámos um bocadinho tímidos no mercado e a celebrar os artistas locais. Estamos ainda a explorar as particularidades do mercado português. Sabemos que a rádio é importante, a presença da televisão paga é muito interessante, e precisamos de perceber este tipo de público, que tem esta tendência para pagar pela Cultura, e que é muito interessante”, disse Melanie Parejo.
Sendo responsável pelo Spotify em Portugal, Espanha, Itália, Grécia, Turquia e Israel, Melanie Parejo sustenta o trabalho na coordenação de equipas locais em cada um destes países.
São essas equipas que, localmente, se relacionam com as editoras, com as distribuidoras, com os artistas, com os agentes, e que ajudam a tomar as decisões sobre o que oferecer ao consumidor da plataforma.
“É sempre um desafio, em qualquer mercado, dialogar com os independentes e com os mais pequenos, porque há sempre artistas novos a surgir todos os dias. Por isso é que temos equipas locais para sentir o pulso”, explicou à Lusa, embora não tenha adiantado com quantas pessoas trabalha no contexto português.
Questionada sobre os desequilíbrios de visibilidade e remunerações entre artistas de pequenas editoras e outros sustentados em multinacionais, Melanie Parejo reparte responsabilidades com outros agentes da indústria musical.
“Nem todo o artista tem o mesmo contrato com as suas editoras e distribuidoras. Julgo que não há falta de informação da parte dos artistas. Penso que nem todos os artistas assinam o mesmo tipo de contrato, uns têm mais visibilidade do que outros e todos temos de compreender o papel que temos no processo”, disse.
Melanie Parejo diz que a empresa tem feito esforços para “explicar com mais transparência como é feito o pagamento aos artistas, quem é intermediário, o que acontece entre o momento em que se carrega no ‘play’ até ao momento em que o dinheiro chega aos artistas”.
No seu entender, um artista tem de estar presente em todas as plataformas possíveis, “tem de saber onde está o seu público e tem de estar muito atento para onde é que ele vai, se prefere um serviço ou não”.
Atualmente, Melanie Parejo considera que as plataformas de ‘streaming’, e em particular o Spotify, são elementos cruciais no ecossistema da música.
“A palavra disrupção deve ser agora o equivalente a inovação. Trazer mais histórias, mais formas de vivenciar a música, dar mais poder ao utilizador, tê-lo a personalizar o mais possível. Pode ser disruptiva a experiência enquanto utilizador”, considerou, na entrevista à Lusa.
Sobre o futuro destas plataformas, Melanie Parejo aponta o foco para aos adolescentes, que “têm sido uma força motriz em praticamente tudo na Cultura”.
“A forma como consomem música é completamente diferente. Eles criam êxitos virais, aos quais precisamos mesmo de prestar atenção, porque eles descobrem-nos e por vezes nem são novidades. Acho que vamos continuar a ver uma tendência de uma audiência muito jovem que está a criar o seu próprio ecossistema. Eles são tão imparciais, agnósticos!”, exclamou.
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