Depois de Joe Biden confirmar oficialmente a sua recandidatura à presidência dos EUA em 2024, o Comité Nacional Republicano (RNC, na sigla original) respondeu ao anúncio com um vídeo de 30 segundos a atacar Biden, que lança a pergunta: "E se o presidente mais fraco que já tivemos fosse reeleito"? O RNC criou as suas próprias respostas a essa questão e traçou o futuro da América com a ajuda da inteligência artificial (algo que é, de resto, salientado no canto superior esquerdo do vídeo).
O clip começa por retratar Biden e a vice-presidente Kamala Harris numa festa de vitória eleitoral, sendo um pouco óbvio que não se trata de uma fotografia real (há simplesmente demasiados dentes). O vídeo prossegue, mostrando vários cenários possíveis, na ótica do RNC, a nível doméstico e internacional, do que pode vir a acontecer caso a dupla Biden-Harris ganhe novamente as eleições. "Esta manhã, uma China encorajada invade o Taiwan" é um desses exemplos, sendo que outro parece saído diretamente da série da HBO "The Last of Us", nomeadamente pelo facto de o exército estar a ocupar São Francisco uma vez que a cidade foi supostamente dominada pelo crime e pelo fentanil (uma droga muito mais potente do que a heroína).
- À Axios, a RNC explicou que este é o primeiro vídeo que a organização criou com recurso a IA.
Porque é que isto é importante: como frisa a Axios, as imagens geradas por IA, depois de integrarem o mundo da arte ou do jornalismo, vão fazer parte da esfera política e podem influenciar decisões de voto. Não é que a tecnologia não existisse há quatro anos, mas agora a facilidade de acesso e o realismo do material gerado atingiu um ponto que está a deixar os especialistas preocupados.
O ponto de partida?
Como nota a Morning Brew, este vídeo é provavelmente apenas o início de uma corrida presidencial fortemente influenciada pela IA. Embora as campanhas políticas tenham usado ferramentas de IA para angariar eleitores durante anos, os recentes avanços na IA generativa (o ChatGPT, Midjourney e outros programas) levaram a tecnologia a um nível totalmente novo de realismo. De súbito, o velhinho "ver para crer" de nada serve porque já se confunde o que é feito com estas plataformas e o que é real.
- O que já existe: este clip de áudio gerado por IA colocou os gamers Joe Biden e Donald Trump "a conversar" enquanto "jogavam" o videojogo Overwatch — e conquistou o TikTok. Neste caso, apesar de o diálogo ser obviamente centrado para o nicho familiarizado com o que se passa no jogo, a qualidade das vozes e realismo é enorme.
O que é isto sugere e que é que os especialistas temem: uma vez que qualquer pessoa com um computador e uma imaginação fértil pode utilizar programas de IA, a desinformação pode ser produzida rapidamente durante este ciclo eleitoral – especialmente porque as grandes empresas que mandam nas principais redes sociais têm políticas pouco rigorosas para controlar os conteúdos políticos gerados por IA.
No entanto, há quem saliente outro fator a ter conta: a desinformação já se espalha bem sem IA. E já durante as eleições presidenciais de 2020 se temeu que as deepfakes iriam semear o caos e confundir os eleitores. Contudo, segundo os especialistas contactados pela emissora NPR na altura, os maiores danos aconteceram na esfera pessoal (devido à criação de pornografia não consensual) e não na política (não porque não fossem uma ameaça, mas porque a "mentira" e a "edição normal" de conteúdo falso estavam a "funcionar bem").
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