Costumam ser os drones a captar a atenção. Capazes de cruzar os céus durante horas a fio em voo autónomo, são teoricamente aptos para tomar decisões de disparo terminal. Mas estes não são os únicos sistemas de armamento em que o uso de robôs está a ser estudado em cenários de guerra. Sucedem-se projetos de aeronaves de combate ou pequenas embarcações que patrulham os mares sem necessitar de tripulação. Mas há outra área que atrai a atenção, a clássica guerra terrestre também está a ser transformada pela automatização.
Os dois projetos de UGV, unmanned ground vehicle, de que falamos neste artigo, mostram que não só os robôs estão a ser preparados para o combate, como também estão a começar a ser testados no terreno.
Titan, o robô de reconhecimento letal
Ao chegar à praia, as tropas de assalto desembarcam atrás de veículos que parecem jipes com lagartas armados. Mas estes não estão a ser conduzidos por ninguém. À frente dos soldados humanos, robôs desbravam o caminho nos momentos mais perigosos do desembarque. Estão na linha da frente para neutralizar as defesas inimigas, minimizando o risco para os soldados.
Este cenário concretizou-se recentemente num exercício militar na Cornualha. Nele, unidades dos Royal Marines britânicos tomaram de assalto uma praia, acompanhadas de robôs. No terreno, encontravam-se os Titan, desenvolvidos a partir da plataforma THeMIS da Milrem Robotics pela Qinetiq, a agência britânica de desenvolvimento de tecnologias militares de ponta.
Estes robôs são uma plataforma modular e podem ser usados para missões de transporte e salvamento. Mas, adaptando-lhes armas pesadas, também podem atuar em missões de ataque. O uso de veículos autónomos não se esgotou com estes robôs. Nos céus, drones providenciavam apoio e vigilância, fazendo reconhecimento e identificando alvos.
Este exercício levado a cabo pelos Royal Marines é um exemplo das formas como as forças armadas, um pouco por todo o mundo, estão a desenvolver novas táticas de combate apoiadas em robôs. O uso de drones para vigilância, reconhecimento e ataque a longa distância já se normalizou nas operações militares contemporâneas. Agora, o próximo desafio está no desenvolvimento de veículos terrestres autónomos e armados, capazes de intervir diretamente na frente de combate.
THeMIS na guerra urbana
Nas fronteiras do báltico, um robô patrulha zonas isoladas. Em caso de incursão inimiga, este reage com força mortífera. Este é o THeMIS. projeto desenvolvido na Estónia, numa colaboração entre empresas estonianas e de Singapura. O seu objetivo é desenvolver um robô de combate semi-autónomo. O protótipo já foi testado em exercícios de fogo livre.
Este robô de combate está a ser desenvolvido em conjunto pela Milrem, uma empresa da Estónia, e a ST Engineering, de Singapura. O THeMIS é blindado e está armado com uma metralhadora pesada de 12,7 mm, e um lançador de granadas. É capaz de se mover em terrenos acidentados e cruzar cursos de água, a uma velocidade de cerca de 20 quilómetros por hora. O seu motor diesel-elétrico confere-lhe uma autonomia de cerca de 15 horas. Estas características permitem-lhe cumprir a missão para a qual foi concebido e que é de servir como elemento de apoio a tropas em ambientes de combate urbanos ou rurais. Esta plataforma de sucesso foi escolhida pela Qinetiq para o desenvolvimento do UGV Titan.
No entanto, o THeMIS não é completamente autónomo. As decisões de ataque são conduzidas por operadores, a cerca de 1 km de distância. Ao THeMIS são acopladas estações de armamento remoto ADDER. A curta distância de controlo remoto sublinha que este robô foi primariamente concebido para apoio de proximidade. Este projeto, já em testes ativos, junta-se ao crescente número de máquinas de combate que estão em desenvolvimento.
Robots nas trincheiras
Esta nova geração de soldados está agora a nascer. Entre projetos desenvolvidos de raiz ou adaptações militares a hardware comercial, estamos cada vez mais próximos do uso de máquinas de combate autónomas nos campos de batalha. Não correspondem à imagem do robot humanóide assassino gerada pela ficção científica — até porque se tem mostrado que a forma humana não é a mais eficaz para cenários flexíveis de robótica. Tal como os robôs civis, estas máquinas de guerra são concebidas com as formas mais apropriadas ao desempenho eficaz das suas funções.
Se potencialmente poderão diminuir as vítimas dos combates, levantam enormes questões éticas, especialmente na legitimidade da automatização de decisões com consequências letais. Isto coloca na discussão propostas de moratória aos robôs de combate, embora se saiba que nos complexos jogos geoestratégicos, seja pouco realista.
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