Tudo começou com uma declaração de amor em fevereiro deste ano, não no Dia dos Namorados, mas na semana anterior. A Tesla anunciou que tinha investido 1,5 mil milhões de dólares em Bitcoin e que ia passar a aceitar a criptomoeda como meio de pagamento dos seus carros elétricos. Foi um sinal de confiança na moeda que, nas semanas seguintes, iria atingir uma valorização recorde, superior a 60 mil dólares. Foi uma decisão que também desbloqueou alguns entraves que existiam nos mercados financeiros, levando empresas como a Visa e a Paypal a aceitarem criptomoedas nas suas plataformas e bancos como a Goldman Sachs ou a JP Morgan a oferecerem produtos de investimento que as tivessem em conta.
Na altura do anúncio, muitos foram os críticos a apontar que esta decisão da Tesla não ia propriamente ao encontro dos seus valores ambientais e sustentáveis que tanto promovia através dos seus carros elétricos. Elon Musk, CEO ou Technoking da Tesla, parece não ter prestado muita atenção a esses reparos quando o amor pela criptomoeda se desenrolou, no entanto, acabada a fase de lua mel, os problemas da relação vieram ao de cima. Na semana passada, num tweet (obviamente) Musk revelou que a Bitcoin já não poderia ser utilizada na compra dos seus carros, enquanto não fossem encontrados métodos mais sustentáveis de trabalhar com a rede blockchain da plataforma. Quão grande é o impacto ambiental da Bitcoin? Vamos a alguns números:
- A Bitcoin utiliza 0.5% de toda a eletricidade produzida no mundo inteiro, através das suas transações e operações de mining. É um consumo superior ao de toda a Argentina, que tem uma população de 45 milhões de pessoas.
- Uma transação em Bitcoin gasta 707 KWh de energia, 11x mais do que a Ethereum (a 2ª maior criptomoeda) e 6.000x mais do que Dogecoin (a meme coin que já é a 4ª moeda digital com maior capitalização).
- Uma transação em Bitcoin gasta a mesma energia que 1 milhão de transações em Visa e o equivalente a 78 mil horas a ver vídeos no YouTube.
Isto acontece porque a complexa rede da Bitcoin exige que sejam feitas milhares ou mesmo milhões de tentativas para que uma transação seja resolvida dentro da blockchain e que os miners tenham a sua devida recompensa (em moedas). Este processo significa que acaba por ser gasta muita eletricidade que, na maior parte dos casos, ainda é produzida através de combustíveis fósseis, nocivos para o planeta. Contudo, algumas teorias apontam para o potencial de a Bitcoin poder subsidiar o investimento em energias renováveis. Resta ver.
What’s next? A decisão de Musk causou uma quebra no mercado das criptomoedas:
1) A Bitcoin desvalorizou cerca de 25% e vale agora 42 mil dólares (à data de publicação desta newsletter)
2) Globalmente, o mercado viu +400 mil milhões de dólares serem eliminados da sua valorização, dado que muitas criptomoedas estão correlacionadas com o valor da Bitcoin.
Ainda não se sabe que caminho o bilionário sul-africano vai seguir, mas, para já, estas são algumas ideias que podem ser tiradas da sua atividade no Twitter.
- A Tesla não vai vender as suas Bitcoins, nem aceitar a moeda em transações até que sejam encontrados métodos mais sustentáveis de operar com a mesma.
- A Tesla vai procurar soluções que outras criptomoedas possam oferecer, nomeadamente aquelas que conseguirem gastar menos de 1% da energia total gasta pela Bitcoin.
- Já é difícil distinguir a piada da verdade, mas, na semana passada, Musk lançou uma sondagem na sua conta que perguntava aos seus seguidores se a Tesla deveria utilizar a Dogecoin como método de pagamento. 4 milhões de pessoas responderam e, destas,78% disse que sim.
Não sabemos se Musk está pronto para seguir em frente e encontrar um novo amor, mas o apoio constante à Doge, seja com memes, seja em sketchs humorísticos, seja ao dar o nome Doge-1 a um dos foguetes da SpaceX, parece indicar que sim. Este é mais um exemplo da influência do bilionário e de como as suas palavras influenciam o rumo que os mercados financeiros podem tomar.
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