Não é de todo uma missão “Game-Changer”, mas como todas as missões espaciais, esta dos Emirados Árabes Unidos (EAU) é muito importante. Em primeiro lugar não é uma missão com o peso científico do Curiosity ou do Perseverance, que vai ser lançado dia 30 deste mês. De facto vai até investigar uma questão que já foi várias vezes abordada no passado ou seja vai centrar-se na investigação do clima e da atmosfera de Marte.
Há contudo um ponto de interesse. É que este orbitador vai especificamente estudar os ciclos climáticos, tanto diários como sazonais, os eventos climáticos na atmosfera mais baixa de Marte, como por exemplo tempestades de poeira, ou como o clima varia entre as diversas regiões do planeta vermelho. Por esta razão, este orbitador poderá conseguir responder a como se dá, por exemplo, a perda de oxigénio e hidrogénio para o Espaço, bem como porque há mudanças drásticas de clima.
We need “Hope” to get to Mars...
Enviar um orbitador até Marte aparentemente não tem nada de transcendente. Actualmente estão em redor do planeta seis orbitadores (o Mars Odyssey, o Mars Express, o Mars Reconnaissance Orbiter, o Mars Atmosphere and Volatile Evolution Missile – MAVEN, Mars Orbiter Mission ou MOM, embora seja mais conhecido por Mangalyaan (índia) e o ExoMars Trace Gás Orbiter – TGO), para além das duas sondas de superfície (o rover Curiosity e o lander InSight).
A questão aqui é: é realmente difícil chegar a Marte para lá colocar um orbitador. Os estudiosos do Espaço estão genericamente de acordo que o planeta foi um sonho despertado por H.G. Wells com o romance “War of the Worlds”, onde uma civilização marciana aguardava pacientemente o momento certo para conquistar a Terra aos humanos. Assim, a curiosidade por Marte não só inspirou o primeiro cientista de foguetes, o conhecido Robert H. Goddard, como também aliciou a Ciência a lançar uma cruzada ao planeta vermelho.
Contudo, das 56 missões lançadas ao planeta vermelho desde os anos 60, apenas 26 foram bem-sucedidas. Das 12 missões de pouso ou “Landing”, apenas 8 resultaram e são os sucessos da NASA: a sonda Viking 1 e Viking 2 (as duas em 1976), o Pathfinder (1997), o Spirit and e o Opportunity (os dois em 2004), a Phoenix (2008), o Curiosity (2012) e a InSight (2018). Para além disso a Rússia conseguiu estacionar duas sondas em 1971 e 1973.
No entanto, pousar em Marte é muito complicado, por causa da sua atmosfera muito fina é fácil despenhar uma sonda. Portanto concentremos-nos nos orbitadores: só houve uma nação, a Índia, que conseguiu chegar a Marte à primeira tentativa. Foi a 24 de setembro de 2014 após 298 dias de trânsito interplanetário.
Será portanto neste ponto que é de louvar a ambição e empenho dos Emirados Árabes Unidos. Sendo uma nação ainda nova no campo do voo espacial, lançaram uma missão arrojada que pode ajudar a reescrever a história do planeta. Recordamos que o longo caminho que esta missão teve, e que culminou este domingo com um lançamento bem-sucedido, foi anunciado em julho de 2014 pelo xeque Khalifa bin Zayed Al Nahyan, presidente dos Emirados Árabes Unidos, e nessa altura havia pouco para esperar dos EAU.
Os EAU iniciaram-se no campo da detecção remota com os seus primeiros satélites de observação terrestre em 2009, o DubaiSat-1 e DubaiSat-2, construídos pela Satrec Initiative Co.Ltd, uma empresa fundada em 1999 que já tinha tido sucesso com a construção do primeiro satélite sul-coreano (o KITSAT-1) e que era especialista na área de monitorização terrestre.
O segundo grande momento é o lançamento da missão de observação da Terra chamada KhalifaSat, em 2018. Esta missão não era mais do que um “DubaiSat-3” com 330 kg também para observação terrestre, mas que recebeu o nome de missão em honra da sua potente camera – a KhalifaSat Camera System.
Estas missões permitiram aos engenheiros árabes ganhar o know-how suficiente para podermos ter “esperança” (Hope) que em fevereiro de 2021 a sua sonda chegue à órbita de Marte.
O nome Hope, em árabe al-Amal, foi escolhido como mensagem de esperança para os jovens árabes que sonham com o Espaço, segundo foi explicado na conferência de imprensa. Esperemos que esta sonda não tenha nenhum imprevisto pelo caminho, como um micro-meteorito ou outra coisa qualquer, que possa danificar este feito tecnológico para benefício da humanidade.
Como é a Hope?
Esta sonda tem 2,37 metros de largura e 2,90 de altura com uma massa total de 1350 kg, aproximadamente do tamanho de um carro pequeno, ao qual se juntam dois paneis solares de 900 watts para carregar as suas baterias. Tem 6 propulsores de velocidade, que a vão ajudar a percorrer 60 milhões de km, e 8 propulsores de reação, para estabilização da sonda no Espaço.
No total, a sonda e o seu lançamento custaram 200 milhões de dólares. E se chegar bem, a HOPE vai ultrapassar a China que lançará a sua missão a Marte este verão.
Quanto à instrumentação a bordo, a Hope carrega um gerador de imagens que captura fotos em luz ótica e ultravioleta. Os outros dois instrumentos são espetrómetros que dividem a luz em comprimentos de onda específicos, um trabalhando em ultravioleta e outros infravermelhos.
É esperado que a Hope complete cada loop em torno do planeta vermelho a cada 55 horas, voando entre os 20.000 e os 43.000 quilómetros de altitude acima da superfície de Marte.
Sabemos também que os Emirados Árabes Unidos estão a preparar missões de pouso, que vão ser precedidas pela construção da Mars Science City, um ambiente análogo de Marte que deverá ser construído no deserto para treino destas missões, bem como é público já que os EAU estão a selecionar e recrutar futuros astronautas para missões tripuladas.
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