Denominada “#CiberAmigo”, a aplicação para telemóvel ganhou na quarta-feira o primeiro prémio do “Transforma Ti”, em Valongo, destinado a valorizar aplicações tecnológicas que resolvam problemas sociais.
“O objetivo é recorrer às oportunidades das tecnologias para combater a violência experienciada nas tecnologias”, sintetizou Maria Vale, aluna de doutoramento na Unidade de Investigação, Vitimologia e Sistema de Justiça da Escola de Psicologia da Universidade do Minho.
Observando tratar-se de uma aplicação que “surge em resposta às necessidades identificadas nos estudos científicos” daquela unidade, a também psicóloga desvendou a base do projeto premiado com 1.500 euros pela autarquia do distrito do Porto.
“O que detetámos é que os adolescentes são os utilizadores mais ativos das tecnologias, mas também os mais vulneráveis à ciberagressão, tendo em conta as suas características e necessidades de desenvolvimento”, razão pela qual desenvolveram uma ‘app’ para “chegar às escolas públicas e privadas, a professores e psicólogos, e também aos adolescentes que estejam a frequentar o terceiro ciclo e o Ensino Secundário, seja o profissional ou o regular”, relatou.
A ‘app’ integra três funcionalidades: o “Informa-te”, que informa sobre a ciberagressão e as suas dinâmicas, o “Desconstrói-te”, sobre factos e notícias falsas (‘fake news’ em inglês) e onde se tenta desconstruir os mitos e os ciber(mitos) que estejam a legitimar os comportamentos e o “Ajuda-te” que é permitir aos adolescentes pedir ajuda e denunciar, garantindo-lhes respostas adequadas e efetivas, explicou Maria Vale.
Garantindo ser uma ferramenta que “fala a linguagem dos jovens” e que “está adaptada ao vocabulário digital atual”, a “#CiberAmigo”, continuou a responsável do projeto, poderá vir a entrar nas escolas “divulgada numa aula de cidadania” ficando depois o psicólogo a “gerir as respostas e denúncias”, sugeriu.
“Percebemos que grande parte dos adolescentes são vítimas e agressores, mas muito deles são também observadores passivos destes comportamentos, nomeadamente quando são cúmplices por exibir nas redes sociais desacatos”, alertou Maria Vale, admitindo o esforço para lhes mostrar “que a solução é a denúncia na aplicação”.
A chegada às escolas, previu a investigadora, “não deve acontecer antes do início do ano letivo 2021/22″, estando também por decidir “se vai ser comercializada à Direção-Geral de Educação”.
“Para já vamos entrar em fase de testes-piloto, sendo que os conteúdos estão todos cientificamente validados e revistos pela unidade de investigação sob a orientação da professora Marlene Matos”, sublinhou.
Segundo Maria Vale, “mais de 60% dos estudantes portugueses estão envolvidos em ciber agressão – como vítimas e agressores, pois os observadores têm sido muito negligenciados em Portugal -, um número que varia conforme o fenómeno”.
“Não nos podemos cingir ao ‘cyberbullying’, queremos chegar também ao ciberabuso nas relações de intimidade, nas relações de namoro, algo que ainda não está muito estudado em Portugal, e também o ‘ciberstalking'”, acrescentou a psicóloga.
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