As generalizações são perigosas num país tão rico em matéria vinícola, mas é comum falar-se dos refrescantes verdes do Minho, do clássico vinho do Porto ou dos elegantes tintos do Alentejo (perdoem-nos as várias regiões igualmente icónicas que só por razões de simplificação não estão enumeradas). E depois há Alcobaça e, bom, Alcobaça é ligada a muitas outras coisas que não o vinho. O que não impede que seja numa das estradas discretas da cidade que encontramos o edifício que alberga o mais rico espólio vinícola dedicado a todo o país.

O Museu do Vinho de Alcobaça (que apenas tem este nome devido à localização) é uma jóia escondida na zona centro, de visita obrigatória para os amantes do tema. Mas para percebermos as relíquias que ali se guardam, temos de recuar quase século e meio no tempo.

Era para ser só uma adega e hoje um museu

Foi em 1874 que a história destes edifícios começou a ser escrita. Foram mandados construir por José Eduardo Raposo Magalhães, um vitivinicultor alcobacense que dedicou a sua vida e carreira ao desenvolvimento da indústria nesta zona. Inicialmente, o projeto surgiu para dar origem à Antiga Adega do Olival Fechado de Alcobaça.

Mais tarde, já nos anos 40, e depois de várias alterações, o imóvel foi adquirido pela Junta Nacional do Vinho, o organismo do Estado Novo que ficou responsável por controlar e implementar políticas ligadas à produção e comércio do vinho em Portugal, e passou a ser uma das suas delegações espalhadas por todo o país. Este capítulo durou até 1986, ano em que a entidade foi transformada no Instituto do Vinho e Vinha, tal como hoje o conhecemos.

Foi antes deste período de transformação, por voltas dos anos 60, que o Museu adquiriu este estatuto e que conseguiu reunir grande parte do espólio que está atualmente em exibição. No seguimento do encerramento de alguns armazéns da Junta Nacional do Vinho espalhados pelo território nacional, veio parar à delegação de Alcobaça muito material ligado à indústria, incluindo coleções de grande valor histórico e patrimonial, e Manuel Augusto Paixão Marques, na altura Delegado da JNV, fundou formalmente o Museu Nacional.

Desta altura até aos dias de hoje, poucas foram as alterações feitas, mas a coleção continua a crescer.  Os cinco núcleos que compõem atualmente o Museu do Vinho de Alcobaça (Recepção, Adega dos Balseiros, Adega dos Depósitos, Destilaria e Corpo de Edifícios Anexos) preservam um legado que vai para além daquilo que guardam, ligado à arquitetura das adegas e à tecnologia que foi sendo utilizada na produção e preservação do vinho.

Os espaços estão divididos por temáticas, mas as diferentes exibições estão recheadas de recordações cativantes. Garrafas de vinho com camada de resíduos no fundo, rótulos desgastados pelo tempo, alguns cartazes publicitários e azulejos com ditados populares chamam-nos à atenção. Na parte de cima do museu, paredes repletas de prateleiras dividem-se em filas infinitas de garrafas.

“É o museu do vinho com o maior e mais rico espólio vinícola e vitivinícola em todo o país. É uma jóia da vinicultura nacional.”. Quem o diz é Alberto Guerreiro, museólogo, que cuidadosamente nos apresenta todas as peças em exposição. Aqui estão mais de 3 mil garrafas de vinho e mais de 300 castas no total (das quais mais de 100 são portuguesas). Pela estimativa do museu, está aqui representada cerca de 70% da produção de vinho corrente nacional.

Mas nem só de garrafas se faz o museu. Entre máquinas ligadas à produção e preservação do vinho, à destilação ou até à sua comercialização, há aqui mais de 10 mil peças. A mais antiga é uma talha romana de 1620, que servia para conservar vinho, uma técnica utilizada durante vários anos, mas a ela juntam-se muitas outras recordações com séculos de existência. Para além da exposição, conta-nos Alberto Guerreiro que o museu também desempenhou um papel importante na recuperação de equipamento, que já não existiria sem as ações de preservação.

A última paragem desta visita é na adega, onde uma atividade de degustação de vinhos, organizada pelo museu, esteve suspensa devido aos tempos de pandemia, mas que agora os responsáveis querem retomar.

Apesar de o museu ter encerrado temporariamente entre 2013 e 2017, atualmente a exposição está aberta para todos, quer para grupos ou para o público individual, e tem novidades regularmente. Durante a semana, as visitas são de hora a hora e os bilhetes têm um custo que chega, no máximo, aos 4€ por pessoa. Ainda assim, de forma a incentivar toda a população a ir conhecer o Museu do Vinho, ao domingo de manhã a entrada é gratuita.

E já que estamos por Alcobaça…

Há mais relíquias do tempo e que são a escapadela perfeita aos pontos turísticos mais óbvios. A nossa sugestão é o Mosteiro de Santa Maria de Coz, na freguesia de Cós. Em tempos, foi um mosteiro feminino da ordem de Cister, um dos mais importantes do país, e acolheu mais de uma centena de monjas. Hoje apenas restam as ruínas, mas há esperança de que não seja assim por muito tempo. Recentemente, o espaço foi limpo e há planos do município para consolidar o local e de o utilizar para o desenvolvimento de um projeto de interpretação.

Há quem diga que foi em Cós que nasceu o pão-de-ló de Alfeizerão. Mas para conhecer melhor os factos e as lendas, o melhor será mesmo visitar o espaço e a sua igreja (que ainda hoje serve a aldeia) e atravessar a rua para ir espreitar a Adega das Monjas. O espaço, agora explorado para fins comerciais, serve de ponto-chave para o comércio tradicional e local e tem à venda todo o tipo de produtos, desde os doces conventuais à arte da cestaria (que também dizem que nasceu aqui).

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*O SAPO24 viajou a convite do Turismo do Centro de Portugal

 

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