Música | A festa acabou, o mambo acabou... parou porquê
Ainda não tinha começado e já se falava no ano de 2016 como um dos mais relevantes no que dizia respeito à agenda de espetáculos. Dos festivais de verão aos concertos em sala, foram muitos e grandes os nomes que passaram pelo nosso país, de norte a sul, para todos os gostos e carteiras. AC/DC, Adele, Scorpions, Iron Maiden, Diana Krall, The Cure ou Justin Bieber, encheram salas e recintos. Queen (Rock in Rio), PJ Harvey (NOS Primavera Sound), Radiohead (NOS Alive), Kendrick Lammar (Super Bock Super Rock), Seu Jorge (MEO SW), LCD Soundsystem (Vodafone Paredes de Coura), Brian Jonestown Massacre (Reverence Valada) ou Elza Soares (Vodafone Mexefest) marcaram várias gerações e os festivais deste ano.
O ano confirmou o que anteriores já vinham a anunciar: a música portuguesa também tem público, está bem e recomenda-se. Prova disso é a multiplicidade de festivais de pequena e média dimensão como o Sol da Caparica, na Costa da Caparica, o Bons Sons, em Cem Soldos, ou o Indie Music Fest, em Paredes.
O festival "Andanças", com palco em Castelo de Vide, no Alto Alentejo, ficou este ano marcado por um incêndio que destruiu mais de 400 viaturas, deixando promotores e lesados na expectativa quanto aos resultados das investigações.
E se de sala cheias falamos, não podíamos deixar de referir a aventura de António Zambujo e Miguel Araújo pelos Coliseus de Lisboa e do Porto. Ao todo foram 28 salas esgotadas.
Se 2016 confirmou os Capitão Fausto como a banda de uma geração, os Buraka Som Sistema anunciaram o seu fim, com um concerto em Belém para a despedida. A banda de "Kalemba (Wegue Wegue)" deixa o Globaile, um evento anual com a sua curadoria que promete mostrar o que de melhor se faz ao nível da música eletrónica global.
Gisela João mostrou tudo e tudo não foi demais. Três anos depois da sua estreia, em novembro, a fadista regressou com “Nua”. Não foi um ano de folga para Ana Moura, Carminho cantou com Maria Betânia e Chico Buarque e Samuel Úria deu-nos carga de ombro.
Há uma nova sala em Lisboa que promete dar que falar e ouvir, o Capitólio, na Avenida da Liberdade.
Cinema | Chapéus há muitos e prémios também
Foi um bom ano igualmente para o cinema português. Entre as várias distinções internacionais, destaque para a atribuição do Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim à jovem realizadora Leonor Teles pela sua curta-metragem "Balada de um batráquio". Já Nuno Lopes recebeu o Prémio Especial de Melhor Ator pelo seu desempenho no filme "São Jorge", de Marco Martins, atribuído pelo júri da secção "Orizzonti", do Festival Internacional de Cinema de Veneza.
Ainda na produção nacional, “Refrigerantes e canções de amor", com argumento do humorista Nuno Markl, foi a a segunda longa-metragem do realizador Luís Galvão Teles que chegou às salas nacionais, depois de estrear em março, “Gelo”. A partir da correspondência entre o escritor António Lobos Antunes e a primeira mulher, Maria José, em "Cartas da Guerra", Ivo M. Ferreira deixou a sua visão sobre a Guerra Colonial. A longa-metragem de ficção "Cinzento e negro", de Luís Filipe Rocha, inspirada nos fundamentos das tragédias gregas, mas também em Raul Brandão e Cesar Pavese, foi outro dos destaques do ano. "A canção de Lisboa", comédia de enganos de Pedro Varela, com produção de Leonel Vieira, inspirada no filme homónimo dos anos 1930, foi um sucesso de bilheteira.
Literatura | Uma espécie de manual da escrita
Frederico Lourenço venceu a edição de 2016 do Prémio Pessoa. O galardoado publicou este ano o primeiro volume da nova tradução da Bíblia Grega, "Septuaginta”, o primeiro volume de uma série de seis, com os quatro Evangelhos canónicos, de Mateus, Marcos, Lucas e João.
Foram vários os lançamentos que marcaram o ano, com destaque para alguns títulos da editora independente Tinta-da-China: “A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram num Bar” de Ricardo Araújo Pereira, “Sou Eu Mais Livre, Então - Diário de um preso político angolano” de Luaty Beirão, “deus-dará” de Alexandra Lucas Coelho ou as três obras do autor brasileiro Nelson Rodrigues, pela primeira vez editado em Portugal, “O Homem Fatal”, “A Menina Sem Estrela” e “A Vida Como ela É”.
O Folio, Festival Literário Internacional de Óbidos, este ano sob o signo da “Utopia” levou à vila medieval cerca de 250 iniciativas em torno da literatura. Na sua segunda edição, contou com a participação de autores consagrados, entre os quais o prémio Nobel da Literatura V.S. Naipaul e o britânico Salman Rushdie.
Palcos, Exposições e Museus | Colocámos o Sequeira no lugar certo
O quadro "A Adoração dos Magos", do pintor português Domingos António Sequeira (1768-1837), comprado com fundos angariados numa campanha pública foi, em julho, colocado "no lugar certo", do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
Lançada em outubro do ano passado, a campanha “Vamos pôr o Sequeira no Lugar Certo” tinha como objetivo ajudar o museu a adquirir a obra de Domingos Sequeira, pintada em 1828, da qual o MNAA possui o desenho final e vários preparatórios. Esta foi a primeira campanha em Portugal de angariação de fundos para a aquisição de uma obra de arte para um museu público, e contou com a contribuição de milhares de cidadãos a título individual, instituições, empresas, fundações, escolas, juntas de freguesia e câmaras municipais.
Em setembro, os portugueses fizeram filas para ver a Coleção Miró, exposta pela primeira vez este ano no Porto, após três anos de polémicas, desde o anúncio da venda em leilão, até à decisão do Governo de mantê-la em Portugal.
Lisboa ganhou um novo museu e miradouro sobre a cidade, o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT). Parte do espaço do novo edifício abriu ao público dia 5 de outubro, e a totalidade em março de 2017, representando um investimento de cerca de 20 milhões de euros. Só no dia de abertura, recebeu mais de 60 mil visitantes.
O Teatro Municipal São Luiz (TMSL), em Lisboa, lançou o projeto "bilhete suspenso", convidando os portugueses a comparticiparem entradas em espetáculos para pessoas com menos recursos. Como funciona? Qualquer cidadão pode comprar um bilhete no São Luiz, por sete euros (o teatro suporta o restante valor, outros sete euros), que fica suspenso na bilheteira para usufruto de pessoas que são apoiadas por entidades associadas ao teatro municipal.
O "Pop Galo", um gigantesco Galo de Barcelos em azulejo e luzes LED, criado por Joana Vasconcelos, acendeu-se na Ribeira das Naus, em Lisboa, antes de partir para a China onde celebrará o Ano do Galo.
O espólio do escritor português José Saramago foi doado à Biblioteca Nacional (BNP), cumprindo-se uma vontade do Nobel da Literatura.
O ano termina com a notícia de que a Cornucópia poderá sair de cena, ao fim de 43 anos de existência. Luís Miguel Cintra, um dos fundadores do teatro, anunciou a 17 de dezembro que a Cornucópia iria fechar portas, justificando a decisão com o facto de a companhia de teatro discordar com os atuais modelos de gestão.
No humor, os seus limites estiveram mais uma vez à prova - nunca se discutiu tanto quando e como é aceitável fazer humor. Rui Sinel de Cordes foi um dos rostos mais visíveis, tendo deixado de colocar piadas no Facebook como forma de protesto às limitações impostas, Diogo Faro viu a apresentação do seu livro interrompida e Ricardo Araújo Pereira defendeu acerrimamente - e sempre que possível - o direito à liberdade de expressão.
TV e Rádio | Da TDT ao Mata Bicho
A oferta da RTP na Televisão Digital Terrestre (TDT) foi alargada, com a disponibilização, a 1 de dezembro, da RTP Memória e da RTP3 em sinal aberto, passando agora a plataforma a disponibilizar no total sete canais (RTP1, RTP2, SIC, TVI, Canal Parlamento, RTP3 e RTP Memória).
Na rádio, houve dança de cadeiras nas manhãs: a Rádio Comercial viu chegar Luísa Barbosa e César Mourão (para além do regresso de Ricardo Araújo Pereira) e partir Vanda Miranda para a M80, que passou também a contar com Susana Romana numa rubrica das manhãs; a RFM manteve Nilton e Mariana Alvim e viu chegar Pedro Fernandes e António Raminhos; a Renascença passou a contar com Carla Rocha nas primeiras horas matutinas; e João Quadros e Bruno Nogueira voltaram à antena, neste caso à 3, com Mata Bicho.
No final de novembro, uma nova estação de rádio, associada ao festival SBSR, iniciou as suas sessões regulares. A nova estação de rádio, a SBSR.fm, criada pelo promotor de espetáculos Luís Montez, passou a funcionar nas frequências até à altura ocupadas pela Rádio Nostalgia.
Internacional | Dylan já tinhas coisas combinadas e não foi à Suécia
O ano acaba por ficar marcado pela morte, também nos álbuns. "Blackstar" e "You Want It Darke” são álbuns de despedida, de David Bowie e Leonard Cohen, respetivamente. Também no aclamado novo disco de Nick Cave, "Skeleton Tree", neste caso, a morte do seu próprio filho, Arthur Cave. As irmãs Knowles, Beyoncé e Solange, impregnaram o seu r&b com questões políticas e raciais, ao passo que Frank Ocean teve um há muito aguardado regresso com "Blonde". Kanye West, que sempre quis e quer ser maior que a vida – e no futuro Presidente dos EUA - lançou "The Life Of Pablo", um disco em constante atualização. Os Guns N' Roses protagonizaram a maior surpresa: Slash e Axl Rose fizeram as pazes e voltaram a dar concertos juntos. Os Metallica lançaram “Hardwired... To Self-Destruct”, para muitos o melhor álbum em 25 anos.
Já pensou num cartaz que juntasse Paul McCartney, Rolling Stones, The Who, Roger Waters, Bob Dylan e Neil Young? Aconteceu este ano. Os “veteranos” atuaram no festival Desert Trip, na Califórnia, já apelidado de “Oldchella”, pelo facto de se realizar no mesmo local que o festival de Coachella.
A 88ª edição dos Óscares, realizada no último dia de fevereiro, esteve envolta em polémica por não ter havido qualquer ator negro nomeado, pelo segundo ano consecutivo. A ausência de nomeações terá levado a um boicote por parte da comunidade negra, que ter-se-á refletido no resultado das audiências. Apresentada pelo comediante Chris Rock e que coroou “O Caso Spotlight” como melhor filme de 2015.
Um jornalista italiano afirmou ter descoberto, graças aos rendimentos declarados, a identidade de Elena Ferrante, escritora que tem mantido o anonimato. Gatti garantiu que não se trata nem de uma napolitana, nem de uma mãe costureira, como afirmou a escritora em "Frantumaglia": Elena Ferrante é Anita Raja, uma tradutora romana nascida em 1953, filha de um magistrado napolitano e de uma professora de alemão de origem polaca. A publicação da investigação de Gatti desencadeou várias críticas a denunciar um atentado à vida privada da autora.
O prémio Nobel da Literatura 2016 foi atribuído a Bob Dylan, por ter criado novas formas de expressão poéticas no quadro da grande tradição da música americana. Bob Dylan reagiu à distinção com silêncio. No final de outubro, o cantor quebrou-o e anunciou numa entrevista divulgada pelo jornal britânico Daily Telegraph que iria viajar para Estocolmo para receber o prémio Nobel da Literatura, que lhe foi atribuído a 13 de outubro. “Incrível. É difícil de acreditar”, disse o autor-compositor norte-americano, de 75 anos, ao jornal. “Quem sonharia com algo sim?”, questionou ainda Bob Dylan. Já em novembro, o músico enviou uma carta à Academia Sueca explicava que não conseguiria ter disponibilidade em dezembro para ir a Estocolmo. A cantora Patti Smith, a escolhida para cantar uma música na cerimónia, “A Hard Rain's A-Gonna Fall”, esqueceu-se de parte da canção, pedindo desculpa pelo enorme nervosismo.
O lançamento do novo livro da saga do jovem feiticeiro, "Harry Potter and the Cursed Child - Parts I & II", na Livraria Lello, no Porto e foi “mágico” para milhares de fãs que esperaram horas para o ter, em noite repleta de música, feiticeiros e porções mágicas.
O Bataclan reabriu a 12 de novembro, na véspera do primeiro aniversário dos atentados de Paris, com um concerto do cantor britânico Sting, e o programa desta casa de espetáculos inclui, em janeiro próximo, um concerto da banda portuguesa Resistência.
Em dezembro, a polémica estalou em Hollywood, depois do reaparecimento de um vídeo onde o realizador Bernardo Bertolucci admitiu que não informou Maria Schneider, que contracenou com Marlon Brando, de todos os pormenores de uma cena de sexo violenta no filme "O Último Tango em Paris" (1972).
A força esteve também com a Disney em 2016, mais concretamente com as subsidiárias Pixar, Marvel e Lucasfilm. Os filmes de animação como “Zootrópolis” e “À procura de Dory”, o “Capitão América: Guerra Civil” e a saga “Start Wars” foram os principais responsáveis dos recordes de bilheteira históricos da produtora, com um total de vendas de sete mil milhões de dólares.
Obituário | Morte, este ano o papel principal foi teu
2016 deixou-nos mais pobres. O ano arrancou negro com a morte de David Bowie e a lista foi crescendo até esta segunda, 27 de dezembro, com a morte de Carrie Fisher, a Princesa Leia de “Star Wars”. Da música ao cinema, da televisão às artes, foram muitas as estrelas que deixaram de brilhar.
Nos primeiros dias do ano, o mundo musical assistia, via YouTube, ao funeral do mítico líder dos Motorhead, Lemmy. O músico faleceu, aos 70 anos, vítima de cancro, nos últimos dias de 2015.
A morte de David Bowie a 10 de janeiro, apenas dois dias depois do lançamento do álbum "Blackstar", na data em que completou 69 anos, apanhou de surpresa os fãs do músico e o público em geral. Janeiro despediu-se também de Glenn Frey (dia 18), o guitarrista e co-fundador dos The Eagles, e de Paul Kantner (dia 28), o cofundador dos Jefferson Airplane, grupo pioneiro de rock psicadélico.
O fundador dos Earth, Wind & Fire, Maurice White, faleceu a 4 de fevereiro aos 74 anos. O músico britânico Keith Emerson, conhecido por ser um dos pioneiros do sintetizador na música rock, morreu em Los Angeles aos 71 anos. Greg Lake, com quem fundou a banda Emerson, Lake and Palmer, faleceu vítima de cancro a 7 de dezembro aos 69 anos.
A 21 de abril, perdemos Prince. O lendário e ícone da pop deixou órfãs várias gerações que beberam da sua música a inspiração musical. Os resultados da autópsia a Prince mostraram que o cantor morreu de uma overdose de opiáceos.
Alan Vega, o vocalista dos Suicide morreu dia 16 de julho. Juntamente com o teclista Martin Rev, Vega criou os Suicide nos anos 70. Uma nota da família dá conta que Boruch Alan Bermowitz, o seu nome de baptismo, "morreu tranquilamente, durante o sono".
Assim como Bowie, Leonard Cohen lançou o último e aguardado álbum, "You Want It Darker", semanas antes da notícia da sua morte. O poeta e cantor canadiano faleceu aos 82 anos, a 7 de novembro.
Calou-se também uma das vozes femininas mais poderosas da soul americana. Sharon Jones, a quem alguns chegaram a chamar de versão feminina de James Brown, morreu vítima de cancro no dia 18 de novembro, aos 60 anos.
No dia de Natal, chegou, de forma inesperada, a notícia da morte da voz de "Last Christmas" e "Careless Whisper" e um dos nomes maiores da pop britânica, George Michael, aos 53 anos. O músico foi encontrado “deitado em paz” na sua cama e a causa da morte terá sido uma falha cardíaca, segundo avançou o agente do cantor.
Não só o mundo musical perdeu algumas das suas maiores referências.O britânico Alan Rickman, um dos mais aclamados atores no cinema, teatro e televisão, morreu dia 14 de janeiro, em Londres, aos 69 anos, vítima de doença prolongada. Gene Wilder, conhecido pelos seus papéis nos filmes “Charlie e a Fábrica de Chocolate” e o “Jovem Frankenstein”, morreu dia 29 de agosto aos 83 anos. A atriz Zsa Zsa Gabor, que se tornou uma lenda de Hollywood, morreu dia 18 de dezembro de crise cardíaca, aos 99 anos, em Los Angeles. A atriz norte-americana Carrie Fisher, que interpretou a princesa Leia na saga “Star Wars” ao lado de Harrison Ford, faleceu dia 27 de dezembro, aos 60 anos, na sequência de um ataque cardíaco.
O escritor italiano e autor de "O Nome da Rosa", Umberto Eco, faleceu dia 20 de fevereiro, aos 84 anos.
Oleg Popov não vai mais fazer rir, o palhaço mais velho do mundo em atividade faleceu a 4 de novembro, vítima de um ataque cardíaco, aos 86 anos.
Em Portugal, os palcos despediram-se de vários nomes maiores das artes. A 14 de janeiro, do ator e realizador Nicolau Breyner, de 75 anos; a 11 de abril, do ator, dramaturgo e argumentista Francisco Nicholson, aos 77 anos; a 2 de julho, do ator e uma das referências da comédia nacional Camilo de Oliveira, aos 91 anos.
No cinema, o realizador Fernando Ávila morreu dia 16 de janeiro, aos 61 anos. A 11 de março, Vasco Lucas Nunes, realizador e produtor português, faleceu aos 41 anos, vítima de um acidente de viação, em Los Angeles. O realizador de "Brandos Costumes", Alberto Seixas Santos, faleceu dia 10 de dezembro, aos 80 anos.
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