Foi a bordo do antigo navio militar “Calypso” que Jacques-Yves Cousteau (ou JYC) se tornou o mais famoso explorador dos oceanos de todos os tempos. O inventor do equipamento de mergulho, de aparelhos de filmagem subaquática e também vencedor de vários prémios de televisão e cinema é hoje reconhecido em todo o mundo pelo exaustivo estudo que fez sobre o fundo do mar e pelas grandes aventuras que travou por oceanos nunca antes explorados. Agora, chega ao grande ecrã um filme biográfico que desvenda os segredos e a vida oculta do “Capitão Cousteau”.
A história começa com Cousteau, ainda antes de completar 40 anos, a inaugurar a sua nova casa, no sul de França, junto ao mar. Uma casa, que tinha sido paga com o dinheiro das suas invenções, nomeadamente o equipamento de mergulho adaptável, substituto do antigo escafandro pesado usado pelos mergulhadores, e que era o local ideal para Cousteau experimentar as suas invenções e filmar o fundo do mar.
Num ambiente familiar muito feliz (e quase utópico), Jacques partilha as suas aventuras com os seus filhos, Jean-Michel e Phillippe, e a sua mulher, Simone. Passam uns anos e Cousteau decide restaurar um antigo barco militar e partir para a exploração do mundo com a sua mulher e uma tripulação de marinheiros e mergulhadores, o que implicava colocar os filhos num internato. Vinte anos depois e, apesar de muita frustração, o seu filho mais novo, Philippe, desenvolve admiração pela carreira do pai e junta-se à tripulação como realizador dos famosos documentários, tornando-se uma personagem de grande relevo ao longo de todo o filme.
São estes os pilares de uma história que é contada sob a perspectiva de Philippe e de Cousteau em simultâneo e exibe toda a tragédia familiar e segredos da vida excêntrica e ambiciosa do explorador. Aquilo que foi amor passa, a certa altura, a ser ganância. Cousteau torna-se uma autêntica estrela mundial, com o seu conhecido barrete encarnado, e leva a cabo uma série de desventuras em prol do dinheiro e da obsessão da conquista do mar. Só mais tarde se apercebe da fragilidade e da beleza do meio natural e assume um papel de conservacionista e ativista pelos direitos ambientais e proteção das espécies ameaçadas.
Numa produção francesa muitíssimo rica em efeitos especiais, com um estilo quase americano, "A Odisseia" consegue superar expectativas. Com um elenco de renome, onde se destacam Audrey Tautou (Amélie), Pierre Niney (Yves Saint Laurent) e ainda Lambert Wilson (Of Gods and Men), podemos ficar a conhecer a vida do capitão do gorro encarnado e da sua família. Uma vida atribulada e cheia de aventuras que nos é apresentada de forma muito íntima e detalhada, e que nos leva a viajar pelos quatro cantos do globo. Desde imagens sublimes de paisagens do continente branco da Antártida a fotografias quase irreais das praias de África do Sul, somos transportados pelo oceano adentro como parte da tripulação e dos desafios que tiveram de enfrentar a bordo do Calypso. Os efeitos visuais são assombrosos, lembrando, talvez de forma mais realista, a “A Vida de Pi”, e incidem essencialmente em imagens subaquáticas de espécies marinhas como tubarões, baleias, raias e um fundo do mar imenso e repleto de silêncio.
Fora de água, o filme leva-nos aos ambientes de euforia de Nova Iorque, às negociações intensas, à procura pelo dinheiro, fama e reconhecimento e também à destruição daquilo que é natural em prol da ambição. Um dos objetivos desta longa metragem ao apresentar a face oculta de Cousteau é, porventura, mostrar a fragilidade deste equilíbrio entre a natureza e o homem.
Mais que uma incursão na vida privada de um ícone do século XX, "A Odisseia" põe-nos a pensar sobre temas de carácter e temas da humanidade, ambos com espantosa atualidade. Os fãs do Capitão Cousteau podem aqui encontrar matéria para se desiludirem ou para ficarem ainda mais apaixonados pelo seu trabalho. Seja qual for o caso, ficamos sem dúvida a saber mais sobre o que Cousteau fez pela humanidade, pelos oceanos e por si mesmo.
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