
A saúde dos oceanos preocupa os cientistas, que acreditam que estamos a “ficar sem tempo” para proteger os ecossistemas marinhos.
A acidificação dos oceanos é uma das principais ameaças da crise climática. Ocorre quando o dióxido de carbono é rapidamente absorvido pelos oceanos, onde reage com as moléculas de água, provocando uma queda no pH da água do mar. Este fenómeno danifica recifes de coral e outros habitats marinhos e, em casos extremos, pode dissolver as conchas de organismos marinhos.
Um novo estudo considera que a acidificação dos oceanos ultrapassou o seu “limite planetário”. Os limites planetários são um conceito científico que define as fronteiras ambientais seguras dentro das quais a humanidade pode continuar a desenvolver-se de forma sustentável. Foram propostos em 2009 por uma equipa liderada por Johan Rockström (Stockholm Resilience Centre) e atualizados ao longo dos anos.
No ano passado, os cientistas já tinham confirmado que seis dos nove limites tinham sido ultrapassados.
No entanto, um novo estudo conduzido pelo Plymouth Marine Laboratory (PML), pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) e pelo Instituto Cooperativo de Estudos de Recursos Marinhos da Universidade Estadual do Oregon revelou que o limite da acidificação dos oceanos também foi atingido há cerca de cinco anos, cita o The Guardian.
“A acidificação dos oceanos não é apenas uma crise ambiental, é uma bomba-relógio para os ecossistemas marinhos e para as economias costeiras”, afirmou o professor Steve Widdicombe, do PML, que é também co-presidente da Global Ocean Acidification Observing Network.
O estudo baseou-se em dados históricos, incluindo análises de núcleos de gelo, combinados com modelos computacionais avançados e estudos sobre a vida marinha, oferecendo uma avaliação abrangente dos últimos 150 anos.
Concluiu que, por volta de 2020, a condição média dos oceanos a nível mundial já estava muito próxima, e em algumas regiões já tinha ultrapassado o limite. O limite planetário para a acidificação dos oceanos é definido como uma redução superior a 20% da concentração de carbonato de cálcio na água do mar em relação aos níveis pré-industriais.
“A maior parte da vida marinha não vive à superfície”, explicou a professora Helen Findlay, do PML. “As águas profundas acolhem uma diversidade muito maior de plantas e animais. Como essas águas estão a sofrer alterações tão significativas, os impactos da acidificação dos oceanos podem ser ainda piores do que imaginávamos.”
Segundo os cientistas, quanto mais fundo no oceano se analisavam os dados, piores eram os resultados. A cerca de 200 metros de profundidade, 60% das águas globais já tinham ultrapassado o limite considerado “seguro” para a acidificação.
Isto tem, acrescentou Helen Findlay, enormes implicações para ecossistemas subaquáticos cruciais, como os recifes de coral tropicais e de águas profundas, que oferecem habitat essencial e zonas de reprodução para muitas espécies.
Os corais, ostras, mexilhões e pequenos moluscos têm dificuldades em manter as suas estruturas protetoras, o que leva a conchas mais frágeis, crescimento mais lento, menor reprodução e taxas de sobrevivência reduzidas.
Os autores do estudo sublinharam que a única forma de combater a acidificação dos oceanos à escala global passa por reduzir as emissões de CO₂. No entanto, também defenderam que medidas de conservação podem, e devem, ser direcionadas para as regiões e espécies mais vulneráveis.
Jessie Turner, diretora da International Alliance to Combat Ocean Acidification, que não participou no estudo, comentou: “Este relatório é claro: estamos a ficar sem tempo, e aquilo que fazemos, ou deixamos de fazer, neste momento já está a definir o nosso futuro. Estamos a enfrentar uma ameaça existencial, ao mesmo tempo que lidamos com a dura realidade de que muitos habitats adequados para espécies-chave já foram perdidos. Está claro que os governos já não podem continuar a ignorar a acidificação nas agendas políticas principais.”
A 3.ª Conferência do Oceano das Nações Unidas (UNOC3) começa hoje, na cidade de Nice, num esforço conjunto para enfrentar as crescentes ameaças ao oceano e acelerar a implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 (ODS 14).
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