Esta exposição, que esteve em Lisboa, entre junho e agosto, no espaço Fidelidade Arte, resultado de uma parceria, tem curadoria de Delfim Sardo, e terá entrada gratuita na Culturgest entre 14 de setembro e 05 de janeiro de 2020, de acordo com um comunicado divulgado hoje pela entidade.
O percurso de Jimmie Durham – que recebeu, este ano, o Leão de Ouro na 58.ª Bienal de Arte de Veneza – cruza a poesia, o ativismo político e a prática artística, numa obra que a crítica considera ter dado novos sentidos à relação entre política e poética.
Esta exposição faz parte do projeto Reação em Cadeia, uma parceria Fidelidade Arte e Culturgest, que, depois de ter estado em Lisboa, irá ao Porto com um desenho expositivo diferente, adaptado ao espaço, e com mais três obras que não estiveram na capital.
“Acha que Minto?” retoma outra exposição — “História Concisa de Portugal” — apresentada pelo artista, em 1995, na Galeria Módulo, a primeira presença do seu trabalho em Portugal, que veio a ser relevante no seu percurso.
Inspiradas no livro “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, de José Saramago, considerado por Durham um livro de referência para a história do século XX, as obras incluem citações do texto que, datilografadas ou manuscritas, integram individualmente cada uma das peças, não se constituindo, no entanto, como metáforas ou ilustrações.
Esta exposição “recupera um momento importante do seu percurso e, ao mesmo tempo, faz a ponte com o seu trabalho presente, demonstrando a sua aguda atualidade”, segundo o comunicado divulgado pela Culturgest.
O trabalho artístico de Jimmie Durham “é frequentemente vinculado ao lugar específico onde é criado”, com obras construídas a partir de objetos encontrados pelas ruas da cidade de Lisboa, como troncos e pedaços de madeira, pedras e peças variadas de metal, plástico, cerâmica ou tecido.
“As peças parecem definir um universo precário e resgatado a um tempo indefinido. A relação paradoxal entre realidade e ficção, essencial na estrutura do livro de Saramago que narra o último ano da vida do mais famoso heterónimo de Fernando Pessoa, possui aqui um correlato expresso no título da exposição ‘Acha que Minto?’, ele próprio uma citação do mesmo livro”, descreve.
O texto de Saramago é incluído numa das obras de Durham: “Acha que minto?, Não, que ideia, aliás, nós não mentimos, quando é preciso, limitamo-nos a usar as palavras que mentem”.
No seu conjunto, estas obras retomam as temáticas que o artista tem vindo a desenvolver: a quebra, o estilhaçar do mundo e, simultaneamente, o seu encantamento assente no acidente, e as políticas de representação identitária.
Esta exposição “constitui, desta forma, não só a recuperação de um momento importante no percurso de Jimmie Durham, mas também uma ponte em relação ao seu trabalho presente, demonstrando a sua aguda atualidade”, sublinha a Culturgest.
Jimmie Durham, nascido nos Estados Unidos, em 1940, dedicou-se ainda jovem, nos anos 1960, ao ativismo político, à poesia e à performance, e viajou para Genebra no final daquela década para estudar escultura e performance na École Nationale Supérieure des Beaux Arts.
De regresso aos Estados Unidos envolveu-se com o American Indian Movement, do qual integrou o Conselho Central e, posteriormente, dirigiu o International Indian Treaty Council, tendo vindo a ser o seu representante nas Nações Unidas.
Em 1980, voltou a dedicar-se à arte, mantendo, no entanto, o ativismo político e associativo. Deixou os Estado Unidos em 1987 e foi viver para Cuernavaca, no México, período durante o qual participou em exposições internacionais de referência, como a Documenta, em Kassel, Alemanha, ou a Bienal de Whitney, em Nova Iorque, Estados Unidos.
Estabeleceu-se na Europa em 1994, residindo atualmente entre Berlim e Nápoles.
Em 2017, foi objeto da exposição retrospetiva Jimmie Durham: At the Center of the World, organizada pelo Hammer Museum, em Los Angeles.
A inauguração, no Porto está prevista para 13 de setembro, às 22:00, e conta com a presença do artista.
No quadro do ciclo Reação em Cadeia, é proposto aos artistas participantes o convite ao artista que lhes sucede em ambos os espaços: Jimmie Durham foi o artista proposto por Ângela Ferreira (nascida em Maputo, Moçambique, em 1958), que o antecedeu, sendo Elisa Strinna (nascida em Pádua, Itália, em 1982) a artista que o sucederá.
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