O livro “Dita Dor” foi considerado a melhor obra na categoria de banda desenhada infanto-juvenil, no âmbito dos prémios internacionais daquela feira, que começa a 31 de março.

Publicado numa coleção literária da Assembleia da República dirigida aos mais novos, o livro inspira-se na infância de António Jorge Gonçalves, passada ainda em ditadura, uma vez que o autor tinha 9 anos quando aconteceu a revolução de 25 de Abril de 1974.

“Através dos olhos do jovem António, os leitores sentem na pele o que significa viver sob uma ditadura, que envenena cada vinheta e cada página. O autor consegue contar a história com um estilo dinâmico, com cores fortes, uma geometria expressionista e um final libertador”, refere o júri dos prémios da feira de Bolonha.

A partir da experiência pessoal do autor, em família, António Jorge Gonçalves aborda o tempo do Estado Novo e os primeiros anos de democracia, referindo não só momentos históricos — a morte de Salazar, a Guerra Colonial, a revolução -, como as subtilezas do quotidiano e dos costumes dos portugueses.

Para a organização da feira de Bolonha, “Dita Dor” é um livro importante para os tempos atuais, porque “demonstra como, em pouco tempo, uma democracia se pode transformar numa ditadura, e pode ensinar os jovens a reconhecer os sinais do fascismo e a lutar pela liberdade”.

“Dita Dor” foi lançado em 2024, no âmbito de coleção literária intitulada “Missão Democracia”, lançada pela Assembleia da República, a propósito dos 50 anos da “Revolução dos Cravos”.

Nascido em Lisboa em 1964, António Jorge Gonçalves descreve-se como um “autor de novelas gráficas, ‘performer’ visual e professor” — como se lê na página oficial -, mas também expõe regularmente e faz ilustração em nome próprio e para outros autores.

“Barriga da baleia”, “Eu quero a minha cabeça” e “Estás tão crescida” são alguns dos livros ilustrados para a infância que António Jorge Gonçalves já publicou.

Com o escritor angolano Ondjaki, por exemplo, fez “O convidador de pirilampos”, “Uma escuridão bonita” e “O tempo do cão”, que apresentará na quinta-feira no festival literário Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim.

António Jorge Gonçalves soma vários prémios, nomeadamente no Festival BD Amadora, no World Press Cartoon e no Prémio Nacional de Ilustração, que venceu na edição de 2013.

Nos prémios da Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, há ainda a destacar uma menção especial, na categoria de banda desenhada para primeiros leitores, para o livro “O sr. Gato Mágico”, do autor brasileiro Henrique Coser Moreira, publicado pela Planeta Tangerina.

A feira de Bolonha já distinguiu a literatura ilustrada portuguesa em anos anteriores, em primeiros prémios e menções especiais.

Em 2019, o livro “Atlas das viagens e dos exploradores”, de Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho, venceu na categoria Não Ficção. Em 2015, “Lá fora: guia para descobrir a natureza”, de Maria Ana Figueiredo Peixe Dias e Inês Teixeira do Rosário, ilustrada também por Bernardo P. Carvalho, venceu na categoria Opera Prima. Ambos foram publicados pela Planeta Tangerina.

A 62.ª edição da feira de Bolonha, considerada a mais relevante feira de negócios e dedicada ao mercado livreiro infantil e juvenil, decorrerá de 31 de março a 3 de abril.