Depois de quase cinco horas no mar, uma equipa de mergulhadores do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS), em conjunto com parceiros do Museu Marítimo da Noruega, conseguiram, mesmo em condições adversas, recolher as duas peças.
As roldanas pertenciam, provavelmente, a uma embarcação do século XVIII e serviam para impelir movimento às manobras, através de cabos, explicou à Lusa o arqueólogo Gonçalo Lopes, que coordena a última campanha de mar realizada ao abrigo do projeto “Water World”.
Por resgatar ficou um cepo em chumbo pertencente a uma âncora romana cuja época se situa entre o século IV A.C e o século II D.C, que pode não estar relacionado com um naufrágio, mas que não foi recuperado devido ao mau tempo.
Segundo José António Gonçalves, conservador-restaurador e coordenador do CNANS, estes cepos são relativamente comuns em zonas abrigadas da costa portuguesa e, muitas vezes, pertencem a âncoras que podem ter sido “sacrificadas por uma questão de manobras ou para agilizar a navegação”.
Por serem “presas fáceis” de roubos para venda no mercado paralelo — ainda mais neste caso, em que o cepo está numa zona de mergulho recreativo -, o objetivo é tentar recuperá-lo o mais rápido possível, o que pode acontecer na próxima semana.
Naquela zona já foram recuperados mais três cepos de diferentes tipologias, mas também do período romano, o que indica que aquela seria uma zona de fundeadouro ou ancoradouro, refere, por seu turno, Gonçalo Lopes.
Quanto às roldanas, serão levadas para o laboratório do CNANS, onde serão tratadas e alvo de conservação e restauro, para que possam depois vir a integrar o circuito expositivo do Museu de Lagos.
Muitos destes achados foram identificados por Christiane Kelkel, instrutora de mergulho alemã que desde 1994 vive entre a Alemanha e Lagos e que, desde então, já realizou 3.500 mergulhos nestas águas.
Ao longo destes anos, a mergulhadora foi identificando artefactos no fundo do mar e reportando a sua localização às autoridades, para que pudessem depois ser verificados, registados e, sempre que possível, levantados do fundo do mar.
Durante a campanha, em que colaborou também a Câmara de Lagos, foram mapeadas zonas onde decorreram naufrágios já inventariados, desta vez alvo de ‘varrimento’ por um sonar do Museu Marítimo da Noruega, explicou à Lusa o arqueólogo Morten Reitan.
Curiosamente, um dos navios aqui naufragados tinha bandeira norueguesa e foi torpedeado por um submarino alemão durante a I Guerra Mundial, o que causou comoção nos arqueólogos noruegueses.
“É fascinante ver como o navio vai sendo desenhado no ecrã à medida que passamos [o sonar], sabendo que tem mais de 100 anos de história. Uma coisa é ler sobre isso, mas ver os vestígios faz-nos ficar arrepiados”, contou Reitan.
No entanto, o afundamento deste navio teve um final feliz: “Perdemos muitos navios na I Guerra Mundial, mas este foi um afundamento de cavalheiros. Não foi brutal, a tripulação conseguiu chegar a Lagos e todos sobreviveram”, relatou.
A equipa que fez parte da campanha era composta por oito elementos, entre arqueólogos e conservadores-restauradores do CNANS e do Museu Marítimo da Noruega, com a participação do Instituto de Arqueologia e Paleociências da Universidade Nova de Lisboa.
O CNANS, que pertence à Direção-Geral do Património Cultural, é a entidade responsável em Portugal por determinar o valor científico e patrimonial dos bens arqueológicos depositados em meio aquático.
Os trabalhos arqueológicos na baía de Lagos estão integrados na quarta e última campanha ao abrigo do projeto “Water World”, que chegará ao fim em março de 2024.
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