A brasileira terá quatro datas em Portugal, inseridas na ‘tour’ europeia de apresentação de “A Mulher do Fim do Mundo”: o primeiro é no dia 3 de junho, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, antes de atuar no festival Primavera Sound, no Porto, no dia 10, seguindo-se o dia 14, no Teatro das Figuras, em Faro, e o Festival Raízes do Atlântico, na ilha da Madeira, a 17 de junho.
Em entrevista à agência Lusa, Elza explicou que “nunca cria expectativas” para os concertos, mas que Portugal é um país onde se sente bem, por serem povos “irmãos, a mesma família”.
“Sinto isto nitidamente quando recebo essa energia avassaladora desse público que me acolhe e me recebe com tanta estima. Sinto-me em casa”, contou.
O regresso a terras lusas retoma a apresentação de “A Mulher do Fim do Mundo”, álbum de 2015, um projeto “tão intenso” que não deixa espaço a temas diferentes, porque “foi concebido com princípio meio e fim, como se fosse uma ópera”.
“Não quero mudar nada. Em equipa que ganha não se mexe”, atirou.
Os quatro concertos agendados serão necessariamente diferentes dos que deu em 2016, que foram “lindos” e mostraram o interesse na artista, que se sente “feliz por conseguir tocar o coração de alguém com a voz”.
“Cada local e público têm as suas características, mas a energia deste ‘show’ com esta banda maravilhosa surpreende-nos sempre, mesmo já o fazendo há algum tempo, é emocionante demais”, apontou a brasileira, até porque “nenhum dia é igual ao outro, todos os dias abrimos a janela da vida e percebemos que algo mudou”.
Elza Soares, que sempre foi “muito bem recebida e feliz em Portugal”, tanto pela cultura como pela culinária, que é “coisa de louco”, elogiou Mariza, cuja interpretação de “Barco Negro”, que viu em vídeo, é “linda, emocionante, intensa”, bem como Amália Rodrigues, que “está para Portugal como Tom Jobim está para o Brasil”.
A brasileira de 79 anos vê o álbum “A Mulher do Fim do Mundo” como um marco “muito especial na carreira”, devido à produção e à “banda de luxo” que a acompanhou, composta por jovens músicos, uma “juventude que não está brincando”.
“Sempre disse e repito, se eu tivesse um bom produtor como tenho hoje [Guilherme Kastrup] talvez não tivesse uma carreira tão instável. Por tudo isto posso afirmar que este é o álbum da minha vida”, considerou.
O disco, um dos mais elogiados pela crítica de uma carreira que começou em 1959, conta com 11 faixas, que foram escolhidas de um total de 50, produzidas durante as gravações, ainda que os temas que ficaram de fora possam ser integradas no próximo registo de estúdio.
“Temos material para gravarmos mais uns três novos álbuns. Quem sabe?… Não pensámos nessas músicas para o novo trabalho. Por enquanto estou focada neste, mas quando começar a pensar no novo disco, já temos um belo material”, afirmou a artista, que sente que a música lhe deu “tudo”, pelo que espera “conseguir contribuir com algo” e pretende cantar “enquanto Deus permitir” e tiver público, como já tinha afirmado na canção que dá nome ao último álbum.
Temas recorrentes na obra da cantora de samba e bossa nova prendem-se com a desigualdade social, feminismo e ativismo político, algo patente no mais recente disco, que parte de experiências pessoais, marca do trabalho da vencedora do Grammy Latino de melhor álbum, em 2016, para abordar temas que questionam a desigualdade e uma “socidade machista e misógina” que precisa de ser combatida.
“Não podemos permitir que a humanidade caminhe assim, a vida é linda e o melhor é aceitar o outro como ele é, aceitar as diferenças é a maior lição”, comentou Elza Soares à Lusa, elogiando o movimento feminista, que avança “um pouco dia após dia no Brasil e no mundo”, pedindo “mais união entre as mulheres” .
A luta “contra o preconceito racial, homofobia e violência contra a mulher” tem tido avanços, disse, mas “o jogo não está ganho, todos os dias há que gritar para acordar quem está a dormir”.
“Nunca fui de aceitar calada o que não me agrada, fui sempre bastante atrevida”, afirmou a artista, que diz ter como responsabilidade “questionar o tempo que vivemos” através da música.
Questionada sobre a crise política no Brasil, classificou o estado atual do país como “uma vergonha”, uma vez que “uma crise moral é a pior crise que uma nação pode viver”, razão pela qual exige eleições diretas “já”.
Elza Soares nasceu no Rio de Janeiro em 1937. Surgiu no programa de talentos “Calouros em Desfile” e gravou o primeiro álbum, “Se acaso você chegasse”, em 1959, a que se seguiram mais de três dezenas de discos.
Em 1999, foi eleita, pela BBC, como a cantora brasileira do milénio.
Comentários