Considerado o maior evento da América Latina dedicado ao livro e ao negócio livreiro, a feira de Guadalajara é entendida como um ponto alto das relações diplomáticas entre Portugal e o México, que perduram há mais de 150 anos.
O Governo entende a presença em Guadalajara como uma iniciativa estratégica para chegar a novos mercados da América Latina e a ministra da Cultura, Graça Fonseca, considera que, com a programação delineada, Portugal deve ser olhado como uma "potência cultural", como afirmou esta semana em entrevista à agência Lusa.
"A expectativa é de maior promoção da internacionalização dos autores e criadores portugueses", disse Graça Fonseca, que é titular da pasta da Cultura desde outubro, sucedendo a Luís Filipe Castro Mendes, e que estará em Guadalajara na abertura oficial.
A participação na feira de Guadalajara, orçada em cerca de 2,5 milhões de euros, acontece duas décadas depois de Portugal ter sido convidado de honra, em 1997, da Feira do Livro de Frankfurt (Alemanha), considerada a mais importante do negócio livreiro.
Em 2013 as letras e a cultura portuguesas estiveram em destaque na Feira do Livro de Bogotá, na Colômbia.
Segundo a programação desenhada pela comissária Manuela Júdice, em Guadalajara estarão cerca de 40 escritores das letras portuguesas e lusófonas, do romance ao ensaio, do conto à poesia, entre os quais António Lobo Antunes, Hélia Correia, Mia Couto e Germano Almeida - todos eles Prémio Camões -, além de José Luís Peixoto, Afonso Cruz, Lídia Jorge, Ricardo Araújo Pereira, Dulce Maria Cardoso ou Gonçalo M. Tavares.
Manuel Alegre, cuja presença também esteve prevista, não estará em Guadalajara por motivos de saúde.
Os autores estarão presentes em praticamente todas as vertentes de programação da feira, incluindo idas a escolas e universidades, encontros com público e sessões para crianças, ciclos sobre banda desenhada, crónica, poesia ou livro infantil.
Na música, estão programadas atuações de artistas como Ana Bacalhau, Gil do Carmo, Amor Electro, Camané, Capicua, Dead Combo, Luís Represas, Moonspell e Katia Guerreiro, alguns em parcerias inéditas com artistas mexicanos.
No cinema, vão ser exibidos filmes que se inspiraram em obras literárias, como “Uma abelha na chuva”, de Fernando Lopes, “Vale Abraão” e “Singularidades de uma rapariga loira”, de Manoel de Oliveira, “A costa dos murmúrios”, de Margarida Cardoso, “A corte do Norte” e “Filme do Desassossego”, de João Botelho.
Da programação, destaque ainda para a evocação do escritor José Saramago, por causa dos 20 anos da atribuição do Nobel da Literatura e pela relação do escritor português com o México e com a feira.
Em Guadalajara estarão três exposições, uma das quais com tapeçarias que reproduzem os painéis que Almada Negreiros fez nos anos 1940 para a Gare Marítima de Alcântara e para a Gare da Rocha do Conde de Óbidos, pondo-as em diálogo com os murais do pintor mexicano José Clemente Orozco.
No âmbito da feira do livro, acontecerá ainda um encontro sobre arquitetura, no qual Carrilho da Graça será homenageado.
O Pavilhão de Portugal na Feira de Guadalajara, desenhado pelos arquitetos João Santa-Rita e Pedro Guedes Lebre, terá uma livraria com mais de mil títulos da literatura em língua portuguesa e um espaço da agência para o investimento AICEP.
Por conta da participação na feira, foi lançado um programa especial de apoio à tradução, à ilustração e à edição no mercado latino-americano, criado pelo instituto Camões e pela Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas.
No total, o programa abrange a edição em espanhol de mais de 50 antologias poéticas, romances e livros ilustrados, de Fernando Pessoa a José Eduardo Agualusa, de João Tordo a Adília Lopes, de Ana Pessoa a Pepetela.
As obras são publicadas sobretudo no México, mas também na Argentina, no Chile, na Colômbia, no Peru, no Uruguai e na Venezuela.
Resumindo em números, a 32.ª edição da Feira Internacional do Livro de Guadalajara decorrerá de 24 de novembro a 02 de dezembro num recinto com 34 mil metros quadrados, contará com um total de 800 escritores e espera mais de 20 mil profissionais ligados ao mercado livreiro, mais de 2.000 editoras e 400 mil títulos de 47 países.
Em 2017, a feira contou com cerca de 800 mil visitantes, entre público e profissionais.
O encerramento da feira contará com a presença do primeiro-ministro, António Costa, que passará o testemunho à Índia, convidado de honra de 2019.
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