A estrutura que tutela os hospitais da Feira, S. João da Madeira e Oliveira de Azeméis dedica assim a próxima segunda-feira a um programa de atividades que, decorrendo no museu Oliva Creative Factory, englobam uma conferência, a apresentação de projetos comunitários no âmbito da Saúde Mental, um concerto e ainda uma visita guiada à coleção de Arte Bruta de Richard Treger e António Saint Silvestre - aberta ao público em geral entre as 11:30 e as 13:00.
A iniciativa envolve profissionais de saúde, autarcas, técnicos de ação social e também utentes do serviço de Psiquiatria, no que o objetivo de Miguel Paiva, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga (CHEDV), é "quebrar os estigmas e barreiras" que os doentes mentais ainda enfrentam na sociedade atual.
"Os pacientes com transtornos mentais são pessoas muitas vezes discriminadas pela sociedade e carentes de ações que visem as suas necessidades, o seu bem-estar e a sua inserção social", explica o administrador hospitalar à Lusa. "É importante proporcionar-lhes a capacidade de experimentarem o êxito e fazê-los sentirem-se estimulados para outras ações de valor no seu dia-a-dia, e, nesse contexto, a Arte pode ser utilizada como ferramenta para promover a sua reabilitação", realça.
Raquel Guerra, diretora do Núcleo de Arte de S. João da Madeira, admite que a arte criada por doentes psiquiátricos não é consensual, mas atribui a controvérsia a um alargado desconhecimento sobre a matéria.
"Esta é uma questão polémica", afirma. "Para muitos, a obra concebida por doentes mentais não é arte porque não tem subjacente uma intenção ou um conceito, mas penso que os que criticam esta corrente o fazem sobretudo porque não a conhecem verdadeiramente", argumenta.
Segundo essa responsável, não será por acaso, aliás, que as criações expostas na Oliva motivam um acolhimento "muito positivo" por parte do público. "Embora possa não existir um pensamento crítico, consciente, que lhes esteja associado, as obras que temos expostas são de uma qualidade plástica quase incomparável", defende.
Sara Mariano, diretora do serviço de Psiquiatria do CHEDV, sugere que é através dessa e outras abordagens aos universos próprios da doença psiquiátrica que se chegará a uma melhor prevenção e a um diagnóstico mais atempado. "Só através da promoção da literacia em saúde mental junto de todos os estratos sociais é que se poderá ter efetivamente uma sociedade com boa saúde mental", declara.
Essa aprendizagem deverá ter início na infância e passa também pela capacitação dos próprios doentes e seus familiares, quando tal rede de apoio existir. Afinal, como nota a psiquiatra relativamente à população assistida pelo CHEDV, "o que é preocupante na região é a desigualdade no acesso aos cuidados de saúde e aos meios de suporte social, assim como o isolamento progressivo de uma população envelhecida a viver em meio rural, sem rede sócio familiar".
O programa do CHEDV no âmbito do Dia da Saúde Mental integra também, na terça-feira, uma ação de sensibilização junto da população sénior, nas instalações da cooperativa de ação social Casa dos Choupos, em Santa Maria da Feira, e, no dia seguinte, uma formação para professores na Escola Básica e Secundária Soares Bastos, em Oliveira de Azeméis, sobre Saúde Escolar na adolescência e as respostas do serviço nacional de Pedopsiquiatria.
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