“Smile High Club” representa uma estreia de Fatboy Slim na curadoria de exposições. “Para mim é tão empolgante estar a fazer algo fora da minha carreira na música e explorar o outro amor na minha vida [a Arte]”, afirmou, em declarações à agência Lusa.
A mostra reúne trabalhos de 12 artistas e coletivos, alguns criados propositadamente para a ocasião, e obras da coleção de ‘smileys’ que Norman Cook começou há 30 anos.
“A ideia é promover o trabalho do Harvey Ball [norte-americano que criou o símbolo que consiste num círculo amarelo com olhos e sorriso pretos] e o nome Harvey Ball e eu colaborar com artistas e desafiá-los a fazerem algo à volta do ‘smiley’ ou do Harvey Ball”, explicou.
Dos 12 artistas e coletivos — Andrea Harz, Bob Jaroc, Carrie Reichardt, Chemical X, Estúdio Pedrita, James Joyce, Jimmy Cauty, Joseph Ford, Mark Vessey, Ron English, RYCA e The London Police -, alguns são amigos de Norman Cook, outros conheço-os porque usam o ‘smiley’ nos seus trabalhos, e de outros, como os portugueses Estúdio Pedrita, é “apenas fã”.
Aos que já usavam ‘smiley’ nos seus trabalhos, Fatboy Slim pediu-lhes para “irem mais longe”, a outros, como o coletivo britânico The London Police e os Estúdio Pedrita, sugeriu que fizessem um retrato de Harvey Ball. No caso dos portugueses, porque achou “que fazer um ‘smiley’ com os azulejos não funcionaria e sabia que eles fazem retratos muito bons”.
A conversa de Norman Cook com a Lusa decorreu na quinta-feira, na Underdogs, enquanto a exposição estava a ser montada e o DJ via algumas das peças pela primeira vez, sem ser através do ecrã de um telemóvel. “Estou literalmente como uma criança no meu entusiasmo”, partilhou.
A possibilidade de o DJ, pela primeira vez, curar uma exposição de arte aconteceu através “da amizade e colaboração com [o artista português] Vhils” e é “uma espécie de fusão, cruzamento, entre carreira musical e o amor pela Arte”.
“O Vhils só me perguntou se queria fazer uma exposição e eu pensei no que poderia juntar. O ‘smiley’ é algo muito importante para mim, na minha vida, e através da música e da Arte tem sido uma constante na minha vida”, contou.
Na galeria estará uma “pequena parte” da coleção que Norman Cook começou em 1989, numa altura em que “a moda do [estilo de música] ‘acid house’ passou e toda a gente deu o que tinha com ‘smileys'”.
“Como eu gostava do ‘smiley’ em vez de estar obcecado com ‘acid house’, foi quando comecei a colecioná-lo, porque toda a gente estava a livrar-se dele”, recordou, lembrando que na altura em que “a cena do ‘acid house’ explodiu toda a gente usava t-shirts com o ‘smiley’, remendos e autocolantes”.
O DJ não consegue precisar quantos itens tem na coleção, mas vão “desde uma tatuagem [no braço] a preservativos”.
“Tenho uma boa coleção de arte – The London Police, RYCA com quem faço muita coisa de smileys para a minha carreira -, tenho uns 30 quadros ou trabalhos artísticos, milhares de coisas pequenas, uma tatuagem, o telhado de minha casa tem pintado um ‘smiley’ com cerca de nove metros de diâmetro, que pode ser visto do espaço, e uma vez numa atuação no festival Creamfields consegui que o público formasse um ‘smiley’ humano, que provavelmente pôde ser visto do espaço”, referiu.
Apesar de a coleção só ter começado há 30 anos, o primeiro item foi adquirido em 1977: “Acho que a minha cópia, agora assinada, do ‘Psycho Killer’, single de 12 polegadas dos Talking Heads, é provavelmente o primeiro objeto da minha coleção”.
“A capa era uma foto de uma t-shirt com o ‘smiley’, o que em tempos de punk era muito irónico. Mas o uso do ‘smiley’ na nossa cultura é muitas vezes irónico — a imagem da morte com um ‘smiley’ ou da polícia de choque — então funciona como uma posição”, considerou.
Hoje, além de estar prometido um pequeno ‘set’ na inauguração da exposição, Fatboy Slim tem uma atuação marcada no ‘rooftop’ [terraço, em português] do Terminal de Cruzeiros de Lisboa. “Atuar como DJ na abertura da minha exposição é um sonho tornado realidade”, afirmou Norman Cook, reforçando a ideia de como “é bom poder juntar tudo [música e Arte] e conseguir fazer as duas coisas”.
“Smile High Club”, de entrada livre, pode ser visitada até 27 de julho.
A Underdogs é uma plataforma cultural, fundada pela francesa Pauline Foessel e pelo português Alexandre Farto (Vhils), que se divide entre arte pública, com pinturas nas paredes da cidade, exposições dentro de portas (no n.º 56 da Rua Fernando Palha) e a produção de edições artísticas originais.
A plataforma, que começou em 2015 a organizar visitas guiadas de Arte Urbana em Lisboa, tinha também uma loja, na Rua da Cintura do Porto de Lisboa, que acolhia exposições e que a partir de hoje passa a funcionar no espaço da galeria.
Hoje, além de “Smile High Club”, é também inaugurada na Underdogs “Ignorantism”, exposição individual do francês Fuzi, que nesta mostra, de acordo com o texto de apresentação, “regressa à espontaneidade do graffiti, evocando as marcas inscritas em paredes de prisões, rabiscadas em cubículos de casas de banho, ou riscadas em janelas de comboios”.
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