“Mundo de Sepúlveda”, com tradução para português de J. Teixeira Aguilar, reúne textos inéditos e dispersos do autor de "O Velho que Lia Romances de Amor", ilustrados por fotografias do seu amigo Daniel Mordzinski, o artista argentino conhecido como "o fotógrafo dos escritores", pelo seu trabalho regular com autores literários.
A obra abre com um prólogo do fotógrafo, dando conta como conheceu o escritor, e dos seus 30 anos de amizade, durante os quais lhe falou do Chile, “sempre com amor, uma ou outra vez também com mágoa”.
Sepúlveda terá dado conta ao amigo “da frustração por a sua obra ter tantas dificuldades para chegar aos leitores chilenos, do escasso eco que era objeto nos meios culturais do país e de a Academia lhe virar as costas”.
Segundo Mordzinski, que realizou três viagens ao Chile com o autor da “História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar”, Sepúlveda, “longe dos holofotes e do ruído das capitais, foi um cidadão comprometido com a sua época e com a sociedade”.
Sintetizando a sua vida, Mordzinski escreve que “Luís Sepúlveda tinha sofrido no Chile" da ditadura (1973-1990), "a clandestinidade, a clausura e o exílio". "Percorreu a América Latina, viveu uns anos na Alemanha e em França e acabou por se instalar na cidade de Gijón, no coração das Astúrias [no norte de Espanha]”.
“Na década de 1990", prossegue Mordzinski, Luís Sepúlveda "alcançou um dos maiores êxitos literários internacionais da literatura”.
Para o amigo, o escritor “não queria que o seu regresso ao país fosse a partir da renúncia a toda uma vida de luta, adoçando ou mascarando aquilo que pensava”.
Luís Sepúlveda ingressou na Juventude Comunista do Chile, aos 15 anos, da qual foi expulso em 1968 e, posteriormente, fez parte do Exército de Libertação Nacional do Partido Socialista.
O texto de Daniel Mordzinski intitulado “Hotel Chile”, foi publicado originalmente em 1998, no livro “Patagonia Express” (1998), de Sepúlveda.
“Mundo Sepúlveda” inclui ainda, em jeito de prólogo, um texto de Sepúlveda retirado da sua obra “Últimas Notícias do Sul” (2011).
O primeiro texto desta coletânea é exatamente sobre Daniel Mordzinski, e foi escrito em 2014, em Itália.
Nele, o autor chileno afirma: “Daniel, el Rusito [louro], como nós, os amigos, lhe chamamos, mete-se debaixo da pele, ocupa um lugar de honra na casa, parte o pão à mesa e prova o vinho, que beberemos. Está em todo o lado; embora se encontre longe no mapa do presente, arranja sempre maneira de estar perto de nós".
“El Russito – prossegue Sepúlveda -, contagia o visual, ou, melhor dizendo, torna visuais até os desejos”.
“Mundo Sepúlveda” conta 19 textos do autor chileno, escritos entre a década de 1990 e as duas primeiras décadas deste século, terminando com um poema, “Os Meus Mortos”, sem data.
A faceta de poeta de Sepúlveda era praticamente desconhecida, mas “O Caçador Descuidado” trá-la-á à estampa, reunindo toda a sua poesia escrita entre 1967 e 2016, numa seleção e edição do poeta espanhol Alejandro Cérspedes, com tradução de João Duarte Rodrigues e um prefácio de José Luís Peixoto.
Sobre a obra, Peixoto afirma: “A vida que aqui encontramos é feita de sabor, vinho e sangue, é feita dos sentidos disponíveis diante da imensidão do mundo. Muitas vezes esta é a poesia de viagem, tanto do viajante que se lança sem medo, que descobre pela primeira vez o mundo que carrega uma herança ancestral, mas também do amargo exílio do que não chega a calar o desejo”.
Peixoto realça que “o combustível destes poemas, desta vida, desta pessoa que sentimos em cada palavra, é o Amor”.
“Neste livro, ficamos com a certeza de que esse sentimento vem do centro mais profundo do ser humano, há um otimismo contagiante em relação à natureza e à beleza do ser humano”. Esclarece Peixoto que “o amor tem muitas formas”, desde “o amor romântico que nos vem logo à cabeça quando lemos essa palavra”, mas também “inúmeras outras formas, subtis ou não, como a estrondosa e repetida amizade, como a admiração, há uma imensa e transbordante generosidade que toca quem lê”.
“O Caçador Descuidado” divide-se em 17 partes, desde “Primeiros Poemas” (1967-1972) a “Outros Poemas”, com os seus últimos poemas do escritor, até 2016, incluindo “Cinco Poemas Militantes”, sem data, “Poemas do Caminho Obrigatório” (1977-1980) e “Balada do Desorelhado” (1979-1982).
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