A promoção da cereja do Fundão começou a sério em 2004, já lá vão 13 anos. O motivo, claro, foi o Euro2004, realizado em Portugal, e uma oportunidade que o município identificou para promover o fruto da região. E assim foi, caixas de cereja chegaram aos estádios com a simples mensagem "cereja do Fundão, o fruto da sua seleção". Funcionou e abriu, além do apetite, a curiosidade. Seguiram-se outras ações em parceria com marcas como a Vodafone, Continente e TAP e hoje a cereja do Fundão é um verdadeiro ecossistema, do pastel de"nata" de cereja, aos bombons, do chá ao doce, apenas para exemplificar.
Mas, além do produto, há o turismo, cada vez mais ex-líbris não apenas da região mas do país. E o turismo do Fundão é também, ainda que não só, o da rota da cereja. Este fim de semana, por exemplo, é tempo para ver as cerejeiras em flor. Em forma de roteiro organizado, é o último fim de semana em que tal acontece porque as flores começam a voar e as folhas a ficar verdes e não tarda espreita a cereja por que tanto se espera. Mas, por estes dias, os pomares estão brancos e não é de neve, mas das milhares de cerejeiras, de folha branca, ligeiramente rosada, a anunciar a cereja. Dizem os entendidos que se 5 a 10% destas flores derem fruto, já será um bom ano - mas isso é outra conversa, que produzir cereja tem uma ciência muito própria.
Voltando à rota da cereja, pelo terceiro ano, a Câmara do Fundão organiza uma viagem em comboio turístico que começa e acaba em Alcongosta, a aldeia que é a capital da capital desta fruta, onde se estima que estejam localizados 70% dos pomares. Hoje é o último dia em que este roteiro pode ser feito desta forma, já que são três fins de semana seguidos (25 e 26 de março, 1 e 2 de abril e 8 e 9 de abril).
E vale a pena. É uma verdadeira campanha alegre, sobretudo com os dias de sol e calor que este fim de semana trouxe também a esta região. Com paragem num pomar e com a ajuda de uma guia que vai contando a quem a ouve dos caprichos da cereja, da importância do frio e do calor na dose certa e do papel determinante das abelhas, sem as quais a expectativa do fruto vermelho não seria possível. E dos pontos mais altos da visita vislumbram-se filas e filas alinhadas de cerejeiras, umas ainda cobertas de um branco pleno, outras já a espreitar o verde que se segue, por vezes lado a lado com pessegueiros ou macieiras que são bons companheiros, nomeadamente no que toca à polinização.
Pode piquenicar ou pode ... apadrinhar uma cerejeira
Há gentes da terra a fazer o passeio - por orgulho, pedagogia aos mais novos ou mera recreação - mas também há forasteiros curiosos desta febre da cereja e sobretudo interessados - e são cada vez mais - no regresso à terra e aos seus segredos.
Para quem queira prolongar o passeio ou a experiência, a Câmara do Fundão propõe este ano uma nova experiência: alugar cestas de piquenique, em que a cereja é rainha, e estender a manta por um dos pomares, aproveitando o bom tempo e as iguarias. Existem três tipos de cestas de piquenique - a Cesta Cereja do Fundão, que custa 20 euros, a Cesta Tradição por 32 euros e a Cesta Personalizada que tem o custo de 35 euros. Cada uma tem um menu próprio constituído por diferentes produtos, do chá de cereja, aos pastéis, ao pão e ao queijo, que refletem o que de melhor se produz na região. Estão disponíveis durante todo o ano, e são pedidas no posto de Turismo do Fundão.
Para os mais nostálgicos, há ainda outra opção. Apadrinhar uma cerejeira. Isso mesmo. Mediante o pagamento de uma quota anual de 20 euros, pode dar o seu nome - ou aquele que entender - a uma cerejeira que é plantada na região. Em Alcongosta, lá estão as filas das primeiras afilhadas que já estão crescidas desde que o ano passado foram plantadas. Como em média a cerejeira demora três a cinco anos a crescer, durante esse período a autarquia garante-lhe uma caixa de cerejas por ano com o compromisso que visite a afilhada pelo menos uma vez ao ano. Depois disso, há que voltar, mas para colher cerejas que dizem os entendidos não é tarefa fácil, mas a recompensa é grande.
Agora é esperar por meados de maio para provar a dita. E em junho, no fim de semana de 9 a 11, o Fundão vai encher-se para a prova da cereja e do resto, que estamos nas Beiras que é terra de onde ninguém sai a passar fome ou sede. Em média, são 40 mil visitantes que rumam à terra para uma festa que já se tornou tradição. Volta também o comboio pela rota da cereja. Uma dica importante para quem vem à festa: não deixem de passar à porta do senhor António, o cesteiro de Alcongosta, também conhecida como a oficina do Tó Nunes. Todos os anos, ele tira ramos da sua cerejeira, carregados de cereja, e dá a provar a quem ali passe. E já agora, peçam que vos mostre como se fazem cestos a sério. Ele, que os faz há 70 anos, conta como é.
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