"Falar-Escrever (é a mesma coisa)". A analogia está no prefácio da mais recente edição da Porto Editora de “O Velho Que Lia Romances de Amor”. Quem aponta para ela é Manuel Alberto Valente, o editor responsável por toda a obra publicada por Luís Sepúlveda em Portugal.
“Quando ele conversava connosco, nunca sabíamos onde é que acabava a realidade e começava a ficção. Sobre as coisas mais elementares, ele era um homem que estava permanentemente a inventar histórias, mesmo sobre as coisas mais comezinhas do quotidiano”, conta Manuel Alberto Valente.
Quando o autor falava e, na mesa, todos se perguntavam se o que ele estava a dizer era verdade ou mentira, “não era verdade, nem era mentira. Era a literatura a funcionar”.
O editor de uma vida, que viria, mais tarde a tornar-se também amigo, de Sepúlveda em Portugal é o primeiro convidado do “É Desta Que Leio Isto”, o clube de leitura da MadreMedia que tem o primeiro encontro marcado para a próxima quinta-feira, dia 14 de maio, às 18h30 - sim, ainda se pode registar para participar, basta preencher este formulário - e que vai ter o primeiro livro publicado pelo escritor chileno como mote de uma conversa que vai relembrar um dos grandes vultos da literatura sul-americana que faleceu no início deste ano.
Antes, e para aguçar o apetite, Alberto Valente esteve à conversa com João Dinis, da MadreMedia, e Elisa Baltazar co-fundadora do projeto de escrita "O Primeiro Capítulo", dois dos dinamizadores do clube que por estes dias já tem metido as discussões literárias em dia num grupo de Facebook, criado para a ocasião, a que o leitor se poderá juntar.
Na conversa, com pouco mais de 20 minutos, o editor contou como “O Velho Que Lia Romances de Amor” lhe foi parar às mãos, depois de ter sido, inicialmente, publicado por uma pequena editora espanhola na sequência de um concurso literário; partilhou a história da primeira viagem de Luís Sepúlveda a Portugal em que este revela como o autor insistiu para ir a Grândola, terra que se tornou símbolo da luta contra o fascismo, imortalizada na canção de Zeca Afonso, Grândola Vila Morena, e que se tornou carinhosa para um homem que foi preso político e, na prisão, ouviu um dia um guarda dizer-lhe: “vocês ganharam em Portugal".
Se por esta altura o leitor se pode sentir mais intimidado do que convencido com a presença de um convidado que teve uma relação privilegiada com o autor, Manuel Alberto Valente garante que não é crítico literário, que os editores, costuma-se dizer, são “técnicos de ideias gerais”. “Serei talvez um leitor mais habituado a ler do que muitos dos que estarão connosco, mas serei, de certeza, mais um leitor, a gostar de ouvir o que os outros me têm para dizer e eventualmente a contribuir qualquer coisa não da minha qualidade de editor, mas da minha qualidade de leitor, só isso”, garante.
Até porque, sublinha, "não há dois leitores que leem da mesma maneira o mesmo texto". “A Anna Karenina não é a mesma para todos, há uma Anna Karenina para cada leitor de Tolstoi”, exemplifica.
Portanto, já sabe o tema, já tem, acima, o formulário para se inscrever, já sabe a hora - momentos antes do encontro começar, será enviado o link para aceder à conversa e participar na discussão -, já tem também o grupo do Facebook onde pode fazer, inclusive, o aquecimento literário caso seja uma daquelas pessoas que tem estado mais enferrujada nas leituras… O que mais podemos dizer? Só que se a história de Antonio José Bolívar Proaño em El Idilio, um lugar remoto na região amazónica dos índios shuar, não o convencer, que isso não é motivo de preocupação. O clube do livro reúne-se duas vezes por mês. Aponte também na agenda: no segundo encontro, falaremos de um clássico de George Orwell: “1984”. Pode inscrever-se também desde já nesse encontro, que se realizará no dia 28 de maio, às 18h30, através deste formulário.
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