Reza a história que foram feitos 65 ovos Fabergé originais, dos quais 57 terão chegado aos dias de hoje, mas na verdade o número não é consensual. O que talvez se explique pelo facto de os ovos, criados originalmente no século XIX, terem depois atravessado o conturbado século XX, na Rússia e no mundo. A sua história e até imprecisões espelham também isso.
No século XIX, estes ovos de Páscoa que nasceram revestidos de ouro e com pedras preciosas, tornaram-se símbolos do poder da dinastia Romanov. Já depois do império russo ter cedido lugar ao bloco soviético, entraram no imaginário ocidental ao longo de todo o século XX. Não é por acaso que chegam até nós em tantos filmes e séries, desde o Ocean’s Twelve de 2004 ao episódio dos Simpsons de 1995 “Round Springfield”.
O Fabergé original, cujo nome é o do seu criador Peter Carl Fabergé, foi criado a pedido do czar Alexander III que decidiu oferecer um ovo de Páscoa realmente memorável à mulher, Maria Feodorovna. Estávamos em 1885 e o ovo ficou conhecido como Hen Egg. Foi fabricado em ouro com uma réplica de um diamante da coroa imperial e um rubi no interior. A imperatriz gostou tanto da prenda que encomendou outro para o ano seguinte e ao seu criador foi dada total liberdade para criar os novos ovos. Os únicos requisitos da família imperial era que todos os ovos contivessem uma surpresa e fossem únicos.
Após a morte do czar Alexander III, sucedeu-lhe o filho Nicholas II e a tradição continuou com mais um Ovo Fabergé para oferta à mulher e à mãe (Maria Feodorovna, a quem tinha cabido iniciar a coleção). Todos os anos foi feito um ovo original – à exceção dos anos 1904 e 1905 devido à guerra entre a Rússia e o Japão – e Fabergé passou a ter pedidos de outros clientes ilustres como a Duquesa de Marlborough e a família Rothschild.
A seguir à revolução bolchevique de 1917, a casa Fabergé foi nacionalizada e, em 1918, a família Fabergé abandonou a Rússia rumo à Suíça. Em 1927, quando os cofres da URSS começaram a precisar de reforço, Estaline vendeu vários ovos e, mais tarde, entre 1930 e 1933, 14 Fabergés imperiais abandonaram o país. Por curiosidade, alguns destes ovos foram vendidos a Armand Hammer, presidente da Occidental Petroleum e um amigo pessoal de Lenine (o pai tinha sido fundador do partido comunista americano).
Os mais de 100 anos dos Ovos Fabergé tornara-nos inequivocamente parte da história e do imaginário de leste a oeste – e é provavelmente isso que explica o fascínio com as suas réplicas. Nomeadamente quando são produzidas na Rússia e ao “ovo” acrescentam outro tesouro nacional do país, o vodka.
É esse imaginário que Rui de Morais, gerente da Aviworld, representa em Portugal, para onde traz, diretamente de São Petersburgo, o vodka da Imperial Collection. Um vodka de uma marca que se posiciona como produto sofisticado e emblemático da Rússia e que tem edições especiais vendidas em embalagens que são réplicas dos Ovos Fabergé. Os números dizem tudo sobre o sucesso do produto: em 2018, Portugal foi o segundo maior comprador destes ovos-vodka, a seguir aos suíços sendo o valor médio de cada embalagem 1500 euros.
O que não é muito, se olharmos para algumas edições – realmente – especiais. Como a edição especial em prata, em que dos dez exemplares, oito ficaram na Rússia e dois em Portugal. O preço? 4200 euros.
Ou ainda, a edição incrustada em cristais – foram feitos cinco exemplares, quatro ficam na Rússia e um vem para Portugal em agosto. Cada custa 10 mil euros.
Na recente regata GC32 Racing Tour, realizada em Lagos, Rui de Morais, um dos patrocinadores da prova, tinha um dos "ovos" da Imperial Collection em exibição no recinto da marina. Um ovo “feito de esmalte, com as aplicações em metal chapado a ouro de 24 quilates, cristais Swarovski e desenho realizado por um escultor do Vaticano”, explica-nos.
E lá dentro o que temos? “Temos um decanter da Imperial Collection em cristal veneziano com uns copos de shot, decorados a folha de ouro de 24 quilates”.
O que é que tem de especial? “É ótimo. Eu gosto de vodka e nunca provei nada igual. O processo de fabrico de vodka não é complicado, o que é complicado é produzir bom vodka”.
Todas estas respostas são dadas com a naturalidade de quem há mais de 30 anos faz a sua vida a conhecer bebidas, a ouvir quem as produz, quem as serve e a escolher as melhores para colocar no seu portefólio de importador. Ainda sobre o Imperial Collection, fica a nota de connaisseur: “O segredo disto está na filtragem. É vodka que é filtrado em filtros de ouro 11 vezes, logo, fica com uma pureza fantástica. Para além do álcool base ser um álcool de cereais, que é muito bom, e com água do lago de Ladoga, que é um lago enorme de origem glaciar de São Petersburgo, que julgo ser a maior reserva de água doce da Europa. A filtragem vem no fim, depois da destilação”.
Rui é de Cascais mas é no Algarve, onde reside há 30 anos, que mais gosta de fazer negócios. E por fazer negócios entenda-se, falar com pessoas, mostrar produtos, explicar de onde vêm e porque são especiais.
E são especiais. O vodka, é de São Petersburgo. O gin, é da Irlanda, Itália, Reino Unido, Espanha ente outras origens. E o vinho vem de França, Itália e Espanha.
Mas também há produto nacional neste cabaz sofisticado. Há três castas, do Douro, Dão e Alentejo, respetivamente, e há também um gin de bolota, o Ginblot feito em parceria com o chef Pedro Mendes do Bolota. “Foi uma ideia maluca porque se faz gin de tudo”. De tudo mesmo e este tem 46º de álcool e é “muito adstringente”, “para um verdadeiro amante de gin”
Tudo começou, na realidade, pelos vinhos – e de um país onde não estamos especialmente habituados a apreciá-los, de Espanha. ”Comecei a vender a amigos, a restaurantes e a hotéis”, conta Rui. Hoje a Aviworld, empresa que fundou em 1999, importa e distribuí vinhos, bebidas espirituosas, produtos de porco ibérico, caviar e outros produtos gourmet.
Mas quando percebeu que o gin ia ter uma explosão de consumo, Rui tratou de procurar os melhores. Mesmo que, à margem das modas, mantenha que “gin que é gin é copo alto com gelo, limão e água tónica”.
Hoje tem 30 referências, uma delas do gin líder na Irlanda, o GunPowder.
E foi também da ilha britânica, através de uma marca inglesa, a Barrister, que chegou a São Petersburgo de onde hoje traz o vodka cuja história aqui contámos.
Za Zdorovye. Que é como quem diz, “à sua saúde” em russo.
Comentários