A exposição “Hortas de Lisboa”, que vai ser inaugurada pelo presidente do município, Fernando Medina, no âmbito da Semana Verde Europeia, vai abrir portas ao público na sexta-feira e permanece no museu até 19 de setembro de 2021.
A mostra, lançada num ano em que Lisboa é também Capital Verde Europeia, é comissariada pela antropóloga Daniela Araújo, em colaboração com a diretora do Museu de Lisboa, Joana Sousa Monteiro, e o historiador Mário Nascimento.
Em declarações à agência Lusa, Joana Sousa Monteiro explicou que a mostra é o resultado de um trabalho de três anos, tratando-se de um projeto multidisciplinar concentrado na história da própria cidade de Lisboa ao longo do tempo, na perspetiva das hortas urbanas que foram criadas, alimentadas, que cresceram e sofreram alterações.
“A exposição tem duas grandes vertentes. Por um lado, queríamos criar temas mais contemporâneos dedicados à sustentabilidade da própria cidade de Lisboa, do ambiente em geral, do planeta, no nosso caso na cidade de Lisboa. E, por outro lado, interessava-nos elaborar um projeto que fosse um módulo para conhecer melhor os lisboetas: quem são as pessoas, como vivem e como constroem diariamente a sua cidade. A temática que encontrámos foi a má alimentação e depois o cultivo”, descreveu.
A mostra está divida em seis núcleos: As hortas de uma cidade, Horticultores de oitocentos, Uma Lisboa de muitas hortas, Ferramentas para uma horta na cidade, A minha horta — O meu mundo, e O dom e o devir das sementes.
De acordo com a diretora do museu, a exposição começa com as hortas dos conventos e com a tomada de consciência da existência de lençóis freáticos e terras férteis.
“As hortas urbanas tiveram nos conventos uma importância enorme para a subsistência das populações, não só das monásticas, mas também fora dos conventos. Tiveram também importância para o cultivo de hortícolas relacionados com a medicina ou pelo menos com a prevenção das doenças e tratamentos de algumas”, contou.
Depois, a exposição foca, no século XIX, o aparecimento dos primeiros cursos sobre horticultura e a proliferação dos almanaques.
Também em declarações à Lusa, a comissária e antropóloga Daniela Araújo contou que a exposição prossegue já no século XX, com o planeamento urbano e a apropriação de terrenos.
“Está organizado em três conceitos: apropriar a cidade, disciplinar e cultivar. Quando falamos de apropriar estamos a falar da estratégias de apropriação em que as populações rurais, à medida que iam chegando à cidade, iam tomando conta dos terrenos expectáveis, quintas abandonadas, e foram cultivando os seus produtos, fazendo parte de uma estratégia de complementaridade dos salários mais baixos, como por exemplo na Quinta dos Jacintos, em Alcântara, e na Quinta dos Peixinhos, na zona da Penha de França”, salientou.
Daniela Araújo destacou também uma instalação da artista Ângela Ferreira com fotografias tiradas junto às vias rápidas que circundam a cidade. As imagens mostram o modo como no período pós-25 de Abril esta paisagem se alterou – além das couves, cebolas e cenouras, passaram a ser cultivados quiabos, cana de açúcar e batata doce.
“Uma outra parte da exposição tem a ver com o projeto dos parques hortícolas municipais, que resultou de uma parceria que temos com a Câmara Municipal de Lisboa, nomeadamente com o pelouro da Estrutura Verde e Energia, mais concretamente com o grupo de trabalho para a promoção da agricultura urbana na cidade de Lisboa”, disse.
Na exposição está disponível um mapa com todos os projetos municipais e de juntas de freguesia. São também analisadas formas de cultivar a cidade através de projetos comunitários, novas tecnologias, hortas verticais, e há mesmo uma vertente pedagógica, para que os visitantes possam ter uma horta em casa, da varanda à cozinha.
Segundo Daniela Araújo, foi dada “voz aos hortelões de Lisboa, descobrindo sentidos de pertença e identidades, redes de entreajuda e conflitos, práticas de trabalho e histórias de viagens”.
A diretora do Museu de Lisboa disse ainda que uma parte da exposição inclui projetos de ateliê de jovens arquitetos para a criação de mais hortas verticais acopladas aos edifícios em bairros do centro da cidade.
“Vamos ter também uma série de atividades paralelas, visitas guiadas, atividades de mediação cultural a famílias e escolas, e conversas com especialistas em várias áreas”, disse.
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