"A República do Partido Republicano Português, ferida de uma crise de legitimidade estrutural e mergulhada na instabilidade política e financeira, tornar-se-ia presa fácil da conspiração a montante das direitas antilberais”, escreve Fernando Rosas, na obra que é apresentada na próxima quarta-feira, em Lisboa, pelo historiador António Reis
“A Primeira República. Como Venceu e porque se perdeu” é uma nova edição do texto publicado em 2010, no contexto de uma obra celebrativa do centenário da República - “1910 a Duas Vozes” -, também com a chancela da Bertrand Editora.
“O presente trabalho foi devidamente atualizado e teve novos desenvolvimentos, sobretudo no tocante à análise da I República no pós-guerra [1914-1918], ou seja, dos fatores que conduzem à sua derrota em 1926”, com o golpe militar liderado pelo general Gomes da Costa, escreve o historiador.
Para a nova publicação, contribuíram “as condições pouco propícias em que apareceu a edição original, 'subsumida' num livro com a contribuição de outro autor com uma abordagem da I República substancialmente diferente” da que Rosas partilha, justifica.
Rosas decidiu também rever e voltar a publicar o texto numa altura de “tempos sombrios, como os que se abeiram da Europa e do mundo”, sugerindo que este livro pode “ser lido sob essa perspetiva”.
Para o catedrático jubilado, “a crise histórica dos sistemas liberais do Ocidente, aquela que vivemos potenciado pela época neoliberal do capitalismo, parece tender para a emergência de um novo tipo de regimes ‘pós-democráticos’, autoritários, populistas e xenófobos”.
Defende o historiador que “os paralelismos com a primeira grande crise dos sistemas liberais nos anos 20 do século passado, e com o seu desfecho trágico na época dos fascismos e da guerra são, pois, incontornáveis, apesar das importantes diferenças de contexto histórico”.
Prossegue Rosas: “Tudo nos convoca a olhar para essa História recente a fim de ajudar a perceber o que se passa e o que se poderá vir a passar”.
“Na primeira metade dos anos 20 do século passado, a incapacidade de o liberalismo oligárquico se democratizar política e socialmente, ditou a incapacidade de a República reunir forças que a defendessem contra o golpe iminente de onde viriam a brotar a Ditadura Militar [1926-1933] e o Estado Novo”, que se prolongou de 1933 a 1974.
A obra divide-se em “três partes distintas”, todas com o objetivo de “trazer um outro ponto de vista às controversas levantadas por alguma historiografia neoconservadora que se redescobriu nos ataques com que, ao tempo, a propaganda 'estado-novista' procurou demonizar o republicanismo”.
Na primeira parte da obra, Fernando Rosas situa a crise da monarquia constitucional no contexto “da crise mais geral que começa a minar os sistemas liberais oligárquicos europeus” na passagem para o século XX.
A segunda parte trata “o republicanismo como ideia e como força social e política mobilizadora no mundo urbano”, ou seja, aborda a base social da República, “a pequena burguesia urbana, liderada pela elite intelectual e as profissões liberais”.
A terceira parte destaca a obra republicana “que se sobrepôs a instabilidade governativa e aos crónicos constrangimentos financeiros” - cite-se laicização do Estado, a separação do Estado da Igreja, o registo civil, o divórcio e a reforma universitária.
A obra “A Primeira República. Como Venceu e porque se perdeu” é apresentada na próxima quarta-feira, às 18:30, ena FNAC do Chiado, em Lisboa.
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