“Não era possível pôr neste disco todos os fados que fiz, nem era essa a minha intenção. A intenção era dar um título e fazer uma pequena amostragem”, contou Fernando Tordo à agência Lusa.
O músico e compositor recordou que, há mais de 50 anos, Carlos do Carmo foi o primeiro fadista a pedir-lhe que musicasse, “em jeito de fado, um poema”, de António Gedeão.
“Aí começou uma colaboração [com Carlos do Carmo], que se arrastou até há relativamente poucos anos. Entretanto, no caminho, fiz fados para muito mais gente, para a Beatriz da Conceição, a Carminho, a Mariza, …”, contou.
Dos temas que Fernando Tordo criou para Carlos do Carmo, em “Os fados que eu fiz” estão “Fados dos cheirinhos” e “Sonata de Outono”, ambos concebidos em parceria com Ary dos Santos.
Dos 12 temas que compõem o álbum, o mais antigo é “Fado de Alcoentre”, “sobre a fuga dos ‘pides’ da prisão de Alcoentre”, que “demorou menos de 24 horas a fazer e a gravar”, em 1975, com Ary dos Santos.
Fernando Tordo decidiu incluir este tema no álbum, “só para lembrar o que aconteceu”.
“Quanto mais tempo passa sobre um acontecimento mais abismado se fica. É um fado que marca um ponto histórico muito importante e que relata um acontecimento completamente absurdo. Parece que anda tudo muito esquecido, e enquanto cá estivermos é nossa obrigação e dever salientar sempre que é possível, como artistas e cidadãos”, afirmou.
O álbum inclui dois originais: “Terlintimtim”, um dueto com Cuca Roseta, e “Fado de Alvalade”, com Paulo de Carvalho, “uma brincadeira sobre o bairro [de Lisboa]”, que os dois cantores consideram seu, e que “fala de locais como a charcutaria Riviera ou o café Vává”.
Além disso, há “uma espécie de bónus”, o tema “Possível Natal”, “que não tem que ver com fado” e é um dueto com Paulo de Carvalho, criado “por causa da tristeza que foi, mais uma vez, o Natal do ano passado”.
Todo o álbum foi criado “durante a pandemia”. “Não tivemos praticamente que ir a estúdio”, contou Fernando Tordo, salientando que “hoje em dia a tecnologia permite que o saxofonista grave em casa e envie, que o trompetista grave em casa e envie, que o coro grave em casa e envie”.
“É um disco em que há dois músicos que nem conheço pessoalmente, só sei que são muito bons”, confidenciou.
Fernando Tordo já tem sucessor para o álbum que hoje edita, e que será “uma dramatização” do tempo em que esteve internado com covid-19.
“Tive um covid muito grave e estive internado 28 dias. Queria documentar o que estava a passar”, revelou.
O álbum que se segue a “Os fados que eu fiz” “já está musicado e está a começar a ser orquestrado, para fazer uma série de apresentações”.
“Vai funcionar muito com filme, fotografia, dois músicos em palco e eu e a cantora que eu vier a escolher. É importante haver um documento de alguém que infelizmente passou por isto”, afirmou.
Comentários