O certame que se descreve como “o maior e mais completo festival de cinema em Portugal” anuncia até segunda-feira 257 filmes em competição, 40 horas de formação por profissionais de elite e 65 horas de análise à indústria, reservando para a categoria FESTinha 60 curtas-metragens e três longas-duração distribuídos por três faixas etárias, de acordo com o público-alvo dessa cinematografia: Sub-10, Sub-14 e Sub-18.
Filipe Pereira, diretor do festival, diz que a constituição desses três júris do FESTinha começa por uma chamada à participação, na qual se podem inscrever os interessados com disponibilidade para apreciar todos os filmes da sua secção etária, e envolve depois um workshop de preparação prévia, em que “um tutor da indústria cinematográfica” sensibiliza essas crianças e jovens para os aspetos que devem ter em conta na análise das diferentes obras.
“Aí explicamos-lhes que devem estar atentos a questões como a componente visual e estética do filme, a mensagem que ele pretende passar, a clareza da narrativa e o processo de identificação com as personagens”, diz Filipe Pereira.
Os filmes da categoria Sub-10 estão a ser avaliados até sexta-feira, enquanto os da secção Sub-14 serão visionados na sexta-feira e no sábado, e os da rubrica Sub-18 são escrutinados na sexta, sábado e domingo.
Filipe Pereira revela que a maioria dos elementos destes júris são de Espinho, por assim ser “mais fácil às famílias garantirem a presença dos jovens em todas as sessões necessárias”, e afirma que este formato específico de participação no festival conta com o apoio da autarquia, cuja Divisão de Educação divulga a experiência nas escolas do concelho.
“Agora é o quinto ano em que fazemos isto, mas no início foi preciso um finca-pé muito grande, porque havia muita resistência a que implementássemos cá um formato que até aí só existia no estrangeiro, por muito que ele lá fora já tivesse sido testado com sucesso”, recorda o diretor do FEST.
O êxito do sistema deve-se ao “envolvimento” que essa participação crítica faz gerar nos jovens jurados, “que assim se sentem parte integrante do festival e desenvolvem mais a sua sensibilidade para as questões do cinema, começando a discutir filmes e outros temas da indústria de forma muito entusiasta”.
Filipe Pereira realça, aliás, que “há uma nova geração de realizadores portugueses que cresceu a ser parte destes júris” e refere como exemplo Bernardo Lopes, que, a convite do FEST, foi aos 13 e aos 15 anos testar o formato ao Giffoni Film Festival, em Itália, antes de o sistema ser aplicado em Espinho.
Agora, aos 25 anos, Bernardo Lopes reconhece que a experiência como jovem jurado veio a influenciar a sua carreira: é cineasta, produtor executivo da Promenade e, com a curta-metragem “Ivan” (2017), venceu o Prémio de Melhor Realizador no Chelsea Film Festival, em Nova Iorque, e o Prémio de Reconhecimento Especial no Laughlin Inernational Film Festival, no Nevada, também nos Estados Unidos.
“Essa participação contribuiu muito para a minha evolução porque eu era do Algarve, de um local completamente marginalizado em termos de acesso à cultura, e foi como júri que pela primeira tive oportunidade de ver filmes diferentes do que lá encontrava no circuito de cinema dos centros comerciais”, confessa o realizador à Lusa.
Bernardo Lopes diz que esse foi “o primeiro choque cultural” resultante da experiência, mas admite que também ficou impressionado com “o diálogo e a reflexão” proporcionados pelo contacto próximo com profissionais de outros países e até nomes consagrados como o do australiano Baz Lurhmann,
“É o realizador de filmes como ‘Romeu e Julieta’ [1996] e ‘Moulin Rouge’ [2001], por exemplo, e a ‘masterclass’ que lá fiz com ele foi realmente muito marcante – quando se tem 13 anos, uma experiência dessas abre-nos os horizontes e posso dizer que foi ao participar nesses júris que pela primeira vez nasceu em mim o sentido crítico do cinema”, conclui.
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